
Charge do Cláudio Oliveira (Folha)
Luiz Felipe Pondé
Folha
O testamento político do século 21 até agora é um mau presságio. Vivemos no Brasil um drama em dois polos. A esquerda é autoritária, a direita é incapaz. No primeiro caso vemos uma forma sofisticada de cegueira cognitiva e moral: aquela causada pela ideologia política. Não importa a realidade, ela deve prestar contas à estupidez ideológica.
Associado a isso, o drama moral que caracteriza todo um universo de pessoas que dizem representar o bem, mas que, no final do dia, só querem manter o poder e usufruir dele, como quase todo mundo nesse “mercado político”.
INCOMPETÊNCIA – Na direita, formada, normalmente, por gente tosca como o bolsonarismo, o problema hoje é a incompetência dos seus candidatos as eleições de 2026, marcados pela incapacidade de superar o bolsonarismo. Enquanto a direita não escapar da contínua chantagem emocional que a família Bolsonaro faz com o destino político do país, Lula será reeleito até completar cem anos.
O uso do vocabulário religioso por parte do bolsonarismo só humilha aqueles que buscam opções à gangue do PT. O país se afoga na delinquência política. Os bolsonaristas querem transformar uma figura cada vez mais patética como o Bolsonaro num “mito”. Não fica longe da esquerda querendo fazer de um inepto como o Lula um Ghandi ou um Mandela.
A COP30 do Lula é a imagem de um país à deriva institucional: muita bravata, nenhuma infraestrutura, muita propaganda petista, quilos de leviandade. Aliás, a leviandade brasileira atingiu o nível institucional. Nenhum dos poderes da República escapa mais. O Estado brasileiro despreza seu povo e cuida muito mal dele. O resto é blábláblá. O Estado opera contra o cidadão.
IMPRENSA INÚTIL – E pensar que toda essa patifaria conta com a anuência da maior parte da imprensa que lambe as botas do Lula, descaradamente. Fosse um presidente que não pertencesse à gangue, a imprensa teria descascado essa coisa ridícula que foi essa balada em Belém, com direito a incêndio, falta de água nas privadas e bate boca com o chancelar alemão, que nada disse além da verdade nua e crua sobre o evento e sua organização. O Brasil nunca foi um país sério.
Diga-se de passagem, que as COPs em geral não servem para nada, a não ser para coquetéis intermináveis que sempre morrem na praia, afinal, elas não têm nenhuma soberania, quem a tem são os estados nacionais. Neste sentido são ainda mais inúteis do que os concílios bizantinos do cristianismo antigo.
Há problemas estruturais no Brasil. Por exemplo, a possibilidade legal de uma pessoa, pouco importa de qual partido, se candidatar várias vezes ao cargo de presidente só destrói a saúde institucional do STF. No caso de Lula ser reeleito para um quarto mandato em 2026, ele terá a chance de indicar mais três ministros para as vagas de Carmén Lúcia, Gilmar Mendes e Luiz Fux.
“IRMANDADE” – Dos 11 membros, nove serão petistas. E não tentem nos enrolar dizendo que “a competência os torna independentes”. No Brasil de hoje, a independência de ação e pensamento se conta nos dedos. E é passível de punição legal e profissional. A independência gera demissões. A “irmandade ideológica” destruiu a vida política nacional e o intelectual público, aliada a clássica corrupção de caráter.
Há outros elementos estruturais, que transcendem o Brasil em si, mas, que se somam a catástrofe institucional que se abateu sobre o Brasil. Vejamos. Democracia é um regime em que a sociedade organiza uma competição legítima por votos. Quem vence, manda.
A democracia atribui a maior parte da sua soberania via essa competição por votos.
consequência inevitável desse procedimento de atribuição da soberania: nenhum candidato viável será virtuoso até o fim das eleições pois fará de tudo para vencer a competição por votos.
BRIGA EXTREMA – Toda vez que há uma disputa séria para se conquistar o poder legítimo, ocorre violência para valer, a briga é para matar. E num quadro em que, cada vez mais, o Estado só cresce e enfia seus tentáculos e suas patas adentro de toda a estrutura social, política e histórica, a tendência é que essa competição por votos se torne mais selvagem, para abocanhar mais territórios de poder na sociedade e na vida das pessoas.
Se o país for estruturalmente corrupto como o nosso, a tendência é a baixaria moral reinar absoluta. O Brasil permanece um sistema de capitanias hereditárias, e a família Bolsonaro gostou de fazer parte do grupo de capitães hereditários e não quer lagar o osso, mesmo que condenem o país a mais quatro anos de tortura sob as botas do casal Lula-Janja.
Suspeito que estão dispostos a rifar 2026 a fim de melhorar as chances do clã em 2030.