sexta-feira, maio 06, 2011

No futuro das domésticas, apagão e valorização

Valterci Santos/ Gazeta do Povo

Valterci Santos/ Gazeta do Povo / Antônia não sabia ler e agora está na quarta série: escolaridade média das domésticas subiu 1,4 ano em uma década Antônia não sabia ler e agora está na quarta série: escolaridade média das domésticas subiu 1,4 ano em uma década
trabalho

Mudanças no perfil da população devem fazer categoria encolher em algumas décadas e, com menos profissionais no mercado, empregador terá de pagar mais

Publicado em 06/05/2011 | João Pedro Schonarth


O acesso mais amplo dos jovens à educação está mudando o perfil dos trabalhadores domésticos, e no longo prazo pode provocar um “apagão” que, por outro lado, levará a uma valorização da categoria. De acordo com o estudo “Si­­tuação atual das trabalhadoras domésticas no país”, divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a média de idade das domésticas está aumentando, e a participação das jovens no total de trabalhadoras está cada vez menor.

Com mais escolaridade, as jovens perdem o interesse pelo trabalho como domésticas. Assim, quando as gerações atuais de trabalhadoras se aposentarem, haverá bem menos profissionais no mercado. “É possível pensar que, dado o processo de envelhecimento populacional e o surgimento de novas possibilidades ocupacionais para jovens trabalhadoras, o trabalho doméstico, da forma como conhecemos hoje, tende a reduzir-se drasticamente”, avalia o estudo.

Lenta evolução

As domésticas levaram cinco décadas para conseguir os mesmos direitos que boa parte dos trabalhadores brasileiros já tinham desde os anos 40.

1943 – a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que criou a maioria dos atuais direitos trabalhistas, deixa de fora as empregadas domésticas.

1972 – o trabalho doméstico remunerado é reconhecido como profissão. Entre outras definições, a lei exige idade mínima de 16 anos.

1988 – a Constituição Federal garante às domésticas salário mínimo, 13º salário e licença-maternidade de 120 dias.

2001 – as domésticas ganham seguro-desemprego e Fundo de Garantia, mas dependem da escolha do empregador.

2006 – uma nova lei garante o direito a férias de 30 dias, estabilidade para gestantes e folga nos feriados, além de proibir que o empregador desconte gastos com moradia, alimentação e higiene pessoal.

Fonte: Ipea

Salário

Renda média está abaixo do mínimo

As mulheres negras representavam, em 2009, 61,6% do total de mulheres ocupadas no trabalho doméstico. O Ipea detectou um aumento na participação deste grupo ao longo do tempo, já que em 1999 essas mulheres correspondiam a 55% do total. Além disso, de acordo com o estudo, 17% das mulheres ocupadas em 2009 tinham o trabalho doméstico como principal fonte de renda.

O salário pago às trabalhadoras domésticas no Brasil em 2009 era, em média, de R$ 386,45 por mês. Entretanto, o salário mínimo nacional, naquele ano, era de R$ 465. O Ipea mostra ainda que a renda das empregadas domésticas formalizadas era de R$ 568 por mês.

Atualmente, o piso da categoria no Paraná corresponde à primeira faixa do salário mínimo estadual, de R$ 708,14. De acordo com o Sindicato dos Empregados Domésticos do Paraná, a data-base dos trabalhadores domésticos é agosto, e por isso os valores ainda não foram atualizados. Por enquanto, profissionais desta categoria devem ganhar, no mínimo, R$ 688,50 no Paraná. (JPS)

Colaborou Elen Canto.

Natalia Fontoura, pesquisadora do Ipea e uma das autoras do documento, acredita em uma melhora na qualidade de vida dessas trabalhadoras: quando o mercado não tiver tantas profissionais à disposição, o empregador precisará pagar mais. “Hoje elas ga­­nham pouco e são discriminadas, mas no futuro a situação pode mudar. Como as jovens não tendem a entrar neste trabalho porque podem optar por melhores condições, a tendência é que elas possam ser mais valorizadas, tanto financeiramente quanto profissionalmente”, estima Natalia.

Mas, para o presidente do Instituto Doméstica Legal, Mario Avelino, as políticas públicas adotadas pelo Estado não dão condições para uma maior formalização e, por consequência, um aumento da renda e da qualidade de vida das trabalhadoras. “O governo é míope em relação a essas trabalhadoras, são necessárias políticas públicas urgentes para que haja um movimento de regularização. Essas profissionais são discriminadas pelo próprio governo, que estimula a ilegalidade”, critica Ave­lino. Ele considera que, como a oferta dessas profissionais tem diminuído e a demanda aumentado, a tendência é de que elas passem a receber por hora de trabalho. “Isso é o que já acontece em países desenvolvidos”, salienta.

Uma das medidas do governo para aumentar a formalização, a medida que permite ao empregador descontar na declaração do Imposto de Renda os gastos com contribuições à Previdência Social, não atingiu o objetivo desejado. Segundo o Ipea, a quantidade de domésticos que recolhiam para o INSS manteve a mesma trajetória de crescimento entre 1999 e 2009, saindo de 25,9% para 30,1%.

Educação

As trabalhadoras domésticas brasileiras também estão estudando mais, de acordo com o estudo. Entre 1999 e 2009 elas aumentaram o tempo na escola, que passou de 4,7 anos para 6,1 anos. Entre­tanto, esse número é muito menor que a escolaridade média das brasileiras ocupadas que não são domésticas.

Antônia Rosa Silva Santos é um exemplo desse novo perfil de trabalhadora doméstica. Aos 59 anos, ela voltou a estudar e está cursando a quarta série. Ela saiu de Cianorte, no Noroeste do Paraná, com destino a Curitiba há 13 anos. Desde então não teve nenhuma renda fixa, vivendo de pequenos serviços feitos na casa de vizinhos. “Eu trabalhava na roça e meu marido decidiu vir para Curitiba. Viemos, mas depois ele me deixou. Eu tive de cuidar dos meus cinco filhos com essas faxinas e com a ajuda de vizinhos. Eu comecei a estudar porque não tive condições quando era nova. Não sabia ler e agora posso pegar ônibus e contar dinheiro, coisas que não fazia antes”, comemora. “Nem penso em parar de estudar”, acrescenta An­tônia, que agora dá exemplo aos filhos, fora da escola.

Fonte: Gazeta do Povo

TJ diz que Urbs não tem poder de polícia

Vida e Cidadania

Sexta-feira, 06/05/2011

Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Albari Rosa/ Gazeta do Povo / Radares vigiam as ruas de Curitiba e a Urbs multa: sentença do Tribunal de Justiça abre jurisprudência para que outros motoristas multados entrem com ações Radares vigiam as ruas de Curitiba e a Urbs multa: sentença do Tribunal de Justiça abre jurisprudência para que outros motoristas multados entrem com ações
Trânsito

Decisão do Tribunal de Justiça do Paraná anula multa e obriga Urbs a devolver valor cobrado. Empresa ainda pode recorrer da sentença

Publicado em 06/05/2011 | Mauri König


O Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) reconheceu ontem, pela primeira vez, que a Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), empresa de economia mista cujo sócio majoritário é a prefeitura da capital, não pode exercer o papel de polícia na fiscalização do trânsito. Há cinco meses, o advogado Reginaldo Koga ingressou ação em primeira instância requerendo anulação de multa aplicada pela Urbs. A ação fundamentou-se na decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que tira da BHTrans a responsabilidade pela fiscalização do trânsito em Belo Horizonte. A Urbs tem situação jurídica idêntica à instituição mineira. O Juizado Especial da Fazenda Pública julgou improcedente a ação de Koga, mas a decisão foi reformulada ontem pela 1.ª Turma Recursal do TJ-PR.

A decisão do TJ declara a nulidade do auto de infração e ordena o ressarcimento do valor da multa. Ela tem efeito somente para o cliente representado por Koga, mas abre um precedente jurídico ao colocar em xeque o poder de fiscalização da Urbs. Em tese, outros motoristas podem se basear na decisão para também recorrer das multas, questionando a delegação do poder de polícia a pessoa jurídica de direito privado. O motorista em questão foi multado por excesso de velocidade no dia 17 de agosto de 2008, na Rua Velcy Bolívar Grando, no bairro Uberaba, às 23h53. A multa, gravíssima, no valor de R$ 574, tinha gerado a suspensão do direito de dirigir.

Nenhum representante da Urbs ou do município acompanhou a sessão do julgamento no TJ. A assessoria da Urbs informou que não se pronuncia sobre questões das quais não tenha sido notificada. Contudo, cabe recurso à empresa. Ela pode, por exemplo, ingressar com um embargo de declaração no próprio TJ-PR ou com um recurso extraordinário no Supremo Tribunal Federal (STF). No caso de Belo Horizonte, a BHTrans entrou com o recurso no STF contra a decisão judicial que lhe tirou o direito de fiscalizar o trânsito na capital mineira. O caso ainda não foi julgado.

Apuração

Vereadores do PDT repensam apoio a CPI

A discussão sobre a assinatura para instalação da CPI dos Radares na Câmara Municipal de Curitiba esfriou dentro do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Ontem, estava marcada uma reunião com a executiva estadual do partido em que seria tratado o tema. O presidente municipal do partido, Wilson Picler, disse que os três vereadores do PDT iriam assinar a CPI, mas teriam percebido uma jogada política. “Alguns vereadores, entre eles do PSDB, estavam jogando para torcida. Assinaram a CPI e depois retiraram”, explicou – citando a decisão dos vereadores Jair Cézar, Professor Galdino (ambos do PSDB) e Denílson Pires (DEM). Picler contou que os vereadores Roberto Hinça e Tico Kuzma estão dispostos a assinar “desde que seja dentro de um processo sério”. Na reunião feita no início desta semana, os militantes do partido aprovaram uma moção solicitando que os três vereadores do PDT assinassem a CPI dos Radares.

Sem lucro

A decisão do STJ, de que empresas de capital misto não podem ser responsáveis pela fiscalização do trânsito, criou jurisprudência. Professor de Direito Administrativo da Universidade de São Paulo (USP), Gustavo Justino de Oliveira explica que por ser uma atividade típica de estado, uma entidade semiprivada não pode exercer o poder de polícia e fiscalizar o trânsito. Já para o doutor em Direito Admi­­nis­­trativo pela PUC-SP e coordenador do mestrado em Direito do Unicuritiba, Daniel Ferreira, uma empresa como a Urbs não poderia exercer o poder de polícia e menos ainda multar. As sanções administrativas não devem pretender lucro.

Na análise de Koga, a importância do assunto pode ser medida pela celeridade com que o processo tramitou na Justiça. Foram 140 dias desde o ingresso da ação em primeira instância até a reformulação da decisão pela 1.ª Turma Recursal do TJ-PR. “É um exemplo para os tribunais de outros estados”, considera. Sobre um eventual caos no trânsito, caso a Urbs seja impedida em definitivo de fiscalizar o trânsito, o advogado lembra que existe a possibilidade de o município fazer convênio com a Polícia Militar, como ocorre em cidades menores do estado.

