quarta-feira, dezembro 10, 2025

Pauta desta terça (9) mostra como esse jovem político, acompanhado de sua caterva diabólica, deseja mesmo converter o país num caos institucional de impunidade, patifaria e covardia

 Henrique Rodrigues

Escrito em Opinião
GloboNews/Reprodução


Vou começar esta análise com a devida vênia exigida ao parafrasear alguém tão célebre. “O diabo na rua, no meio do redemoinho”, é com esta frase que começa a maior obra da Literatura Brasileira, escrita pelo gênio mineiro João Guimarães Rosa. A sentença, que abre “Grande Sertão: Veredas”, ganhou inúmeras interpretações nas mais variadas exegeses deste clássico, mas a principal delas refere-se a um estado de coisas onde o mal, presente de forma incontestável, prevalece e faz seu estrago em meio a um pandemônio caótico desesperador.

Neste contexto, é Hugo Motta quem encarna o diabo, sentado no ponto central e mais alto da Câmara dos Deputados, o redemoinho que gira violentamente de tal forma que seu vórtice acaba por sugar o país e a sociedade brasileira. A pauta divulgada pelo jovem político paraibano para ser votada nesta noite (9) é apenas a prova material do quanto ele se esforça para assumir esse papel de demônio que devora os últimos resquícios de moralidade que resistem no país.

Flávio Bolsonaro, um sujeito conhecido dos brasileiros apenas por dois fatores, por ser filho de um homem de cariz psicopático que conquistou mentes e corações desajustados e por ter virado sinônimo de corrupto para muita gente após o escândalo das rachadinhas, colocou seu “preço”. Hugo Motta, por sua vez, aceitou “pagar”, em que pese o fato de ter barganhado um “bom desconto”.

O PL da Dosimetria é uma bofetada seca na cara do Brasil, pois atenua e alivia as penas para um grupo de golpistas que tramou até assassinatos para pôr abaixo a nossa democracia. É indiscutível que qualquer arranjo para beneficiar essa gente, especialmente o ex-presidente criminoso, é rechaçado pela maioria da sociedade e isso está amplamente demonstrado em várias pesquisas de opinião dos mais diversos institutos.

Tal estado de coisas só se instalou porque Motta, para além de um demônio, é um fraco. Ele sentou-se no redemoinho para depois perceber que não tinha condições alguma de domar o vento. Não é que ele seja o pior dos homens em meio à galeria escatológica dos que já presidiram a Câmara, como Eduardo Cunha, Rodrigo Maia ou Arthur Lira. O problema reside em tentar contornar essa fraqueza com a pior das estratégias, que é agir como um paga-lanche. Ou seja, um fraco. Aquele que cede a tudo e embarca na patota dos vilões buscando algum nível de interação, sempre tentando disfarçar sua incapacidade de liderar quem quer que seja.

Óbvio que sobre este demônio, e se tratando do referido redemoinho, Motta está longe de poder ser classificado como ingênuo. Pelo contrário, haja vista seu papel de ponta de lança na PEC da Bandidagem, que por sinal naufragou (graças a Deus) justamente por sua inépcia e inabilidade política. Ficou com a brocha na mão e se passou por chefe da pilantragem na frente de todo o Brasil quando a diabólica proposta foi enterrada no Senado, após um estrondoso grito das ruas.

Claro que na decisão de pautar o PL da Dosimetria para esta noite a coisa veio construída a várias mãos, entretanto, o rapazote que incinera os últimos fiapos da decência nacional teve papel central ao admitir tal despautério. E mais: ele deu seus pitacos e suas pitadas de velhacaria. Na prática, aceitou pagar o “preço” de Flávio, ainda que abaixo do lance inicial, mas aproveitou para encaixar as questões relacionadas aos colegas que ainda não tiveram o mandato retirado após determinação judicial.

E é neste ponto que vem uma nova labareda calcinante no inferno dirigido por Motta. Ele cita Eduardo Bolsonaro, o irmão de Flávio, como alguém que “pode perder o mandato por faltas”, como se os atos criminosos de lesa-pátria desse abutre não tivessem ocorrido. Na vida real, a intenção do jovem paraibano é retirar o poder do traidor apenas por um ano, para que em 2026 ele seja reeleito, já que não perderá os direitos políticos. Mas o maior absurdo ainda estaria por vir.

Na mesma toada, ele coloca conjuntamente aos nomes de Eduardo, Carla Zambelli e Alexandre Ramagem, três notórios criminosos golpistas, sendo os dois últimos já condenados e foragidos, o nome de Glauber Braga. Sim, ele junta a essa caterva um deputado de conduta ilibadíssima, de esquerda, que não fez absolutamente nada de errado ou ilegal, e que enfrenta uma máquina draconiana de moer reputações após ter batido boca e dado um pontapé simulado na bunda de um radical de extrema direita que havia insultado sua mãe, uma idosa em estágio terminal de Alzheimer que faleceria dias depois do episódio.

Trocando em miúdos, o gerente do inferno dos absurdos conseguiu organizar para uma mesma noite a maior de todas as orgias do redemoinho das indecências. Livrará significativamente a cara de Jair Bolsonaro e de seus comparsas, pagará o “preço” de Flavinho para retirar sua candidatura, o que viabilizará o nome de seu correligionário Tarcísio de Freitas, brindará com uma tetinha o traidor da pátria Eduardo, que retornará para um novo mandato o ano que vem e, por fim, ainda retirará da Câmara um dos nomes mais combativos e probos entre seus adversários políticos.

É muita coisa para se entender de uma vez só, não é? Pois acredite, no inferno conduzido por Hugo Motta é sempre assim, tudo muito caótico e desordenado. Mas no final as coisas se acomodam, com o fragilíssimo rapaz sentado em sua almofada cadeira fazendo cara de sério, o Brasil todo incrédulo e a safadeza prevalecendo, enquanto o cidadão resignado apenas repete “Congresso inimigo povo”. Aliás, ele odeia essa frase e reage irritado a ela. Normal, os demônios, para além de tudo, são egocêntricos e narcisistas. Não sei se é o caso de Motta, mas decerto é o caso dos demônios. E isso eu posso garantir.

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