Glauber protestava contra a votação de sua cassação por quebra de decoro parlamentar, depois que seu delito (confrontar fisicamente um militante do MBL que o perseguia com ofensas) foi amplificado pela antipatia dos colegas, sobretudo de Arthur Lira, por ele ter denunciado o orçamento secreto. Também se insurgia contra a votação surpresa do projeto casuístico da “dosimetria”, que pode livrar Bolsonaro da maior parte do tempo que tem a cumprir na cadeia, onde está por determinação do STF, depois de passar por um processo penal conduzido publicamente, com apresentação de provas e amplo direito de defesa.
Este projeto seria aprovado horas depois, com uma vergonhosa votação na madrugada comandada por Hugo Motta, coroando seus disparates autoritários. Entre os argumentos para convencer os menos alinhados estava, claro, o dinheiro. Uma conversa entre deputados flagrada pelas repórteres Victoria Azevedo e Camila Turtelli do jornal “O Globo”, logo depois da reunião dos líderes que levou a anistia de Bolsonaro e outros golpistas à votação, revela as motivações pouco republicanas da negociação.
Mas os atentados contra a democracia e as instituições não parou por ali. A Câmara também manteve o mandato da deputada Carla Zambelli, condenada por dois crimes pela Justiça brasileira e presa na Itália. A cassação já havia sido aprovada na CCJ da própria Câmara, mas nem isso foi respeitado pelos deputados.
Glauber também se livrou da cassação – o que mostra que seu protesto talvez não tenha sido em vão, ainda que por enfraquecer o presidente da Câmara – mas foi suspenso por seis meses. Ao cair atirando, fez mais do que se defender: escancarou a injustiça do tratamento desigual entre aliados e adversários políticos e o cinismo de Motta em defesa da direita, favorecendo a aprovação do PL Salve o Bolsonaro, que além de casuístico, o que contraria os princípios básicos de legislar sem privilegiar pessoas, também beneficia condenados por coação, incêndio e outros crimes.
Enquanto aguardamos a votação do Senado para saber o desfecho desse episódio vergonhoso, assimilamos mais um golpe contra a democracia desferido pela extrema direita e o centrão em estreita cooperação com Hugo Motta. Glauber perdeu o terno, rasgado pela segurança de Motta, mas o presidente da Câmara foi despido da fantasia de democrata aos olhos do público, da imprensa e perante a história do país, que mal conseguiu comemorar a punição inédita aos golpistas que mais uma vez atentaram contra nosso país.