quarta-feira, dezembro 10, 2025

A emenda, o soneto e o Titanic do PL

 Por VLadimir Porfírio

                                         Foto: Carlos Moura/Agência Senado


O mais novo soneto bolsonarista apostou na candidatura presidencial do filho 01 como parte de mais um teatro de extorsão, tentando trocar a desistência da postulação pela liberdade do ex-presidente preso. Mais uma tentativa de chantagem mal-sucedida.


Na primeira vez, imaginaram que o tarifaço de Trump e a Lei Magnitsky poderiam servir de moeda de troca junto ao STF. Assim como nesta última  pressão pela anistia, o clã Bolsonaro busca evitar a condenação e prisão do ex-presidente. Mas deu ruim: fora o mercado financeiro, ninguém se sentiu ameaçado, quando Flavio Bolsonaro anunciou que a “manutenção de sua candidatura tinha preço” . 

Com o fracasso, coube ao zero-um assumir a tal candidatura como verdade pra valer, para desespero dos planos de Valdemar Costa Neto, que vive seu momento J.P. Morgan, de 1912. Naquela época, ,Morgan controlava um vasto império industrial e financeiro, incluindo a U.S. Steel, a General Electric e a holding proprietária do transatlântico Titanic. 

Símbolo da grandeza marítima, aquele transatlântico afundou após colidir com um iceberg, deixando 1.500 mortos ao sudoeste da costa do Canadá.

Assim como o Titanic, o PL hoje é apresentado como gigante inabalável, mas embarca em decisões suicidas. Vendido como inafundável, o navio foi a pique. O PL, por sua vez, pode acabar no fundo do mar.

A decisão do “mito” que insiste na candidatura presidencial de Flávio Bolsonaro,  repete a arrogância atribuída ao capitão Edward Smith, que ignorou alertas sobre campos de gelo na rota marítima. Dominado pela lógica falaciosa do “imbrochável”, Bolsonaro leva seu partido a situação de risco ao abraçar uma candidatura que fragmenta a direita e não demonstra apelo ou chance visível de vitória. 

Ele pode até mudar de ideia na última hora, salvando uma reeleição  garantida para Flavio na segunda primeira vaga do Senado, pelo Rio de Janeiro. Mas hoje,  Bolsonaro age como se não falasse de dentro de uma cadeia que o empurrou para a cova política que ele mesmo cavou.

A candidatura de Flávio Bolsonaro confirma que, para o ex-presidente, não existe direita legítima fora do espectro consanguíneo. É um padrão egocêntrico que ignora novas lideranças e até o potencial da própria Michelle, nome mais forte do campo conservador nas pesquisas. Para Bolsonaro, a vitória de 2026 só vale se for dinástica. Uma atitude que nao respeita a historia de triunfos de  Zema, Caiado ou Ratinho Junior.

Vendo o iceberg na rota, Valdemar preferiu simular resignação: “Se Bolsonaro falou, tá falado.” Mas o pragmatismo do chefe do PL já mobiliza gente qualificada para calcular o tamanho do buraco nas receitas do partido — que chegam perto de R$ 1 bilhão por ano, do dinheiro do contribuinte. Sem um nome forte para puxar o 22, Valdemar terá de administrar os danos em 2027. Especialmente com perdas no fundo eleitoral, calculado conforme as vezes em que o eleitor digita “22” para a legenda ou deputados federais. 

No melhor cenário, Valdemar gostaria de ter Tarcísio de Freitas assinando a ficha do PL, com Michelle Bolsonaro de vice. Mas, se a candidatura de Flávio não for blefe, o PL não repetirá a bancada de 2022 .

J.P. Morgan tinha uma suíte reservada no Titanic, mas cancelou a viagem na última hora — o que gerou teorias conspiratórias depois refutadas. Valdemar, por sua vez, deve perder a hora do embarque para o naufrágio. Ele mesmo dizia, em outros tempos,  que “vai até a beira do precipício numa aliança, mas não se joga no abismo”. 

Caso embarque num projeto de candidatura presidencial,  Tarcisio de Freitas confirmará sua imagem de politico ponderado, evitará mudanças abruptas e encabeçará uma chapa pelo Republicanos, entupindo as urnas com o número 10.

O soneto da postulação de uma candidatura que tinha preço foi uma lástima. A emenda foi ainda pior, com a insistência de uma candidatura presidencial de Flávio Bolsonaro. No fim das contas, ressuscitaram o PL da dosimetria, que pode acabar enterrando de vez o tese da anistia.

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