Fonte: Gazeta do Povo

Operação prende quadrilha da CNH na Paraíba

Agência Estado

Quinze pessoas foram detidas ontem, acusadas de integrar uma quadrilha que pode ter movimentado cerca de R$ 150 milhões em fraudes na emissão de Carteiras Nacionais de Habilitação (CNH) no Estado da Paraíba. A "Operação Medusa" contou com um efetivo de 200 policiais, auxiliados por membros do Ministério Público Estadual (MPE).

Entre os 15 detidos, há cinco donos de autoescolas e dois psicólogos do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). As fraudes ocorriam nas cidades de Campina Grande, Alhandra, Umbuzeiro, Sousa e Taperoá e tinham a participação também de despachantes. As carteiras emitidas de forma irregular eram vendidas em média por R$ 1,5 mil.
Fonte: A Tarde

Faixa de miséria no país é muito maior que os 8,5% do IBGE

Pedro do Coutto

Com base em levantamento do IBGE, o governo Dilma Roussef vai elaborar, ou já está elaborando, de acordo com o que anuncia a ministra Tereza Campello, do Desenvolvimento Social, um plano para erradicar a miséria absoluta no país. Claro, a tarefa é dificílima e demanda, segundo a vontade da presidente da República, pelo menos um período de quatro anos.

Entretanto, o diretor do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Eduardo Nunes, como base para a jornada, informa a existência de 16 milhões e 300 mil pessoas, ou 8,5% da população brasileira, abaixo da linha de pobreza. Qual o critério para tal classificação?
A renda per capita de 70 reais por mês. Absolutamente incrível. Mesmo levando-se em conta que tal valor decorre da divisão da renda familiar pelo número de seus integrantes. Como a média é de 3,3 pessoas por unidade, como o próprio IBGE divulgou nacionalmente há poucos dias, verifica-se que são miseráveis os que conseguem perceber por mês cerca de 240 reais. Basta multiplicar 70 por 3,3 para, segundo as lentes do IBGE, fotografar-se a miséria. Esta parcela não chega a obter meio salário mínimo, 545 reais em vigor no país. O que se conclui? Que o nível de miséria, o nível real, é muito maior que a percentagem de 8,5% do total de habitantes.

Pois como é possível alguém viver com 70 reais? O salário mínimo é de 545. E abrange, de acordo com o próprio IBGE, 27% da mão de obra ativa nacional. Não tem cabimento considerar-se que o Brasil reúna apenas 16,3 milhões de miseráveis, se 52% dos que trabalham ganham mensalmente até 2 salários mínimos. E a parcela amplamente majoritária daqueles cujos salários alcançam até 3 pisos é de 61%. O contingente de miséria só pode ser, pelo menos, o dobro da escala de 16,3 milhões de pessoas. Ou seja: 17% do total de habitantes.
Todos devem ler a reportagem de Marta Salomon, O Estado de São Paulo de quarta-feira 4, sustentada por ótima edição gráfica, para fixar uma noção clara e ampla do quadro social brasileiro. Não se pode brigar com os fatos e contestar uma realidade que se afirma sensível e perceptível aos olhos da maioria pensante. Pois se no país 45% dos domicílios não possuem rede de esgoto nem sistema de fossas sépticas, a miséria não pode englobar apenas 8,5%. Se assim fosse, o índice percentual das moradias com sistema sanitário seria muito maior do que é.

O esforço a que se propõe a presidente Dilma Rousseff é louvável e positivo. Uma questão inclusive de consciência e de responsabilidade humana. Mas tem que se voltar para um número muito maior de pessoas do que o estimado pelo IBGE. Caso contrário, não estará operando um universo real. E sim virtual, para se usar a linguagem moderna, a do universo da informatização.

O déficit de esgotos é enorme. O de água tratada também. Quatorze por cento dos brasileiros não contam com ela. Surge uma fonte de doenças, inclusive contagiosas, em consequência. E o déficit de residências? Muito grande, inclusive no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. São doze milhões de unidades no país, pelo menos, envolvendo em torno de 40 milhões de habitantes.

O quadro real da miséria, da pobreza, da carência intensa, é muito mais amplo do que parece e se anuncia. Muito profundo. A miséria, na qual percentagem acentuada da população está submersa, tem implicações negativas muito profundas. Em suas raízes, evidentemente, está a fome, gerando desespero e desesperança. Qual o peso destes fatores?

Fonte: Tribuna da Imprensa

Não dá para julgar os outros

Carlos Chagas

Aparício Torelli, gaúcho, estudante de Medicina em Porto Alegre, logo ganhou horror à profissão que escolhera. Preferia muito mais a boemia e o jornalismo. Mesmo assim, compareceu às provas iniciais, inclusive aquela vetusta e medieval prova oral, quando o aluno se apresentava perante a banca de três engalanados professores, instalados num tablado que os deixava em nível bastante superior, olhando de cima o infeliz que iriam sabatinar.

Os demais colegas tinham que assistir em silêncio o sacrifício, apavorados porque a vez deles ia chegar. Aporelli, como ele já se assinava em artigos humorísticos, recebeu uma saraivada de indagações feitas pelo presidente da banca, de colarinho duro e sobrecasaca, pois o ano era de 1928.

Não respondeu nenhuma, incompatibilizado que estava com os livros. Humilhado, ouviu o mestre catedrático dirigir-se a um contínuo postado às suas costas, ordenando: “Seu José, traga um monte de capim!”

A ofensa não poderia ser pior, diante da classe inteira. Foi quando a verve livrou Aporelli do rótulo de “burro”, ao atalhar: “E para mim um cafezinho…”

Essa historinha tão galhofeira quanto verídica se conta a propósito da empáfia com que certos caciques do PSDB vêm tratando os raros companheiros ainda empenhados em conduzir o partido ao leito inaugural da opção socialista de antes. Dirigem-se a eles, os doutos do Alto Tunanato, reprovando-os e chamando-os de anacrônicos trogloditas. Exortam os bedéis a buscar feixes de capim na forma de textos e livros sobre a nova economia globalizante e neoliberal. Chegam a sustentar o fim da História e a submissão de todos à prevalência do mais forte sobre o mais fraco, ou à livre competição entre quantidades e valores desiguais.

Está faltando um Aporelli para, nesse instante, pedir também, à maneira do cafezinho, um exemplar de “O Capital”, da Karl Marx…

***

ENTRE SEM BATER

Para continuar no universo de um dos mais completos jornalistas registrados em nossa crônica, vai outro episódio singular. Integrando as tropas gaúchas que tomaram de assalto o Rio e o país, com a Revolução de 30, Aparício Torelli logo desligou-se da horda de centauros instalada no governo e passou a praticar a mais contundente forma de jornalismo jamais registrada no planeta: o humorismo.

Lutava com dificuldade para manter suas publicações, uma delas “A Manha”, que se contrapunha ao “Correio da Manhã” e botou a imaginação para funcionar.
Naqueles tempos bicudos em que o poder militar mesclava-se ao pretenso poder civil de Getúlio Vargas, ficou sabendo da existência, numa das favelas do Rio, do célebre Almirante Negro, que no começo do século liderara a revolta da Armada e humilhara os poderes constituídos, até ser miseravelmente traído pelos próprios. Depois de sofrer horrores e de ficar perturbado da cabeça, o ex-cabo João Cândido morava de favor no alto de um morro, esquecido e abandonado.

Já então se intitulando o “Barão de Itararé”, em homenagem à batalha que não houve, na divisa do Paraná com São Paulo, Aporelli aproximou-se do ex-herói e, em seus momentos de lucidez, foi recolhendo espetacular e verdadeiro depoimento sobre a revolta dos marinheiros, que puseram de cócoras o Rio de Janeiro e o governo Hermes da Fonseca.

A antiga capital federal entrou em convulsão quando apareceu publicado o primeiro capitulo do que seria uma longa série de reconstituições de nossa História. Não mais os vencedores a estavam escrevendo, deturpada e mentirosa. Era a versão dos vencidos.
Não se passaram 24 horas quando a pequena sala onde Aporelli trabalhava, na Avenida Rio Branco, viu-se invadida por um grupo de oficiais de Marinha. Ele foi agredido, seqüestrado e levado para um ermo do antigo Distrito Federal, que nem se chamava Barra da Tijuca, naqueles idos.

Quase nu, amarrado a um poste, viu-se obrigado a engolir as páginas de sua reportagem inicial. Libertado pela benesse de alguns pescadores, logo retornou às atividades jornalísticas, mas, por cautela, suspendeu a série de reportagens mal iniciada, que décadas depois levou para o túmulo sem revelar o conteúdo.

Mas vingou-se. Na porta de seu modesto gabinete, mandou afixar uma placa: “Entre, sem bater”…

Registra-se também um paralelo entre a lição do passado e o tempo presente. Será por conta da infausta experiência do Barão que o PT desistiu de compilar em livro o sacrifício dos companheiros que nos tempos bicudos da ditadura tiveram de engolir, e muito mais, sofrer por conta de sua resistência? Ficando em silêncio até hoje?

***�

AQUELE MALDITO CAFEZINHO

Melhor continuar como mesmo personagem. Deflagrada a ditadura do Estado Novo, em 1937, a aparência era de que Getúlio Vargas transformara-se no grande ditador, responsável por tudo o que de horror acontecia no país em matéria de tortura, censura, lesão aos direitos humanos e sucedâneos. Claro que era, apesar dele preocupar-se muito mais com a legislação trabalhista e a concessão de direitos sociais ao povão, das férias remuneradas à estabilidade no emprego, da jornada de oito horas aos institutos de previdência social e à organização dos trabalhadores em sindicatos.

Aparício Torelli sobrevivia, mas depois do golpe passou a frequentador assíduo das delegacias de polícia e cárceres variados. Já pertencia ao Partido Comunista e continuava exercendo a única profissão a que se dedicou por toda sua longa vida, o jornalismo.
Certa feita encontrava-se redigindo-se um de seus artigos de crítica ao regime quando sentiu falta de um cafezinho. Desceu até o botequim mais próximo e estava para sorver a xícara quando uma poderosa mão assenta-se sobre seu ombro e um investigador de polícia dá-lhe voz de prisão. Conduzido à Penitenciária da rua Frei Caneca, surpreende-se porque os dias se sucedem, na cela, sem que tenha sido interrogado, maltratado ou processado.

Passam-se as semanas, até os meses, e nada. Num daqueles surtos de falsa liberalidade que marcam todas as ditaduras, e diante de denúncias que corriam de boca em boca, sem a participação da imprensa censurada, o Supremo Tribunal Federal decide investigar lesões praticadas contra os direitos humanos pelos esbirros da ditadura.

Chega à cela do Barão o ministro Castro Nunes, sequioso de perscrutar apenas uma parte da violência verificada contra cidadãos presos sem culpa formada e indaga: “Sr. Aparício, pode me dizer por que está preso?”

A resposta foi fulminante: “Pensei que o senhor é que me informaria da supressão de minha liberdade.”

