Gilmar citou intervenção de FHC em banco da família de nora
Gabriel Ferreira Borges
O Tempo
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes saiu em defesa nesta segunda-feira dos colegas Alexandre de Moraes e Dias Toffoli após virem à tona vínculos de ambos com o Master. Ex-presidente do banco já liquidado, Daniel Vorcaro é investigado pela Polícia Federal (PF) por suposta fraude de cerca de R$ 12 bilhões em títulos de investimento.
Após a colunista do jornal “O Globo” Malu Gaspar revelar que Moraes procurou o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para interceder a favor da venda do Master ao Banco Regional de Brasília (BRB), o decano do STF ressaltou que tem “absoluta confiança” no colega. “E não vejo nenhum problema”, apontou.
CONTRATO – Malu Gaspar já havia noticiado um contrato de três anos, avaliado em R$ 3,6 milhões mensais, entre o Banco Master e a mulher de Moraes, Viviane Barci de Moraes, para representá-lo. Entretanto, não há agendas registradas da advogada em nome de Viviane nem no Banco Central nem no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Gilmar classificou o escândalo do Banco Master como um sinal de que as instituições estão funcionando. “O Banco Central fez a intervenção (liquidação), houve a investigação, a prisão de pessoas etc. Portanto, a mim parece que é um sinal de que as instituições estão funcionando”, avaliou, em um café com jornalistas em seu gabinete.
Ex-advogado-geral da União do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ministro citou a intervenção do extinto Banco Nacional, em 1995, para minimizar eventuais conflitos. “O Fernando Henrique teve que intervir no Banco Nacional, que, de alguma forma, afetava a herança das netas dele, porque (o filho) Paulo Henrique era casado com uma herdeira”, exemplificou.
VIAGEM – O decano do STF também minimizou a viagem de Toffoli ao lado do advogado do ex-diretor de Compliance do Banco Master Luiz Antonio Bull, Augusto Arruda Botelho, em um voo privado para Lima, Peru, onde assistiram à final da Libertadores entre Flamengo e Palmeiras. “Duvido que tenham falado sobre alguma coisa que não seja futebol”, respondeu.
Gilmar lembrou que Botelho foi secretário de Justiça do Ministério da Justiça e da Segurança Pública quando Flávio Dino era ministro. “Todos nós (ministros) o conhecemos, o respeitamos e o receberíamos”, alegou. “De novo, um pouco essa ambiência de intriga… certamente ele seria recebido pelo Toffoli ou por qualquer outro ministro. Absolutamente normal”, rebateu.
CORRIQUEIRAS – Ele defendeu que as audiências oficiais entre ministros do STF e advogados são corriqueiras. “Alguns mais conhecidos nos contam histórias, falam que estão escrevendo um livro, nos chamam para o lançamento, às vezes nos pedem para prefaciar etc. Pierpaolo Bottini é uma pessoa que está sempre aqui. É preciso olhar com menos maldade e mais próximo da realidade”, argumentou.
Três dias depois do voo para Lima, Toffoli impôs sigilo nos autos do caso Master no STF e condicionou os próximos passos da investigação da PF ao seu crivo, já que, segundo ele, sem citar o deputado federal João Carlos Bacelar (PL-BA), havia investigados com foro especial por prerrogativa de função. Dias depois, o ministro recuou e flexibilizou o inquérito.