
Toffoli e Gilmar foram os únicos a tentar ajudar Moraes
Hélio Schwartsman
Folha
As escolhas profissionais de um indivíduo afetam seu estilo de vida. Se você quiser ter uma esposa, filhos e conviver publicamente com eles, risque o item padre católico de sua lista de opções. Se não desejar ser acordado no meio da madrugada por uma mãe aflita, descarte a pediatria em consultório particular.
Quem não se dispuser a trabalhar aos fins de semana não deveria ser mestre-cuca, garçom nem jornalista esportivo.
VIDA DE JUIZ – De modo análogo, candidatos a juiz de direito precisariam renunciar a uma vida social normal, se por “normal” se entende participar do circuito de festas, viagens e convívio intenso com a nata da sociedade.
Idealmente, magistrados iriam de casa para o trabalho e do trabalho para casa sem nunca confraternizar com políticos, empresários, advogados e promotores.
Os mais puristas, cuja posição vai ficando cada dia mais difícil criticar, defendem até uma PEC que, no espírito da igreja católica, inclua “celibatário e sem filhos” entre os requisitos para integrar o STF e cortes superiores.
PROMISCUIDADE – Se há algo bastante corrosivo para a credibilidade de decisões judiciais, são as relações promíscuas entre os tribunais e escritórios de advocacia de parentes dos ministros.
Não é porque o Judiciário é um Poder não eleito que ele não precisa legitimar-se diante da sociedade.
Os julgados podem e frequentemente devem ir contra a opinião majoritária, mas precisam ser percebidos como imparciais e livres de influências inconfessáveis.
VIOLAR O DEVER – Quando o magistrado viola esse dever de parecer honesto, não pode reclamar das cobranças que se seguem.
Alexandre de Moraes deve explicações sobre conversas que teve com o presidente do Banco Central em torno do banco Master, que contratara o escritório de sua família por valores bem acima dos de mercado, como revelou Malu Gaspar no jornal O Globo.
Ações de outros ministros do Supremo Tribunal Federal para avocar o caso para a corte, colocá-lo sob sigilo e para blindar seus integrantes de responder perante outros Poderes, só pioram a situação.