Estabeleceu-se um daqueles momentos surrealistas que depois de algum silêncio foi cortado por Aparício Torelli, para satisfação do ministro: “Só posso supor uma hipótese!”

A atenção foi total, uma das páginas obscuras da ditadura poderia ser revelada, e o Barão completou: “Foi por causa daquele maldito cafezinho! Eu estava pronto para tomá-o quando um policial impediu-me, levando-me preso. Será o cafezinho a mais evidente prova da subversão no país?…”

Pois é. Assim se encontra o PMDB, ávido de conquistar cada vez mais cargos e funções no segundo escalão do governo, mas colocado de quarentena sem saber o porquê o gelo recebido do palácio do Planalto. Qualquer dia um peemedebista encontrará a explicação: “porque queremos colaborar com o governo…”

Fonte: Tribuna da Imprensa

Os chamados “casais gays” tiveram sorte. O relator da oficialização dos seus direitos foi o ministro Ayres Brito. Que voto, maravilhoso no texto e no conteúdo, aprovado por UNANIMIDADE.

Helio Fernandes

A questão poderia ter sido decidida anteontem, quarta-feira, na sessão plenária habitual, resolveram adiar o julgamento para ontem, quinta-feira. Justificativa: “Um dos ministros não estava presente”. Inacreditável.

A sessão de ontem começou muito tarde. Os senhores ministros entraram no plenário precisamente às 14,34. Como depois do relator, votam os ministros de nomeação mais recente, passou a votar o ministro Luiz Fux.

Começou meio reticente, mas quando terminou, 38 minutos depois, havia dado um voto de alta qualidade. Chamou os que pleiteavam um direito legítimo, de homoafetivos, forma delicadíssima de identificá-los. E ao encerrar, falou: “Voto INTEGRALMENTE acompanhando o voto belíssimo do ministro Ayres Brito, exemplo de magistrado e de homem”.

Se pudessem, aplaudiriam de pé, no exato momento em que votava a ministra Carmem Lucia. Seu voto foi magistral, só que num trajeto totalmente diferente de Fux, sem qualquer discordância. É que ela acentuou a violência que é cometida contra os que pretendem viver da maneira que consideram que lhes dará felicidade.

Quando Carmem Lucia estava votando, foi interrompida pelo ministro Gilmar Mendes, que usou 9 minutos que não eram dele. Sua vez de votar seria bem depois, mas não aguentava ficar em silêncio.

A ministra continuou seu voto, depois da extravagante obstrução da egolatria evidente. Votou elogiando Ayres Brito, e garantindo que os chamados de “gays têm o direito de viverem sexual, sentimental, e como quiserem procurar a felicidade”. 18 minutos magníficos e positivos.

Às 15,47 começava a votar o ministro Lewandowski, que disse logo: “Votarei de acordo com o relator, Ayres Brito, com algumas considerações”. Só que levou 12 minutos para concordar inteiramente com o relator. As “considerações” que fez, não alteraram o voto, e se manifestou a favor dos homoafetivos.

Às 16,10 passava a votar o ministro Joaquim Barbosa, citando um jurista de Israel, inteiramente desconhecido. Mas no encaminhamento, deixou bem claro como votaria, ao definir: “O direito dos homoafetivos é rigorosamente igual ao direito dos heteroafetivos”. Magnífico, seu voto poderia ter a duração que tivesse, mas não seria contrário ao que relatou magistralmente, o ministro Ayres Brito.

Elogiou “o brilhante voto de Ayres Brito”, e citou duas vezes (muito justamente), o professor-advogado Luiz Roberto Barroso. Levou apenas 8 minutos para respeitar o direito, que o preconceito e a intolerância tanto perseguem.

Às 16,25 a sessão foi suspensa. Faltavam votar 5 ministros, e é preciso registrar, com antecedência, o ministro Dias Toffoli comunicou que estava impedido de votar. Como não é necessária explicação para o alegado impedimento, ficaram 10 ministros.

A sessão foi reaberta às 17,15 já com Gilmar Mendes votando. É num momento desses que lamento ter que acompanhar o ministro, um cansaço. Em determinado momento, me dá razão, ao dizer: “Abrindo o texto constitucional” e mostra a Constituição. Aí todos entendem o que o ministro pretendia falar: “Abrindo a Constituição”. Bem diferente.

Na verdade, Gilmar Mendes jamais vota, “dá aula”. Foi o que aconteceu. Lembrou ERRADAMENTE o divórcio, “que por ironia foi aprovado por causa do pacote de abril”.

Quanta besteira, Manuel Bandeira, não houve ironia ou coincidência. O senador Nelson Carneiro já havia ganho a votação três vezes, por maioria simples. Só que a Constituição exigia dois terços. Como Geisel era pragmático, não tinha fé, esperança, convicção, era duramente criticado pela Igreja e a CNBB, resolveu se vingar.

Deixou a reforma constitucional com o quorum apenas de maioria, Nelson Carneiro aproveitou e imediatamente apresentou o projeto que foi logo aprovado. Todos sabiam que foi uma jogada do “presidente Geisel”, só Gilmar Mendes não percebeu.

E sem que represente elogio, foi enorme avanço, o Brasil se equiparava ao que já existia no mundo todo. O DIVÓRCIO, muito diferente e POSITIVO, longe do DESQUITE, aberração NEGATIVA.

Às 18 horas, cravadas, Gilmar afirmava: “Estou de acordo com o voto do relator”. Mas não acabou e usou mais 17 minutos para falar das “surpresas e preocupações” como esse “matrimônio”. Com isso completou 1 hora e 20 minutos, o que chamou de “breves considerações”. Como alguns riram, reconheceu, “não tão breves assim”.

Às 18,20 começou a falar a presidente Ellen Gracie, usou apenas 2 minutos, “pedindo para que seu voto escrito fosse publicado”.

Marco Aurélio Mello também levou voto escrito, ele mesmo ressaltando que “isso, nele, é quase inédito”. Fez considerações verbas, dessas não conseguia escapar e não queria mesmo. Assim mesmo, Marco Aurélio falou 43 minutos, diretos, não parou nem para beber um pouco dágua.

Às 19,17 começou a votar o decano, Celso de Mello. Seu voto, como de todos, longo, tem uma definição majestosa: “São irrelevantes as opiniões da Igreja, condenando essa ligação homoafetiva”.

E dando ainda mais ênfase à definição, amplia: “Mesmo se a opinião da Igreja fosse unânime, ainda aí, seria irrelevante”. Insistiu acima de tudo “no DIREITO das MINORIAS, que não podem ficar restritas à vontade das maiorias”.

***

PS – Finalmente votou o presidente, com duas observações excelentes. 1) Chamou de ILUMINADO o voto do relator Ayres Brito. 2) Elogiou “a vontade e a decisão consensual do Supremo”.

PS2 – O Supremo apagou possíveis erros ou equívocos. Amanhã ou domingo, analiso essa decisão histórica, que vem restabelecer o direito à vida e à felicidade, como quase todos os ministros ressaltaram.

Fonte: Tribuna da Imprensa

O assunto Bin Laden é inesgotável. Tanto quanto o terrorismo. Bin Laden morreu? Se isso aconteceu, o terrorismo ganhou vida longa. Junto com “maquiavelismo” de Obama?

Helio Fernandes

Em 1961, tomando posse no dia 20 de janeiro (data que era utilizada pela primeira vez desde a emenda constitucional de 1952), o presidente Kennedy, contra a vontade, teve que invadir Cuba, no que se chamou de ataque da “Baía dos Porcos”.

Não pôde recusar. A derrota levou-o ao desespero, principalmente por ser público que não apoiava o ataque. Os jornalões não puderam publicar coisa alguma, apesar da EMENDA NÚMERO 1.

Agora, querendo mostrar que é todo-poderoso e que faz o que bem entender, Obama se recusa a mostrar o corpo de Bin Laden. Diz: “As fotos são horrorosas”, vai haver “comoção do público nos EUA”. Só pensou no povo americano, e o resto do mundo?

Logo depois, numa outra mistificação, divulgou: “Os membros da al-Qaeda podem acreditar que é provocação, se julgarem na obrigação de fazer retaliação imediata”. Só imediata?

Já escrevi que haverá retaliação, mas provavelmente não será imediata, podem ou devem querer manter o medo num suspense mais do que intranquilizador. E as autoridades americanas contribuem para aumentar essa sensação de angústia, tensão, a incerteza do que pode acontecer.

A Secretaria Nacional de Segurança afirmou publicamente: “Estamos reforçando todos os pontos prováveis de acesso de terroristas, principalmente aeroportos”? Mais? Um chanceler brasileiro foi obrigado a tirar os sapatos. Agora com a segurança reforçada, terão que tirar a roupa?

A Secretaria duvida do presidente, ou pensa (?) diferente? Obama pediu “cautela” a americanos no exterior, a trabalho ou passeio. Com isso aumentou o risco, e quase acertou, pois provavelmente, pelo menos inicialmente, a retaliação não precisa ser feita dentro dos EUA. É o que deve acontecer.

Assim que “determinou” onde Bin Laden estava com a “complacência” do Paquistão, Obama deu a ordem: “Tem que ser morto, não pode ser preso, isso seria um desastre para os EUA”. Aí teve, digamos, a intuição certa. Preso vivo, teria que ser levado a julgamento lá mesmo no país.

Sem dúvida, esse seria o JULGAMENTO DO SÉCULO, tudo o que al-Qaeda precisava, pretendia e esperava. Dentro do quadro da ilegalidade, a determinação, “Bin Laden não ser preso vivo”, perfeitamente coincidente e compreensível. Surgiriam dezenas ou centenas de advogados de todas as partes do mundo, sem esquecer dos que vivem e advogam nos EUA.

Obama está sofrendo pressão para mostrar as fotos e imagens dos fatos, que aconteceram ou “aconteceram”? Resiste de todas as maneiras, foi categórico: “Nada será mostrado”. Falou então que as fotos são “horrorosas, ninguém resistirá à exibição?

Afinal, o que fizeram com o corpo do terrorista? Amigos dos EUA me contam o que se especula: Bin Laden estaria sem cabeça, o corpo tão desfigurado, que justificaria a palavra usada, “horrorosa”. (Tudo é parte da especulação, o que não é proibido. Obama foi um dos primeiros a ver as fotos, garantem que nesse momento decidiu manter tudo longe do alcance do público).

Apesar de todas as ilegalidades, Obama não pode praticar mais essa de se recusar a liberar fotos e imagens do episódio que terminou com a morte do terrorista procurado há 10 anos. É a própria Constituição que não dá esse direito a Obama, mesmo que se considere distorção usar a palavra “direito”.

A Suprema Corte, em 1974, no caso Watergate, decidiu: “As fotos e as imagens não pertencem ao presidente e sim à coletividade”. A situação de agora tem toda a semelhança (e ainda maior repercussão) com o fato que levou à renúncia de Nixon. Estabelecendo pela primeira vez nos Estados Unidos um governo com presidente indireto (Gerald Ford, presidente da Câmara) e o vice Nelson Rockefeller, escolhido por ele (também, indireto).

