COLUNA EDITORIAL — Quando o Parlamento tenta calar a imprensa, é a democracia que grita
Por José Montalvão
A que ponto o Brasil chegou? A perplexidade toma conta do país ao assistirmos, dentro da própria Câmara dos Deputados, episódios que ecoam os piores fantasmas autoritários da nossa história. Nem na ditadura — quando a censura era política oficial e o jornalismo vivia sob a tesoura do regime — vimos tamanha ousadia: jornalistas censurados pela Presidência da Câmara e agredidos por seguranças a mando de quem deveria defender a transparência e o debate público.
É um retrocesso tão violento quanto simbólico.
A liberdade de imprensa é o primeiro alvo de todo projeto autoritário. Quando o poder passa a enxergar a crítica como ameaça pessoal, e não como instrumento essencial da democracia, surgem impulsos perigosos de silenciar vozes, controlar narrativas e transformar a imprensa em adversária. A Câmara, no entanto, não pode — e jamais poderá — ser propriedade privada de quem a preside. Ela é do povo. E se é do povo, a imprensa tem o dever e o direito de contar o que ali acontece.
Censurar jornalistas dentro do Parlamento é profanar a essência da democracia.
Ainda mais chocante é a violência física, que agora tenta substituir argumentos. Empurrões, agressões, intimidações. A força que deveria proteger virou ferramenta de amedrontamento. Esse tipo de brutalidade não é um caso isolado: é sintoma de uma mentalidade perigosa, que tenta transformar divergência em inimiga e crítica em crime.
O Brasil precisa reagir. O silêncio diante desse tipo de abuso não é neutralidade — é cumplicidade. É permitir que a fronteira do possível seja empurrada um pouco mais para o precipício do autoritarismo.