quarta-feira, dezembro 10, 2025

O cálculo silencioso da direita e a hesitação de Tarcísio de Freitas


Tarcísio volta a acenar com a possibilidade de ser alternativa

Pedro do Coutto

A declaração de Tarcísio de Freitas em apoio à candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência parece, à primeira vista, um gesto de solidariedade dentro do campo conservador. Mas basta escutar com atenção para perceber que ela carrega muito mais subtexto do que entusiasmo. Ao afirmar que Flávio é um nome possível, mas não o único, Tarcísio abriu espaço para si mesmo num jogo que, oficialmente, ele havia abandonado.

Depois de repetir que não disputaria o Planalto, o governador paulista volta agora a acenar — ainda que de forma oblíqua — com a possibilidade de ser alternativa. É um movimento calculado, típico de quem sabe que política se faz tanto com silêncios quanto com frases soltas ao vento.

DILEMA – A hesitação de Tarcísio tem lógica. O PL enfrenta um dilema estratégico: lançar um nome competitivo o bastante para chegar ao segundo turno ou arriscar-se a repetir o isolamento que marcou parte da direita após a condenação de Jair Bolsonaro pelo Supremo. Flávio até tenta vestir o figurino de “Bolsonaro viável”, mas seu lançamento precoce, seguido de gestos contraditórios — como a admissão de que poderia desistir mediante “um preço” e, depois, a afirmação de que sua candidatura é “irreversível” — não empolgou o bolsonarismo raiz, nem seduziu o centrão.

É justamente nesse vácuo que Tarcísio se coloca como o plano B natural: alguém capaz de dialogar com o mercado, manter interlocução institucional e oferecer uma imagem mais moderada ao eleitor urbano. Mas ele sabe que entrar na disputa só faz sentido se houver consenso mínimo dentro da direita — algo que hoje simplesmente não existe. O PL está dividido entre lealdade e pragmatismo, o Republicanos prefere preservar o capital político de Tarcísio para 2030, e os partidos do entorno conservador não querem repetir a dispersão que já ampliou o espaço de Lula em disputas anteriores.

DESALINHADOS – A consequência desse impasse é direta: cada hesitação, cada gesto contraditório, cada sinal desalinhado no campo conservador torna o caminho mais simples para Lula. O presidente, que já conta com a força da máquina e um eleitorado consolidado, observa a fragmentação adversária com a tranquilidade de quem sabe que o segundo turno só existe quando há adversário à altura. Se a direita não definir logo seu projeto — e sobretudo seu candidato — continuará ajudando, involuntariamente, a consolidar o cenário que pretende evitar.

A suposta unidade em torno de Flávio Bolsonaro, sustentada por declarações protocolares como a de Tarcísio, pode não resistir ao tempo. No fim das contas, o que se desenha para 2026 é menos uma estratégia e mais um experimento de risco: colocar o nome de um herdeiro impopular à frente de um projeto que depende de alianças frágeis, apoios voláteis e um eleitorado que já demonstra clara fadiga com instabilidades. Se o “plano B” hesitar — ou se o centrão recuar — a direita pode, antes mesmo da campanha começar, entregar ao adversário a vantagem que prometia combater.

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