Aliás, a Tribuna da Imprensa, há 37 anos, foi o primeiro jornal do mundo a prever que “Nixon não resistiria e renunciaria”. Matéria do correspondente Paulo Francis, o primeiro jornalistas a fazer coluna diária, de um país para outro, sem a fantástica tecnologia de agora.

O procurador-geral acusou o presidente Nixon de “obstrução à Justiça”. A arguição chegou à Suprema Corte no dia 8 de julho, a decisão (em 25 laudas) foi publicada no dia 24 do mesmo julho, 16 dias, comparem com a Justiça brasileira.

Não acreditem na afirmação do diretor-geral da CIA; “O endereço onde estava Bin Laden, foi obtido depois de prolongadas sessões de tortura, com os mais diversos prisioneiros. Tortura efetiva e tortura simulada, como confessou.

Pode ser verdade ou mentira, a CIA adora aparecer como corrupta e torturadora. Qual o órgão que confessa publicamente que TORTURA? A não ser que seja arrogante, prepotente e sem princípios como a CIA.

***

PS – O presidente Obama “homenageou” as vítimas do 11/9. Não foi bem homenagem aos 3 mil que morreram, mas quase um apelo aos 30 milhões que devem votar na tentativa de reeleição, no ano que vem.

PS2 – Tanto isso é verdade, que convidou, PESSOALMENTE, o ex-presidente Bush. Ele disse que gostaria de ir, “mas não estou saindo de casa, vou ver”.

PS3 – Só que como tudo se sabe, a direção do Partido Republicano logo se comunicou com ele, dizendo: “Você é Republicano, não pode estar aparecendo ao lado de um presidente Democrata, em plena campanha”.

PS4 – Bush não foi, Obama lamentou. O que eu chamei de REVERSÃO DA SUA POPULARIDADE, ele sentiu que está acontecendo. A CIA pode adorar TORTURA, mas o cidadão tem horror a isso.

Fonte: Tribuna da Imprensa

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Supremo aprova união gay por unanimidade

Folha de S.Paulo

BRASÍLIA - Em julgamento histórico, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu ontem, de forma unânime, que não há diferença entre relações estáveis de homossexuais e heterossexuais. Os ministros disseram que ambas formam uma família.

A decisão dá a casais gays segurança jurídica em relação a direitos como pensão, herança e compartilhamento de planos de saúde, além de facilitar a adoção de filhos.
Mesmo assim, os casais podem ter de ir à Justiça para ter tais direitos reconhecidos.

A decisão permite ainda que o Congresso regulamente alguns temas, como casamento civil entre homossexuais.

Em dois dias de julgamento, o tribunal julgou procedente duas ações que pediam a equiparação das uniões homoafetivas à união estável entre heterossexuais.

Sete ministros disseram que os casais gays possuem os mesmos direitos e deveres. Neste sentido votaram o relator, Carlos Ayres Britto, e os colegas Luiz Fux, Cármen Lúcia, Joaquim Barbosa, Ellen Gracie, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello.

"Por que o homossexual não pode constituir uma família? Por força de duas questões que são abominadas pela Constituição: a intolerância e o preconceito", afirmou Fux.

Os ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Cezar Peluso, apesar de também reconhecerem a união gay, fizeram algumas ressalvas.

Peluso, por exemplo, afirmou que a decisão não encerra todos os temas, que precisarão ser regulamentados pelo Congresso Nacional. "A decisão convoca o Poder Legislativo para colaborar com o Supremo Tribunal Federal."

Apesar de não ter tratado dessas questões específicas e polêmicas, como o casamento civil ou a adoção, o voto majoritário possibilita a realização de tais práticas por casais gays, exatamente por iguala-los, sem qualquer restrição, aos heterossexuais.

"A equiparação [entre homossexuais e heterossexuais] é para todos os fins e efeitos, mas o legislativo está livre para fazer o que quiser. Foi um abrir de portas para a comunidade homoafetiva, mas não um fechar de portas para o Legislativo", disse Britto.

Diferentemente de sessões recentes, como o caso da Lei da Ficha Limpa, ministros concordavam entre eles. Alguns magistrados ficaram emocionados, como Ayres Britto e Luiz Fux, que chegou a embargar a voz.

Fonte: Agora

Justiça decidirá revisão pelo teto no posto

Gisele Lobato e Luciana Lazarini
do Agora

O MPF (Ministério Público Federal) entrou ontem com uma ação civil pública pedindo que o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) pague a revisão pelo teto nos postos a todos os aposentados que têm direito, sem a necessidade de o segurado fazer o pedido.

Antes de entrar com a ação na Justiça Federal, a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão em São Paulo, ligada ao MPF, deu prazo para o INSS responder se faria a correção no posto. Na última terça, o INSS disse que já estava se preparando para revisar os benefícios, mas não determinou um prazo para isso.

Ontem, em reunião, o Sindicato Nacional dos Aposentados da Força Sindical e o procurador Regional dos Direitos do Cidadão em São Paulo, Jefferson Aparecido Dias, decidiram entrar com a ação civil pública, pois consideraram a posição do INSS insuficiente.

Leia esta reportagem completa na edição impressa do Agora nesta sexta

quinta-feira, maio 05, 2011

Nos jornais: Durval Barbosa é suspeito de pedofilia

CORREIO BRAZILIENSE

Durval suspeito de pedofilia
Para conseguir redução da pena em vários processos a que responde por corrupção, Durval Barbosa se valeu de uma delação premiada. Agora, está ameaçado de ir para a cadeia sob a acusação de pedofilia, crime hediondo, no qual não cabe nenhum tipo de acordo com a Justiça. Desde fevereiro, tramita investigação aberta pela Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente (DPCA) com base em denúncia feita pela empresária Fabiani Christine Silva Barbosa Rodrigues, ex-mulher de Durval. Foi instaurado um processo na 6ª Vara Criminal de Brasília em que a principal testemunha da Operação Caixa de Pandora, com a atual mulher, Kelly Christina Barbosa Rodrigues, é acusada de violência sexual. Fabiani sustenta que seu ex-marido e Kelly abusaram de duas crianças. Um laudo elaborado por psicólogos da 1ª Vara da Infância e da Juventude (VIJ) concluiu que elas assistiram e participaram de atividades sexuais de Durval e da mulher.

Kelly, sem que tenha havido, de acordo com as investigações, “penetração completa, mas com fortes indícios de toques ou tentativa de penetração” em uma das supostas vítimas. O Correio teve acesso ao laudo, que tem 44 páginas e é sigiloso. O documento relata os fatos narrados por 21 testemunhas, em 26 depoimentos colhidos pela Justiça, entre os quais os das próprias crianças. A reportagem também obteve um parecer técnico apresentado pela defesa de Durval desqualificando a denúncia de crime sexual.

Na investigação que compromete Durval e Kelly, as supostas vítimas foram ouvidas pelos psicólogos Viviane Amaral dos Santos e Reginaldo Torres Alves Júnior, dois especialistas que atuam no Centro de Referência para Proteção Integral da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Sexual do Tribunal de Justiça do DF. Os profissionais que assinam o laudo usaram uma técnica própria para lidar com casos de violência sexual contra crianças na primeira infância. Nessa fase, segundo especialistas, é difícil para uma vítima tão inocente compreender os fatos e relatá-los com precisão.

Pizza para Jaqueline já tem dois fregueses
Cresce na Câmara dos Deputados movimento para livrar Jaqueline Roriz (PMN-DF) da cassação. A parlamentar tem procurado membros do Conselho de Ética e Decoro e outros colegas para apresentar a defesa sobre as acusações que pesam contra ela. O resultado tem começado a surgir. Na sessão de ontem do colegiado, dois deputados demonstraram insatisfação com o curso das investigações. Os peemedebistas Mauro Lopes (MG) e Wladimir Costa (PA) questionaram a competência da Câmara para julgar atos cometidos antes do início do mandato, como é o caso das denúncias apresentadas contra Jaqueline. Outros conselheiros denunciam pressão no plenário para evitar a condenação da parlamentar. Hoje, às 9h30, a Mesa Diretora aprecia parecer do corregedor, Eduardo da Fonte (PP-PE), que pedirá a abertura de novo processo administrativo devido a indícios de quebra de decoro.

O receio de boa parte dos deputados é a abertura de precedente considerado perigoso por eles. O que está sendo colocado em jogo não é apenas o futuro político de Jaqueline Roriz — uma figura desconhecida para muitos deles —, mas a possibilidade de punir um deputado por delitos cometidos no passado. “Não é da nossa competência julgar um ato de 2006. Ela (Jaqueline) era cidadã comum, não pertencia à nossa Casa. Nem distrital era. Ela não era nada”, afirmou Mauro Lopes durante a sessão. A argumentação do peemedebista está em sintonia com as alegações do memorial entregue, na véspera, pela deputada.

E o Código deu um nó
As divergências em torno do novo Código Florestal inviabilizaram a votação marcada para ontem. O governo não se entendeu com o relator da matéria, Aldo Rebelo (PCd0B), e os próprios representantes do Planalto escalados para negociar com o Congresso apresentaram saídas distintas para resolver os impasses. Sem consenso, o jeito foi adiar para a próxima terça-feira a votação da matéria. Um prazo considerado insuficiente para acalmar os ânimos e possibilitar negociações. Apesar das ameaças da tropa palaciana de que a falta de consenso resultaria numa enxurrada de emendas parlamentares para adequar o texto aos interesses do governo, tentou-se até o último instante um acordo para a questão das áreas consolidadas em regiões que deveriam estar preservadas e também para a dispensa de reserva legal em pequenas propriedades.

Aldo insiste na tese de que propriedades de até quatro módulos fiscais devem ficar dispensadas da obrigação de recompor reserva legal. O governo discorda. Quer esse direito apenas para a agricultura familiar. O ponto que causou divergência até entre ministros que negociavam no Congresso se refere ao trecho do relatório que abre brechas para áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente (APPs): são regiões já cultivadas e que, pelo texto, não precisarão recompor a vegetação. O governo, ou parte dele, acha que isso abre espaço para a monocultura nas APPs.

Durante as reuniões de ontem, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, não se mostrou resistente ao trecho, enquanto a ministra do meio Ambiente, Izabella Teixeira, tinha postura mais radical. As diferenças entre representantes do Executivo foram notadas durante as reuniões com os líderes. Apesar disso, Rossi disse que não há divergências e que a ideia é costurar acordos para que a base vote unida. “Esse é o último ponto de divergência. O governo deve atender ao reclame da base”, disse.

