sábado, dezembro 13, 2025

Haddad, Lula e o intrincado xadrez político rumo à eleição de 2026


Haddad confirma que pode deixar a Fazenda

Pedro do Coutto

A entrevista recente concedida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acendeu um novo capítulo no já movimentado tabuleiro político brasileiro. Com tom sereno, mas carregado de sinais, Haddad admitiu que pode deixar o comando da Economia para atuar diretamente na campanha de reeleição do presidente Lula da Silva em 2026. A fala, embora envolta em cautela, deixou no ar a sensação de que a decisão está mais encaminhada do que o ministro quis admitir explicitamente.

Segundo relatou, essa foi a primeira vez em que conversou abertamente com Lula sobre a possibilidade de sair da pasta para colaborar com o projeto eleitoral. O presidente, em resposta, adotou uma postura compreensiva e amistosa, afirmando que respeitará qualquer escolha de Haddad. Não houve menção a datas, tampouco a uma decisão formal, mas ficou evidente que o ministro deseja participar diretamente da elaboração do programa de governo e da estruturação da campanha — não como candidato, e sim como colaborador estratégico.

ESPECULAÇÕES – A sinalização da possível saída de Haddad naturalmente abre espaço para especulações dentro do governo sobre quem poderia assumir o Ministério da Fazenda. Ainda que o ministro não tenha citado nomes, o ambiente político observa atentamente os movimentos internos, já antecipando mudanças que podem remodelar a equipe econômica.

Durante a entrevista, Haddad também abordou temas que têm exigido atenção constante do governo, entre eles a situação delicada dos Correios. Ele reconheceu que a estatal vive um momento que “inspira cuidados”, diante de um rombo financeiro expressivo e de uma necessidade urgente de reinvenção. Para o ministro, será indispensável que a empresa busque novos modelos de negócio e parcerias, alinhando-se a tendências internacionais para sobreviver em um mercado em transformação.

Outro ponto que ganhou destaque foi sua avaliação sobre o relacionamento com o Congresso. Haddad admitiu que, em alguns momentos, o Legislativo acabou engessando a execução orçamentária, dificultando a capacidade do governo de remanejar recursos e avançar com as políticas planejadas. Em um ambiente onde o debate eleitoral já se insinua nos bastidores, essas tensões tendem a se intensificar, pressionando tanto o Executivo quanto os parlamentares.

POLÍTICA MONETÁRIA – No pano de fundo, paira também o debate sobre a condução da política monetária. Embora Lula tenha sido um crítico ferrenho dos juros elevados durante a gestão anterior do Banco Central, permanece o silêncio presidencial diante do patamar atual — mais alto do que aquele que criticava. A leitura política é complexa e envolve desde a autonomia do Banco Central até os efeitos da política econômica sobre o humor dos mercados e da opinião pública.

O cenário institucional brasileiro, já congestionado por disputas entre poderes, ganhou novos contornos com a controvérsia envolvendo o mandato da deputada Carla Zambelli. A decisão do ministro Alexandre de Moraes de anular a manutenção do mandato pela Câmara, diante de uma condenação que deveria, segundo interpretação constitucional, acarretar sua cassação, aprofundou as tensões entre Judiciário e Legislativo. O episódio reforça a sensação de que 2026 não será apenas mais uma eleição, mas um marco decisivo sobre o equilíbrio de poderes no país.

Alguns movimentos partidários também começam a redesenhar as projeções eleitorais. A articulação que busca lançar Ratinho Junior e Romeu Zema como alternativa ao Planalto reorganiza peças no campo da centro-direita e pressiona candidaturas já declaradas. Essa reestruturação amplia a complexidade do tabuleiro político e evidencia que a disputa presidencial já está em curso, mesmo que oficialmente ainda distante.

IMPACTOS – Nesse contexto, a posição de Haddad se torna ainda mais estratégica. Sua eventual saída não representaria apenas uma mudança administrativa: teria impactos na economia, na articulação política e na própria campanha de Lula. Por outro lado, sua permanência poderia garantir estabilidade à condução da política fiscal em um momento de volatilidade política e incertezas institucionais.

O que a entrevista deixa claro é que o Brasil já respira o clima pré-eleitoral. Entre ajustes econômicos, tensões políticas e rearranjos partidários, o país se prepara para uma disputa que promete ser uma das mais complexas e imprevisíveis desde a redemocratização. E Haddad, seja como ministro ou como articulador de campanha, permanecerá no centro dessa travessia.


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