Helio Fernandes
A recordação de fatos é sempre importante, embora alguns não reconheçam. A comparação que fiz sobre o 12 de outubro de 1977 e o 12 de outubro de agora, 33 anos decorridos, provocou compreensão e incompreensões, o que é natural, e gosto que seja assim.
Os que discordavam, não tinham base, razão ou motivo para mostrar irritação. Diziam, textualmente: “Os que escrevem no Blog de Helio Fernandes só se preocupam com o passado, não sabem escrever sobre o presente?”
São contestados pelos que “postam” matérias defendendo a exposição ou recordação do passado, que com o debate, vai tomando a sua base definitiva. É preciso rever sempre o que aconteceu, para que tenhamos orientação ou reflexão, os erros não se repitam.
A propósito de erros ou equívocos, agradeço aos que corrigiram o nome do ministro que substituiu Silvio Frota. Coloquei HUGO Bethlem, era Fernando Bethlem. Como escrevo sempre de memória, não consulto nada, posso “entortar” um nome. Mas quem já escreveu, lembrou ou teve conhecimento para fazer essa comparação, importantíssima?
Um ex-agente do Codi-DOI, que diz que me acompanha desde os anos 60, tenta defender Silvio Frota. “Ele nunca foi torturador”. Não afirmei isso, apenas disse “que o seu grupo era torturador e duríssimo”.
Silvio Frota, que não era brilhante nem estudioso, fiz justiça, dizendo que “ele escreveu (?) um livro importante, contando fatos interessantíssimos”. Mas se perde nas lembranças, pelo ódio a Ernesto Geisel. E compromete o livro e ele mesmo, quando diz textualmente, sem precisar de interpretação: “Eu sempre soube que Ernesto Geisel era COMUNISTA”.
Silvio Frota poderia atingir Geisel de várias maneiras, menos dizendo que era COMUNISTA. Isso provocou gargalhadas e diminuiu o livro, que insisto, conta fatos relevantes. A propósito da ida de Geisel a São Paulo para demitir o comandante do II Exército, dois fatos precisam ser ressaltados. Desculpem contestar os que “postaram” opiniões diferentes, que respeito, mas tenho que divergir.
1 – Nunca, jamais, em tempo algum (expressão popular), se acreditava que numa ditadura, um “presidente” com todos os Poderes como Geisel, fosse demitir um general de 4 Estrelas, comandante de um Exército, o II, todos os quatro eram igualmente poderosos.
O fato explodiu no Exército ( e nas outras duas Forças, Marinha e Aeronáutica) de maneira espetacular. Era a primeira vez, e a segunda foi a demissão do próprio Frota.
2 – Contestam o assassinato de Herzog e de Fiel Filho, com mais ênfase para o primeiro, tentando diminuí-lo, “ele era um burocrata, ninguém o conhecia, por que prendê-lo, torturá-lo e, como o senhor diz, assassiná-lo?”
É possível que Herzog não deveria ser preso (ninguém deveria), foi um erro total, completo e absoluto.
Na verdade, concordo com os que dizem, “Herzog não ameaçava o regime, ninguém o conhecia, fora do grupo da TV Cultura de São Paulo”. Pode até ser exato que ele, vivo, não ameaçava o regime. Só que morto, passou a DIVIDIR A REALIDADE, EM ANTES E DEPOIS DO ASSASSINATO. Pode ser dito que o assassinato de Herzog encurtou o tempo da ditadura, acelerou a sua queda.
Quando à TORTURA e o ASSASSINATO, minha tese é que ele foi entregue a amadores, que na preservação da vida ou na sua destruição, representam a PRAGA da humanidade. Provavelmente não queriam ASSASSINAR HERZOG, como também ASSASSINAR Rubem Paiva, mas AMADORES NÃO SABEM QUANDO PARAR.
Outros contestam sem razão, “o senhor errou, Figueiredo não era chefe da Casa Civil de Geisel”. Citei seu cargo exato, Chefe do SNI, não só porque conhecia bem os fatos, mas também porque o SNI era a maior força do País. Médici foi “presidente” por ser do SNI, Figueiredo escolhido no SNI. E se houvesse um novo “presidente” militar, duas coisas aconteceriam.
(Esse “presidente” seria o Chefe do SNI, Otavio Medeiros. E seu mandato seria de 7 anos).
Castelo Branco (como confessou e garantiu a Juscelino) seria “presidente” para manter a “eleição em 1965”, foi prorrogado. Médici teve 4 anos. Geisel 5. Figueiredo 6, se a ditadura continuasse, o novo general teria mais um ano. Isso não é adivinhação: análise baseada em fatos.
(Só de passagem, algum dia contarei mais detalhadamente. Castelo Branco estava “apressado para ser eleito”, o estabelecido é que o “presidente” seria Costa e Silva, que estava em São Paulo. Castelo teve então dois encontros, importantíssimos, na casa do deputado Joaquim Ramos, irmão de Nereu Ramos, ex-presidente, governador, ministro da Justiça).
(No primeiro, Castelo, Negrão de Lima. José Maria Alckmin, Amaral Peixoto, presidente do partido mais importante da época, o PSD, e o dono da casa. No segundo, os mesmos e mais o ex-presidente (sem aspas, sem aspas) Juscelino. Castelo se dirigiu diretamente a Juscelino, com estas palavras, citadas, palavra por palavra: “Presidente, quero ser eleito pelo Congresso, meu único objetivo é manter a eleição de 1965. E o maior interessado é o senhor, já candidato lançado pelo seu partido”. Era verdade.
O que JK podia fazer? Se dissesse NÃO, poderia até ser ridículo. Disse SIM, quando recomendou aos partidos que ELEGESSEM Castelo, surpresa total, mas votaram.
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PS – Era tudo “menas” verdade de Castelo. “Eleito”, Costa e Silva tratou de ficar com o Ministério da Guerra. E 3 ou 4 meses depois, o ex-presidente e senador Juscelino, era cassado.
PS2 – Castelo continuou faltando à verdade, escrevi tanto sobre ELE e SEU FALSO GOVERNO, do dia 9 de abril de 1964, até 15 de março de 1967.
PS3 – Nunca um presidente faltou tanto em relação aos fatos e às próprias palavras e compromissos. Por isso, não podemos esquecer, para que a HISTÓRIA NÃO SE REPITA, O QUE ESTÁ PRATICAMENTE NA HORA DE SE REPETIR.
PS4 – Faltam 17 dias para a ESCOLHA sem povo, 78 dias para a posse sem AUTORIDADE. Seja homem ou mulher.