Senado já tem relator
O novo Código Florestal ainda estava em debate na Câmara quando o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), afirmou ao Correio que o senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC) será o relator da proposta na Casa. “Ele é do PMDB e, por isso, foi escolhido. Será um excelente relator”, avisou.
Luiz Henrique, entretanto, não selecionado simplesmente por ser do partido. Em abril de 2009, quando era governador de Santa Catarina, ele sancionou o Código Ambiental do estado, que reduzia a mata ciliar em relação ao Código Florestal. O atual texto em análise na Câmara determina que o produtor rural preserve pelo menos 30 metros em cada margem de rios e córregos. A intenção do relator, Aldo Rebelo, era reduzir esse espaço à metade em alguns casos.

O código catarinense aprovado em 2009 foi mais benevolente: para propriedades acima de 50 hectares, o código estadual prevê a preservação de 10m. Terrenos com menos de 50 hectares teriam a área de preservação reduzida a 5m.

Embate ministerial
Da mesma forma que no governo Luiz Inácio Lula da Silva a então ministra Dilma Rousseff se desentendeu com a antiga colega Marina Silva por conta da preservação do meio ambiente, a ministra Izabella Teixeira não se entende com o titular da Agricultura, Wagner Rossi. A comparação entre as divergências na equipe de Lula e na atual corria à boca pequena ontem à noite no plenário da Câmara, enquanto os deputados tentavam explicar por que a votação do Código Florestal terminou adiada.

Rossi não vê a hora de aprovar a proposta e, com um pé na bancada ruralista, não tem restrições quanto às áreas consolidadas, ou seja, o conceito que derruba a exigência de recuperação de floresta em áreas que já são utilizadas para plantio. Mas o Meio Ambiente não aceita. Finca pés na necessidade dessa recuperação da mesma forma que Marina Silva resistia à liberação de licenças ambientais a toque de caixa. Marina, à época, terminou perdendo o cargo ao confrontar-se com a então titular da Casa Civil. Agora, caberá à presidente Dilma arbitrar quem vai vencer essa queda de braço no Executivo, uma vez que esse é um dos temas que travou a votação do texto do novo código no plenário e, enquanto o governo estiver dividido, dificilmente o parlamento votará a proposta.

Executivo monopoliza STF
Embora o Supremo Tribunal Federal (STF) seja apontado pelos próprios integrantes como uma Corte constitucional, pesquisa divulgada ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV) indica que o STF passa longe de ser um tribunal focado na análise de temas sobre a Constituição. Os números mostram que, entre 1988 e 2010, 92% dos processos julgados não diziam respeito a esse tipo de abordagem. De acordo com os dados, 0,5% das ações originárias da Suprema Corte tratam de matérias constitucionais.

A pesquisa Supremo em Números demonstra que o Executivo é o principal usuário do STF, tanto na condição de autor quanto na de réu, sendo o responsável por 90% dos processos na Corte. Os órgãos, autarquias e empresas ligadas ao Executivo federal respondem por 68% dos casos. Os dados apontam que, juntos, Caixa Econômica Federal, União e INSS respondem por 50% dos processos em tramitação.

“Não conheço Corte no mundo que permita tantos mecanismos de acesso como o STF”, disse o jurista Joaquim Falcão, um dos coordenadores da pesquisa da FGV. Ele criticou a quantidade de formas pelas quais se pode acionar o Supremo. São 37 ao todo, sendo que, desde 1988, 52 formas diferentes já foram usadas para ingresso de ações — algumas já extintas. “Hoje são 37. É como se fosse uma casa em que todos os dias à noite é necessário fechar 37 portas”, comparou.

Dilma adota ritmo mais leve no Alvorada
Desde que teve um foco de pneumonia diagnosticado no pulmão esquerdo, há uma semana, a presidente Dilma Rousseff diminuiu o ritmo de atividades da Presidência e segue despachando, somente com ministros, no Palácio da Alvorada, residência oficial do governo. O período de repouso recomendado pelos médicos e acatado pela petista chama a atenção por causa da reconhecida fixação de Dilma pela rotina de trabalho.

A previsão inicial era de que Dilma deveria permanecer em casa ao longo desta semana, dando continuidade ao tratamento com antibióticos até a próxima segunda-feira. O repouso, no entanto, será interrompido hoje para que ela receba o presidente da Alemanha, Christian Wulff. A visita do alemão começa no Palácio do Planalto e continua com um almoço no Palácio do Itamaraty. Até o fechamento desta edição, a presença de Dilma estava confirmada para os dois compromissos. Depois disso, porém, ela deve retornar para a rotina mais leve no Alvorada.

Aos que têm participado de reuniões na residência oficial, a presidente Dilma afirma que está se recuperando bem e já se sente melhor. Ontem, pela manhã, ela recebeu os ministros Antonio Palocci, da Casa Civil; Guido Mantega, da Fazenda; Luiz Sérgio, de Relações Institucionais; e Miriam Belchior, do Planejamento. Em pauta, além da votação do novo Código Florestal, estavam restos a pagar e a Marcha dos Prefeitos, que será realizada em Brasília na próxima semana.

PEC para recompor fundos
A oposição elegeu o aumento dos combustíveis e o esvaziamento financeiro das prefeituras e estados como mote para agregar a população ao discurso de resistência ao governo. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) reuniu 61 assinaturas e apresentou, ontem, em plenário, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permite a recomposição dos fundos formados com recursos da União e utilizados por estados e municípios (FPE e FPM, respectivamente) sempre que o governo abrir mão de impostos que compõem o bolo de tributos divididos entre os entes da Federação.

Aécio usou a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide-combustíveis) como exemplo para apresentar a proposta. De acordo com o senador, o Executivo acenou com a possibilidade de reduzir a Cide para reduzir o preço da gasolina. O parlamentar do PSDB alega que o imposto é redividido entre os estados, que seriam prejudicados pela medida do Planalto. Aécio questiona a escolha do governo pelo tributo. Se o Executivo tivesse optado por cortar a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), sustenta o parlamentar mineiro, apenas a União sairia perdendo.

Além da PEC que cria o gatilho para proteger estados e municípios das medidas de isenção fiscal relativas a impostos compartilhados, o tucano também encaminhou um projeto de lei que propõe a recomposição das perdas dos entes federativos. A participação de estados e municípios no bolo de tributos arrecadados pela União caiu de 27%, em 2002, para 19,4%, no ano passado.

Procuradoria detalha pendências da usina
Um documento da Procuradoria-Geral da República (PGR) elaborado por peritos há pouco mais de um ano e apresentado em audiência na Câmara dos Deputados na terça-feira detalha os motivos para a usina nuclear Angra 2 não ter recebido, até hoje, a licença ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Autorização de Operação Permanente (AOP), que deve ser concedida pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). A nota técnica da 4ª Câmara de Coordenação e Revisão (CCR), braço da PGR responsável pelos assuntos de meio ambiente, elenca problemas na produção de efluentes líquidos, movimentação de encostas que margeiam a BR-101, indefinição na análise de dados sobre emissões radioativas e ausência de documentos que comprovem a segurança no funcionamento do empreendimento.

A Eletrobras Eletronuclear, responsável pelas usinas nucleares brasileiras, o Ibama e a Cnen, a quem cabe a atividade licenciadora, não cumpriram os acordos para sanar esses problemas firmados num Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) de março de 2001, como cita a nota técnica da PGR. Atender a todos os acordos foi a condição estabelecida no TAC para a emissão da licença pelo Ibama e da autorização permanente pela Cnen. Por essa razão, a usina Angra 2 funciona desde o início de suas atividades, há uma década, com base em autorizações provisórias, sucessivamente renovadas pelos órgãos licenciadores, conforme revelado pelo Correio em 23 de março. O episódio custou o cargo do presidente da Cnen, Odair Dias Gonçalves.

Inadimplência é um entrave
Uma solução para a dívida do ex-senador Luiz Estevão com a União começará a ser articulada na semana que vem, mas já tem ao menos um entrave. O governo federal não aceita parcelar a dívida do empresário pela Lei nº 12.249, por conta do acúmulo de dívidas com o erário que vão além dos desvios nas obras do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (TRT-SP). Pelo menos cinco empresas do Grupo OK estão inscritas na dívida ativa da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). Em apenas uma delas, a conta chega a R$ 300 milhões. Cálculos informais da Advocacia-Geral da União (AGU) apontam que o débito poderia chegar a R$ 2 bilhões, em tributos não recolhidos e multas contratuais, entre outras penalidades. Estevão garante que pretende quitar tudo.

Um acordo para o pagamento do débito, calculado em R$ 1,1 bilhão pela Advocacia-Geral da União e em R$ 465 milhões pelo empresário como o Correio mostrou ontem, será costurado por advogados, AGU e o Tribunal de Contas da União (TCU) no próximo dia 12.

Os representantes da União adiantaram que a discussão passará longe dos termos iniciais pretendidos por Estevão. A mesa de negociações reunirá o advogado de Estevão, Marcelo Bessa; o procurador do Ministério Público no TCU, Marinus Marsico; e o diretor de Patrimônio Público da AGU, André Mendonça. “É lógico que a União quer receber, mas seria um caso único no mundo de dar abatimento de uma dívida a um dos maiores escândalos de corrupção do país”, diz Mendonça, contrário ao parcelamento pela Lei nº 12.249/2010. Hoje, a União já conseguiu o bloqueio de 1.255 imóveis do Grupo OK e de empresas ligadas a Estevão, além de um terço do Shopping Iguatemi, no Lago Norte.

Parcelamento em 15 anos
O ex-senador Luiz Estevão pretende fechar a fatura com a União aderindo a um programa de financiamento proposto pelo governo federal a partir da Lei nº 12.249/2010. O dispositivo abriu a possibilidade de parcelar dívidas tributárias ou não tributárias com a Fazenda Nacional, em até 180 meses, corrigidas apenas pela taxa básica de juros do país, a Selic. Além de liberar parte dos bens do ex-senador, o parcelamento também abateria em quase 60% a dívida cobrada pela União. Estevão pagaria R$ 465 milhões, contra os R$ 1,1 bilhão cobrados pela AGU.

Os órgãos envolvidos na negociação da dívida, entre eles o Tribunal de Contas da União, já acenaram que devem negar a inscrição da dívida na lei de refinanciamento. Um acordo para abater parte do débito em troca do pagamento imediato ou parcelado será discutido na semana que vem. A conta cobrada pela União a partir da Fazenda Nacional por débitos do Grupo OK, de R$ 293,6 milhões, também poderia entrar no acordo, mas é passível de parcelamento pela Lei nº 12.249/2010.

Avaliação do Exército
Enquanto não fecha um acordo para o pagamento das dívidas com a União, o ex-senador Luiz Estevão permanece sob risco de ter os bens incorporados ao Estado para a quitação do débito. A Advocacia-Geral da União pretende avaliar o valor de todos 10 imóveis alugados pelo Grupo OK para órgãos como a Polícia Federal e os ministérios da Cultura, do Meio Ambiente e da Integração Nacional, além do Governo do Distrito Federal. A ideia é contar com os peritos nomeados judicialmente para o levantamento, mas também com técnicos da própria AGU e até a área de engenharia do Exército.

