terça-feira, dezembro 23, 2025

Quando a eficiência não impede a barbárie


Por José Montalvão

A que ponto chegamos como sociedade? A pergunta ecoa com força diante de mais um episódio que expõe a insegurança, a desumanidade e a barbárie que insistem em se repetir, mesmo em estados que, como Sergipe, contam com uma polícia reconhecidamente eficiente e comprometida.

Um jovem pai de família foi brutalmente assassinado. Seu filho, menor de 16 anos, foi alvejado e sobreviveu por pouco. O “crime” cometido por ambos? Nenhum. Foram confundidos com um traficante. Uma confusão que custou uma vida, deixou outra marcada para sempre e destruiu uma família inteira.

Esse tipo de tragédia revela uma ferida profunda: a banalização da vida. Quando o erro se torna fatal, não estamos apenas diante de uma falha operacional, mas de um colapso ético, social e humano. Não se trata de atacar a instituição policial como um todo — até porque Sergipe tem, sim, forças de segurança que trabalham e arriscam a própria vida diariamente —, mas de reconhecer que eficiência não pode ser medida apenas por estatísticas, prisões ou apreensões. Eficiência verdadeira também passa por preservar vidas inocentes.

O problema vai além da polícia. Ele nasce em um contexto de violência estrutural, de estigmatização de jovens, sobretudo os pobres, que passam a ser vistos como suspeitos por padrão. Um cenário onde a aparência, o local onde se vive ou a simples presença na rua pode ser suficiente para uma sentença sem julgamento.

É inadmissível que um pai seja morto diante do filho. É revoltante que um adolescente carregue no corpo e na memória as marcas de um erro que não cometeu. Isso não pode ser tratado como “fatalidade”, nem resolvido com notas oficiais frias ou discursos protocolares.

Casos como esse exigem investigação rigorosa, transparência absoluta e responsabilização, doa a quem doer. Exigem também reflexão profunda sobre protocolos, abordagens, preparo psicológico e, sobretudo, sobre a cultura da violência que vai se naturalizando aos poucos.

A sociedade sergipana — e brasileira — não pode se acostumar com a morte injusta. Não pode aceitar que famílias sejam destruídas em nome de uma suposta guerra onde inocentes pagam o preço mais alto.

Enquanto a barbárie continuar encontrando justificativas, todos estaremos em risco. Porque quando a vida perde valor, ninguém está realmente seguro.

Abra o Link e assista esse vídeo:

https://g1.globo.com/se/sergipe/videos-setv-2-edicao/video/suspeito-de-envolvimento-na-morte-de-farmaceutico-em-aracaju-e-preso-14203825.ghtml

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