O reforço militar contribuirá para dar transparência ao levantamento. “Avaliamos pedir o auxílio, inclusive, da área de engenharia do Exército. Pretendemos dar total transparência ao processo de avaliação dos imóveis que já estão inclusive sendo utilizados pela União”, confirma o diretor do departamento de Patrimônio Público da AGU, André Mendonça. No total, Estevão aluga para a União 100 mil metros quadrados no Setor Comercial. Embora sejam patrimônio do Grupo OK, os edifícios são administrados por três empresas comandadas pelos filhos do ex-senador. Os aluguéis fazem parte da penhora determinada pela Justiça contra os bens de Luiz Estevão.

Vagas só para apadrinhados
O Senado lançou mão de um ato administrativo para “fechar” o estacionamento do Anexo I das dependências do Congresso. Depois de publicar no Boletim administrativo de março regras sobre o uso das vagas, servidores da Casa receberam, via e-mail, o complemento da norma da Primeira-Secretaria. Pelo correio interno, os funcionários foram alertados de que, a partir desta semana, somente os indicados por senadores poderiam parar os carros na área externa do edifício. Desde a segunda-feira, o espaço foi reservado para os agraciados do “passe”.

“O estacionamento do Anexo I será de uso privativo. Portanto, somente terão acesso os servidores efetivos e comissionados que possuírem o cartão de estacionamento privativo do Anexo I, conforme distribuição de vagas definidas no ato do primeiro-secretário n° 3 de 2011”, informa o e-mail. A mensagem também diz que os terceirizados e os estagiários não poderão mais utilizar o estacionamento da Secretaria Especial de Editoração e Publicações (Seep). A área será reservada apenas a efetivos e a comissionados. Além de restringir o acesso dos funcionários, a medida abre uma brecha para que os parlamentares tenham a prerrogativa de conceder privilégios a um grupo restrito de servidores.

A regra é apenas mais uma da nova Diretoria da Casa a provocar reações inconformadas de 9 mil funcionários, entre efetivos, comissionados e terceirizados. A implantação do ponto biométrico recentemente foi outro item a gerar discórdia. Como os parlamentares podem isentar funcionários de seus respectivos gabinetes do registro eletrônico, na prática, o uso do ponto biométrico ficou restrito aos servidores concursados.

FOLHA DE S.PAULO

Partidos têm receita recorde, mas fecham ano com dívidas
A arrecadação recorde no ano passado não impediu que os principais partidos políticos do país terminassem 2010 com dívidas milionárias. PT e PSDB fecharam o ano com deficit de R$ 42,7 milhões e R$ 11,9 milhões, respectivamente. Os responsáveis pela contabilidade das duas legendas alegam que, além de terem gasto mais do que arrecadaram, ambos herdaram as dívidas das campanhas presidenciais e ainda registram despesa em aberto referente às eleições de 2006.

A maior dívida do PSDB é de R$ 8 milhões, com empresas de comunicação das campanhas de 2006 e 2010. O PT também tem dívidas referentes a propaganda eleitoral de 2010, de R$ 6,5 milhões, e pelo menos R$ 3,5 milhões em material gráfico. De acordo com a prestação de contas entregue nesta semana ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), explodiu a arrecadação declarada dos principais partidos, especialmente com doações de empresas – maior fonte de renda das siglas. Juntos, PT, PSDB, DEM e PMDB receberam doações de R$ 402 milhões – crescimento de 2.200% em relação a 2009 (ano sem eleições), e 375% maior que 2006 (ano de eleições nacionais).

Os repasses das empreiteiras, tradicionais colaboradoras, representam cerca de um terço do total. Além das doações, integram a receita o Fundo Partidário (parcela do Orçamento da União repartida entre os partidos) e as colaborações de filiados. Os números apresentados são um balanço consolidado da receita e da despesa de 2010, uma vez que os partidos já haviam prestado conta dos principais gastos feitos durante a campanha, entre junho e novembro.

Lula chama de "profetas do caos" os que preveem inflação alta
A uma plateia composta principalmente por economistas e agentes do mercado financeiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou ontem de "profetas do caos" os que creem na alta da inflação. Lula discursou à noite para cerca de 800 pessoas em São Paulo, a convite do Bank of America Merril Lynch. O evento era uma comemoração pela autorização obtida do Banco Central para que o Merril Lynch atue como banco múltiplo no Brasil.

Lula disse que a alta de preços ameaçou o país em 2002 e 2008, "mas foi superada com uma rigorosa política monetária e fiscal e investimentos no mercado interno". Apontando na plateia para o ex-presidente do BC Henrique Meirelles e para o ex-ministro do Desenvolvimento Fernando Furlan, Lula dizia que seu governo tinha sido responsável e que a gestão da presidente Dilma Rousseff também seria.

Dilma tira 3 milhões de meta antipobreza
A meta do plano de Dilma Rousseff para erradicar a miséria foi desidratada entre a eleição, quando era uma promessa, e anteontem, ao ter seu público-alvo anunciado. Em discursos e entrevistas na campanha, a então candidata falava que trabalharia para "resgatar" da pobreza extrema ao menos 3,4 milhões de pessoas a mais do que agora -19,6 milhões na época contra os 16,2 milhões anunciados anteontem.

Na eleição, Dilma adotava o critério de que miserável é quem tem renda de até um quarto de salário mínimo ao mês: R$ 136,25 em valores atuais. Já o programa oficial de governo trabalhará com a linha mais baixa – R$ 70. "Miserável é quem tem renda de até um quarto do salário mínimo. (...) Então, a gente tem de buscar eliminar esses 19,6 milhões de miseráveis", dizia a então presidenciável em junho de 2010.

No mesmo mês, reiterou a promessa na convenção do aliado PRB: "Nós temos essa missão de eliminar os 19 milhões que vivem com menos de um quarto do salário mínimo per capita. Não eliminar os brasileiros, eliminar a pobreza dos brasileiros". Já empossada, o discurso mudou: "Não acredito que o Brasil será um país rico se houver esses milhões de brasileiros que nós temos abaixo do que nós consideramos a linha de corte da pobreza, que são os R$ 70 per capita", disse em março, em Portugal.

Serra procura Alckmin para negar elo com dissidentes
O ex-governador José Serra procurou seu sucessor, Geraldo Alckmin, e outros líderes do PSDB para desmentir que seja o idealizador da debandada tucana rumo ao PSD de Gilberto Kassab. Serra se queixou do que considera uma tentativa de desgastá-lo no partido, proveniente, segundo sua avaliação, de pessoas próximas ao governador.

O encontro ocorreu na noite de anteontem, no Palácio dos Bandeirantes. Antes, o ex-governador havia falado por telefone com o presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), e com outros dirigentes tucanos. Segundo relatos obtidos pela Folha, Serra disse a todos que não se envolveu com a criação do PSD. Afirmou que tentou dissuadir Kassab, seu aliado, da ideia de deixar o DEM e criar a nova sigla.

O ex-governador fez um diagnóstico de que o PSD vai se aproximar do governo Dilma – e, portanto, não seria vantajoso para ele. A criação do novo partido provocou nas últimas semanas dezenas de baixas no PSDB e nos outros partidos de oposição, DEM, ao qual Kassab era filiado, e PPS. Procurado ontem pela Folha, Serra não respondeu.

Oposição protesta contra medida provisória que reúne 6 assuntos
Em protesto contra o governo federal, a oposição se retirou ontem do plenário do Senado para não votar medida provisória que reúne seis temas diferentes. Ainda assim, a MP foi aprovada. O grupo de dez senadores de DEM, PSDB e PPS abandonou o plenário após uma série de discursos contra a medida editada pelo Planalto. Trata-se do primeiro gesto público no Congresso contra o governo da presidente Dilma Rousseff.

A oposição critica o fato de a MP tratar de vários temas sem conexão entre si. Segundo os oposicionistas, a Constituição não autoriza a reunião de assuntos diferentes no mesmo texto editado pelo Executivo. "Esse Congresso é o quê? A Constituição está sendo rasgada. É uma indignidade. Vamos abandonar o plenário em protesto contra a atitude do Senado de chancelar tudo o que vem do Executivo, inclusive medidas dessa qualidade", disse, aos gritos, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que jogou no chão uma cópia da medida provisória.

Leia mais sobre o episódio: Demóstenes rasga texto de MP e protesta em plenário

Saldo da entrada de dólares no país despenca em abril
Após as medidas tomadas pelo governo para conter o ingresso e evitar uma maior desvalorização do dólar, o saldo entre a entrada e a saída da moeda no país caiu fortemente em abril. No mês passado, o volume de dólares que veio para o Brasil foi US$ 1,54 bilhão superior ao que deixou o país. O número leva em conta recursos para aplicações financeiras e comércio exterior.

Apesar de positivo, o saldo registrado em abril ficou bem abaixo dos resultados alcançados nos três primeiros meses do ano e foi 88% menor do que o de março. Entre o fim daquele mês e o início de abril, o governo anunciou a cobrança de 6% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) em empréstimos tomados por bancos e empresas no exterior.

Para economistas, a redução do saldo no mês passado se deu porque os investidores anteciparam as aplicações no primeiro trimestre, já temendo as medidas que o governo ameaçava tomar. Até março, o saldo cambial foi 46% maior do que em todo o ano de 2010. Em abril, depois da tributação dos empréstimos externos, a conta financeira – que computa o fluxo de recursos para bolsa de valores e títulos públicos, entre outros- foi negativa em US$ 1,7 bilhão.

No Pará, servidor-fantasma foi "contratado" com 1 ano de idade
A Assembleia Legislativa do Pará incluiu em sua folha de pagamento o nome de um funcionário que tinha um ano de idade na data de sua contratação, em 1988. Ricardo Rafael Monteiro da Silva, que hoje tem 24 anos, é um dos 11 funcionários-fantasmas identificados até agora pelo Ministério Público, que investiga suposto esquema de fraudes na Casa.

Um documento encontrado pelo Ministério Público aponta que, ao menos até agosto de 2009, ele aparecia registrado como técnico legislativo e supostamente recebia mais de R$ 15 mil em salário e gratificações (R$ 12 mil de rendimento líquido). Silva, porém, trabalha como vendedor em uma peixaria de Belém, tem ensino médio incompleto e, segundo depoimento à Promotoria, nunca trabalhou em órgão público nem sabe onde fica a Assembleia. A reportagem o procurou, mas o vendedor não quis dar entrevista. A Assembleia não soube informar se ele ainda faz parte da folha de pagamento.

Petróleo pressiona setores da indústria
A alta das cotações do petróleo no mercado internacional representa um fator adicional de preocupação para o cenário de inflação no Brasil e já se converteu em preços mais elevados em alguns setores industriais. Diante da pressão de custo da matéria-prima, três setores, ao menos, forçaram para cima seus preços em março: refino de petróleo (+1,99%), outros produtos químicos (+1,41%) e borracha e plástico (+1,20%), segundo o IBGE. Esses reajustes são exclusivos da indústria e não refletem o preço final. Integram o IPP (Índice de Preços ao Produtor).

Bancos dificultam acesso a dados, afirma ministro
O ministro Jorge Hage (Controladoria-Geral da União) disse ontem que os órgãos de fiscalização do governo têm dificuldades para auditar bancos públicos. "A questão do sigilo no Brasil se transformou num verdadeiro mito, dogma. Era preciso uma guinada na jurisprudência dos tribunais superiores." Para o ministro, sempre que auditores da CGU ou do Tribunal de Contas da União precisam de dados mais completos, os bancos barram o acesso recorrendo ao sigilo bancário.

STF só altera 3% das decisões anteriores ao julgar recursos
Dados divulgados nesta quarta-feira sobre recursos que chegaram ao STF (Supremo Tribunal Federal) em 2009 e 2010 revelam que a modificação, pelo Supremo, de sentenças criminais ocorridas em instâncias inferiores é uma exceção. No período, o Supremo aceitou apenas 2,7% (ou 145) dos recursos relacionados a questões criminais.

Os números foram apresentados pelo presidente do tribunal, ministro Cezar Peluso, para sustentar a defesa de uma mudança na lei com objetivo de reduzir o número de processos no STF. Peluso propõe a aprovação de emenda constitucional que determine a aplicação das sentenças após as decisões de segunda instância -Tribunais de Justiça nos Estados ou Tribunais Regionais Federais.

Roberto Gurgel é o mais votado na eleição para procurador-geral
O atual procurador-geral da República, Roberto Gurgel, foi o mais votado na eleição feita ontem pela ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República). Gurgel recebeu 454 votos e, com isso, ficou à frente dos subprocuradores Rodrigo Janot de Barros (347 votos) e Ela Wiecko (261 votos). Eles comporão a lista tríplice que será encaminhada à presidente Dilma Rousseff, que deve indicar que assumirá o cargo. Ela não é obrigada a acolher os nomes sugeridos pela associação. O ex-presidente Lula sempre nomeou o candidato mais votado.

O ESTADO DE S. PAULO

Argentina ''devolve'' produto brasileiro
A Argentina está ameaçando "devolver" balas, chocolates e confeitos vendidos pelo Brasil. Cerca de 15 fabricantes brasileiros já têm mais de US$ 5,2 milhões em mercadorias paradas nos depósitos dos importadores. A situação irritou o governo Dilma Rousseff, que estuda tomar medidas mais duras contra o país vizinho. Segundo fontes do setor privado brasileiro, o Instituto Nacional de Alimentos (Inal) da Argentina interrompeu - sem explicar os motivos - a concessão dos certificados sanitários necessários para que os produtos circulem no país. O Inal é o equivalente à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil.

Nos últimos dias, um outro órgão do governo argentino, a Administração Federal de Ingressos Públicos (Afip), começou a notificar os importadores de que seus produtos estavam em situação irregular. A Afip informou que, dentro de 30 dias, os produtos devem ser devolvidos ao Brasil ou será cobrada uma multa equivalente a até cinco vezes o valor da mercadoria. A situação criou um impasse para as empresas brasileiras. Fontes ouvidas pelo Estado dizem que as ordens para dificultar a circulação dos produtos partiram do secretário de Comércio Interior da Argentina, Guilhermo Moreno. Com os depósitos lotados e preocupados com as incertezas, os importadores já estariam cancelando pedidos.

Aposentados correm o risco de não receber R$ 1,5 bilhão
Com o corte de R$ 50 bilhões do Orçamento deste ano, o governo federal alega não ter dinheiro para pagar imediatamente R$ 1,5 bilhão a mais a 130 mil beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que se aposentaram entre 1991 e 2003. Os benefícios desses aposentados foram calculados com um teto da Previdência Social inferior e, por isso, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou o pagamento da diferença. O Ministério Público Federal de São Paulo e a Defensoria Pública do Rio de Janeiro ameaçam entrar com ação civil pública para garantir rapidez no pagamento. Segundo a assessoria de imprensa do INSS, o governo ainda estuda os critérios para pagar essa dívida com os aposentados, mas no momento há "indisponibilidade de recursos".

Em setembro do ano passado, o STF determinou que o INSS fizesse o pagamento retroativo a um beneficiário que pedia a correção de aposentadoria de acordo com o novo teto fixado pela Emenda Constitucional 20, de 1998. Com a mudança, o teto de R$ 1.081,50 subiu para R$ 1.200. O benefício foi garantido também às pessoas que se aposentaram antes de 1998 e em 2003. O acórdão da decisão do STF foi publicado no Diário Oficial da União de 15 de fevereiro deste ano. Quase três meses se passaram e o pagamento não foi efetuado. Diante dessa situação, o Ministério Público Federal de São Paulo e a Defensoria Pública do Rio de Janeiro enviaram ofício ao INSS questionando a demora.

Estatal deve gastar R$ 1 bi para compensar instalação do Comperj
A Petrobrás gastará pelo menos R$ 1 bilhão em projetos de compensação socioambiental ligados à instalação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, estimou ontem o secretário estadual do meio ambiente, Carlos Minc. Os principais gastos estão ligados a projetos de saneamento, abastecimento de água e preservação de áreas nos entornos do empreendimento, que está sendo erguido na região metropolitana da capital fluminense.

"A ordem de grandeza chega a R$ 1 bilhão. São quatro pontos e mais outras questões ligadas à educação ambiental e coisas bem menos pesadas", disse Minc depois de participar de reunião entre o governo estadual, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Petrobrás e prefeitos para discutir o andamento de projetos ambientais, de transporte e desenvolvimento urbano para preparar a região para abrigar o Comperj.

Definido na concessão da licença ambiental prévia há cerca de três anos, o investimento de maior peso será em projetos de saneamento para os municípios de Itaboraí e Maricá. O convênio deve ser assinado em um mês e o custo deve ficar entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões. Além dos condicionantes que estão sob responsabilidade da Petrobrás, a região necessita de investimentos para atender as demandas sociais e econômicas decorrentes da instalação do Comperj. No entanto, com poucos profissionais capacitados, as prefeituras enfrentam dificuldade para elaborar projetos qualificados para obter financiamento.

Governo usará o câmbio para tentar baixar inflação
O governo decidiu utilizar o câmbio como mais um instrumento de combate à inflação. Depois de sucessivos meses de aplicação de medidas para conter a valorização excessiva do real, os ministros da área econômica, com o apoio da presidente Dilma Rousseff, entenderam que, neste momento, não está na agenda intervenções ousadas para conter a excessiva valorização do real. A estratégia é aproveitar a cotação do dólar baixo para importar produtos que complementam o consumo interno com preços mais baixo aos consumidores.

Mesmo os auxiliares de Dilma mais preocupados com os efeitos do câmbio forte na indústria - Guido Mantega (Fazenda), Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e Luciano Coutinho (BNDES) - concordaram que não é possível mudar a tendência do câmbio este ano. Trata-se de uma política que não será oficializada e tampouco pode ser interpretada como orientação para que o Banco Central deixe o câmbio flutuar livremente. O BC, sempre que necessário, fará intervenções para manter a taxa equilibrada.

Para um assessor, "não há muito o que fazer" diante de um cenário em que o dólar se mantém enfraquecido em relação às principais moedas. "Não podemos ficar de medida em medida", disse. Por isso, a necessidade de "dar um tempo" no debate sobre novas medidas para conter a excessiva valorização do real e aproveitar o dólar fraco para focar no combate à inflação. Ontem, o dólar fechou cotado a R$ 1,61, alta de 1,45%. No mês de abril, variou abaixo de R$ 1,60, considerado no mercado o "piso informal" do governo.

Mantega pede ajuda a empresas contra inflação
Um dia após garantir que o governo tomará todas as medidas para conter a alta dos preços, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pediu a colaboração do setor produtivo para colocar a inflação dentro da meta estabelecida, de 4,5%. Durante reunião do Grupo para o Avanço da Competitividade (GAC), o ministro disse que o setor privado não deve criar repasses de preços, o que seria muito negativo porque levaria à indexação. De acordo com a presidente da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), Elizabeth de Carvalhaes, Mantega afirmou que o governo não corre o risco de perder o controle da inflação e, no segundo semestre, os índices voltarão aos níveis estipulados pelo governo.

A empresária disse que o ministro considera que reposicionar a inflação dentro da meta é um trabalho conjunto entre governo e setor privado e, se houvesse o repasse da inflação para os preços, o setor privado estaria na contramão do governo. "O setor produtivo tem de estar alinhado ao governo no reposicionamento da inflação dentro da meta", disse ela, repetindo o recado do ministro.

O presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), Cláudio Conz, afirmou que a indústria tem um limite para atender ao pedido do ministro. Segundo ele, há um excessivo aumento da inflação que vem de fora e impacta em insumos utilizados pelo setor, como plásticos e derivados do petróleo.

''CQC'' compara Renan a Beira-Mar e irrita senador
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) se irritou ontem com uma pergunta feita pela equipe do programa CQC, da TV Bandeirantes, e discutiu com o humorista Danilo Gentili - que o indagou sobre sua presença no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar na Casa. Renan já foi condenado duas vezes pelo colegiado, mas acabou absolvido em plenário.

Gentili perguntou ao peemedebista se a sua indicação no colegiado não seria semelhante a colocar na Secretaria Nacional Antidrogas o traficante Fernandinho Beira-Mar. Segundo o humorista, quando o cinegrafista baixou a câmera, o senador teria começado a gritar, pedindo que fosse respeitado pela equipe do CQC. Renan entrou na sala do senador José Sarney (PMDB-AP) e, minutos depois, a Polícia do Senado pediu que a equipe se retirasse alegando que não tinham autorização para gravar no local.

"Saímos numa boa e fomos para os corredores. Temos autorização para gravar, mas a polícia diz que não autoriza mais", disse Gentili, que iria recorrer à Secretaria do Senado para resolver o impasse. Segundo a assessoria do Senado, a permissão para gravações era referente ao mês de abril e a equipe foi orientada a desligar a câmera, não a sair do Senado.

Sem condição de fiscalizar, governo libera importado
O governo abandonou a ideia de exigir certificação técnica para a entrada de produtos importados no País. A medida foi anunciada pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, como uma das ações para reduzir a competição desleal dos importados em relação aos produtos nacionais. O governo chegou a prometer aos empresários a edição de uma medida provisória, mas ontem avisou que o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) não tem condições de implementá-la.

Na reunião do Grupo de Avanço da Competitividade (GAC), realizada ontem no Ministério da Fazenda, o ministro Guido Mantega disse que o Inmetro não tem capacidade para fiscalizar com sua estrutura atual, segundo narraram os empresários. Além disso, o órgão não teria competência legal para realizar a ação nos portos, uma vez que sua rede credenciada só pode certificar produtos produzidos no Brasil.

O GLOBO

PT doou R$ 11,1 milhões a partidos nanicos
O apoio de partidos aliados à campanha da presidente Dilma Rousseff custou ao PT mais de R$11 milhões em 2010. Alguns dos beneficiados com recursos petistas são partidos pequenos, nanicos até, e de atuação periférica no Congresso. Outros, como o PSC, chegaram a flertar com a oposição, mas acabaram caindo nas graças da chapa vitoriosa após muita negociação política. A prestação anual de contas de 2010, apresentada pelos partidos e divulgada ontem pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), também mostra que as principais siglas do país fecharam o ano de eleições com a conta no vermelho. As dívidas acumuladas por nove siglas somam R$ 37,4 milhões.

O PT carregou para este ano rombo de R$ 15,9 milhões, o maior entre todas as legendas. Só o valor para irrigar os cofres de aliados é dois terços do débito. Partido que chegou a anunciar apoio a José Serra (PSDB), voltando atrás pouco antes do início da campanha, o PSC foi recompensado com o maior montante: R$4,75 milhões. Além de minar a campanha adversária, os petistas faturaram 20 segundos na propaganda eleitoral e, de sobra, levaram para o Congresso uma bancada cristã fiel e turbinada. A agora legenda governista elegeu 11 deputados, mas já cresceu e hoje desfila com 18 deputados.

Em maio do ano passado, o PSC chegou a indicar o ex-senador Mão Santa (PI) para vice na chapa presidencial do PSDB. Após abandonar o barco tucano, num acordo em junho com o PT, obteve sete repasses, de R$250 mil a R$1 milhão. Os valores foram para a direção partidária e, nos mesmos dias, pingaram nas contas do comitê eleitoral. Os maiores aportes vieram na reta final do primeiro turno (R$3,5 milhões), quando Dilma precisava reforçar seu prestígio com os evangélicos para afastar a pecha de candidata pró-aborto. - Não teve imoralidade nem ilegalidade. E não fizemos nenhuma barganha financeira por apoio. O PT ajudou porque fomos parceiros, pegamos firme na campanha - assegura o vice-presidente do PSC, Pastor Everaldo, acrescentando que o tesoureiro do partido teve de "martelar" pedidos aos petistas.

Segundo ele, a primeira ajuda veio em 30 de agosto, cerca de 60 dias após o anúncio de apoio a Dilma. Os repasses mais vultosos foram, diz o PSC, para produzir material contra boatos sobre aborto, já que o próprio PT tinha pedido auxílio. Os repasses finais, de R$750 mil em outubro e novembro, teriam sido para cobrir dívidas de campanha. Coincidência ou não, a tesouraria petista também foi generosa com o PDT do Paraná, que só decidiu abraçar a candidatura de Dilma poucos dias antes do início da corrida eleitoral. Até o fim de junho, o candidato derrotado ao governo do estado pelo partido, Osmar Dias, refletia entre concorrer ao Senado ao lado dos tucanos ou entrar numa disputa com Beto Richa (PSDB), que foi eleito no primeiro turno, para dar palanque a Dilma. O PT levou a melhor e o PDT não saiu mal, ao menos nas finanças: recebeu R$3,7 milhões.

Oposição se revolta contra MP 'árvore de Natal'
Mesmo enfraquecida por rachas internos e enfrentando seu pior momento no Congresso desde que o PT chegou ao poder, a oposição decidiu sair da letargia e abrir várias frentes de ação no Senado, para tentar furar o bloqueio da ampla maioria governista. Ontem, liderada pelos senadores Itamar Franco (PPS-MG), Aécio Neves (PSDB-MG) e Demóstenes Torres (DEM-GO), a oposição em peso deixou o plenário em protesto contra a votação da medida provisória 513, classificada como "árvore de Natal" por tratar de oito assuntos. Os governistas pretendiam aprová-la rapidamente, sem discussão. E conseguiram.

Em outra frente, alguns senadores como Aécio e o pernambucano Jarbas Vasconcelos (PMDB) traçaram como estratégia buscar na sociedade civil apoio para suas propostas e usar as dificuldades da equipe econômica para manter a inflação sob controle como mote principal de seus discursos. - Nenhum integrante da oposição vai ficar torcendo para que o governo perca o controle da inflação. Quem tinha essa prática num passado recente eram o PT e seus aliados, que votaram contra o Plano Real, o Proer e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Não dá para ficar tapando o sol com a peneira, nem escondendo que a alta inflacionária tem origem na ineficiência do governo e no comportamento "Papai Noel" adotado nos dois últimos anos - discursou Jarbas.

Para Aécio, o governo poderá ajudar, e muito, na reorganização da oposição: - Meu esforço hoje é para fortalecer as oposições. Mas parece que quem mais vai nos ajudar nisso será o próprio governo, com sua tibieza no combate à inflação, na sua falta de vigor para enfrentar as reformas necessárias e diante da fragilidade na gestão da infraestrutura.

Só 3% dos julgamentos feitos pelo STF são de temas constitucionais
Relatório da Fundação Getulio Vargas informa que 92% dos processos julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) são recursos de conflitos já julgados em pelo menos duas instâncias. Os processos relacionados a questões constitucionais não ultrapassam 3% dos casos apreciados. Com base nos números, o presidente do STF, Cezar Peluso, voltou a defender uma emenda constitucional que restrinja os recursos de acesso à mais alta Corte do país. O STF tem a atribuição central de liberar sobre a constitucionalidade de determinadas questões.

- Acho que o problema é o número de graus de jurisdição, que é uma particularidade exclusivamente brasileira. Nós estamos fazendo um levantamento, inclusive da União Europeia, pela Comissão de Veneza, para demonstrar que o duplo grau de jurisdição, como o próprio nome diz, são dois graus de jurisdição, é suficiente para atender às exigências de justiça - disse Peluso após a divulgação do estudo.

Para o ministro, não há motivo para que boa parte dos processos decididos em primeira e segunda instância seja levada ao STF. O excesso de recursos, a maioria deles com objetivo de retardar o cumprimento de decisões judiciais corretas, seria o maior entrave ao bom funcionamento da Corte. Peluso argumenta que, em outros países, os recursos às mais altas cortes só acontecem em casos excepcionais. No Brasil, a tática dos recursos seria uma regra.

Código Florestal: governo consegue adiar votação
O governo conseguiu adiar para a próxima semana a votação da reforma do Código Florestal, marcada para ontem. Não houve acordo para dois pontos importantes do texto do relator da matéria, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). O parlamentar não quis abrir mão de isentar proprietários de até quatro módulos fiscais de terra (de 20 a 400 hectares) de recompor a reserva legal desmatada além do que a lei permite. A medida seria estendida a proprietários com áreas maiores, que também estariam liberados de reflorestar em quatro módulos de suas fazendas. O governo só concorda com a permissão para que os agricultores familiares sejam isentos da medida.

Além disso, Aldo defende a manutenção de áreas consolidadas de plantações e pastos hoje localizadas em Áreas de Preservação Permanente (APPs). O governo admite considerar alguns casos, mas desejava ter uma lei restritiva e, depois, regulamentar algumas exceções caso a caso, via decreto presidencial. Aldo discorda dessa estratégia por achar que traz insegurança aos produtores.

- O Código Florestal é um tema que envolve uma parcela considerável da população. É um tema que não pode ter vencedores e vencidos. Enquanto houver possibilidade de pactuação, vamos trabalhar por ela. É o último esforço que estamos construindo - disse o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, ao anunciar o adiamento, decidido após longa reunião com os líderes dos partidos da base e o relator.

Em número, ruralistas têm vantagem
No embate em torno das modificações no Código Florestal, a bancada ruralista tem grande vantagem numérica na Câmara. Levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) mostra que o grupo cresceu em 2010, elegendo 160 deputados e 18 senadores. Na legislatura passada, eram 120.

O Partido Verde, por sua vez, elegeu apenas 14 deputados. Entre os 160 identificados como ruralistas pelo Diap, 92 foram reeleitos e 50 são novatos. Um de seus líderes, o deputado Abelardo Lupion (DEM-PR), diz que a votação do pedido de urgência para votação da proposta, anteontem, mostrou o tamanho da bancada ambientalista: – A montanha pariu um rato. Agora a gente sabe o tamanho deles. É a minoria querendo sobrepujar a maioria.

Segundo Lupion, mais de 240 deputados, de oposição e da base aliada, apoiam o agronegício. E mais de 300 assinaram para participar da Frente Parlamentar da Agricultura. Entre os líderes partidários, dois estão na lista do Diap: o do PDT, Giovanni Queiroz (PA), e o do PSDB, Duarte Nogueira (SP).

MPF pode pedir anulação de passaportes
A procuradora Carolina Martins Miranda de Oliveira, do Ministério Público Federal no Distrito Federal, poderá ajuizar uma ação pública de anulação dos passaportes diplomáticos de sete familiares do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Itamaraty informou ao Ministério Público que nenhum dos filhos e netos de Lula devolveu os documentos. Para o MP, os passaportes foram emitidos irregularmente.

Na semana passada, a procuradora assumiu o inquérito civil público que apura a emissão de 328 passaportes diplomáticos emitidos pelo Itamaraty em caráter excepcional, no governo Lula. Ela deverá decidir os próximos passos do inquérito após analisar todos os procedimentos adotados até agora. Além da ação para cancelar os passaportes, outra saída seria responsabilizar as autoridades que permitiram a emissão, numa ação de improbidade.

A legislação permite a concessão de passaportes diplomáticos a quem exerce função essencial ao Estado. Há três exceções: cônjuge, companheiro ou companheira de dependentes, servidores públicos em missão permanente no exterior e por "interesse do país". Quatro filhos e três netos de Lula foram enquadrados no último item.

BB e fundos estatais investirão em aeroportos
Enquanto o governo define os detalhes da concessão dos grandes aeroportos do país, investidores e instituições financeiras públicas já se preparam para participar do negócio. O Banco do Brasil e os grandes fundos de pensão de funcionários de estatais - Previ (BB), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica Federal) - já estão estudando o processo de concessões e articulando sua participação, como financiador e sócio. Tanto o BB como os fundos veem bom potencial de ganhos em todos os cinco terminais que serão colocados à disposição pelo governo: Guarulhos (SP), Brasília, Viracopos (SP), Galeão e Confins (Belo Horizonte).

Os grandes fundos de pensão vão participar das licitações por meio da Invepar, empresa criada para investir em projetos de infraestrutura, que tem como sócios Previ, Petros, Funcef e a construtora OAS. A Invepar já tem seis importantes concessões, entre elas a do Metrô do Rio, e é sócia da Vale. Hoje, o patrimônio líquido da Invepar está na casa de R$1 bilhão, mas os sócios já acertaram injeções de recursos novos para disputar os aeroportos. A ideia é formar consórcios com outros interessados.

No campo financeiro, também é grande a movimentação. A fim de participar das concessões como financiador dos consórcios, o BB já fez estudos sobre o setor. A avaliação, baseada na crescente demanda por voos, é que há um excelente potencial de negócios. Além disso, o governo tornou a concessão atraente ao escolher justamente os aeroportos de maior importância e com o maior número de frequências. O BB, no entanto, descarta a possibilidade de fazer parte de um consórcio como sócio.

Fonte: Congressoemfoco

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