Ministros das Comunicações, Turismo e Integração estão envolvidos em escândalos de dinheiro público; os casos aconteceram antes das nomeações para os ministérios
Por Manuel Marçal
Ao completar 50 dias do governo Lula, a Transparência Internacional Brasil (TIB) cobrou posicionamento do presidente da República sobre os escândalos com dinheiro público que pairam sobre o nome de três ministros.
Os casos ocorreram quando eles ainda não tinham sido nomeados, mas vieram a público após serem indicados para compor a gestão do petista. “Estamos há 50 dias com ministros envolvidos com escândalos de dinheiro público. O que o governo Lula vai fazer a respeito?”.
A ONG lembrou que o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), indicou R$ 5 milhões do Orçamento Secreto para asfaltar uma estrada que vai até a própria fazenda, no Maranhão. O caso foi revelado pelo jornal Estado de S. Paulo.
Do mesmo partido de Juscelino Filho, a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, é suspeita de desviar verbas públicas durante a sua campanha para deputada federal e de ter ligações com integrantes de milícias no Rio de Janeiro. Um dos criminosos foi condenado a mais de 20 anos de prisão.
Outro caso também é do ministro da Integração e Desenvolvimento Regional Waldez Góes (PDT). Ele chegou a ser preso pela Polícia Federal por crimes de peculato, fraude em licitação e associação criminosa.
Góes foi condenado, em 2019, a 6 anos e nove meses de prisão pela Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) por crime de peculato. A defesa do político apresentou recurso, que está parado no Supremo Tribunal Federal por pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes.
A Transparência Internacional chegou a contestar a indicação dele para o cargo e, à época, disse que Waldez Góes entrava no governo “pela cota do Centrão, que consegue achacar qualquer governo, à direita ou à esquerda”.
O ex-governador do Amapá “é um dos principais aliados de Arthur Lira (PP-AL) e deve comandar de perto a Codevasf, estatal loteada pelo Centrão e que durante o governo Bolsonaro abrigou grandes esquemas de corrupção abastecidos pelo Orçamento Secreto”, escreveu o TIB.
A indicação de Góes para o cargo de ministro foi articulada e apadrinhada pelo senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). A expectativa é que ele se desfilie do PDT e migre para o União Brasil.
“Ministros envolvidos com desvio ou mau uso do dinheiro público estão no governo, que ainda não fez nada para tirá-los de seus cargos”, reclamou a ONG.
Lula tem tentado minimizar os escândalos que envolvem seus ministros para evitar desgaste da imagem do governo. O petista já adiantou que, eventual demissão do alto escalão, ficaria condicionado a uma “análise interna” de cada caso pela Controladoria-Geral da União (CGU).
“Nós vamos ver internamente, através da CGU, para saber se tem procedência a denúncia. Se tiver procedência a denúncia, o ministro será afastado. Se não tiver procedência, segundo a CGU, vamos dizer que não tem procedência”, declarou à CNN Brasil em entrevista na última quinta-feira (16).
Na mesma entrevista, o presidente da República falou, pela primeira vez, sobre o caso do ministro das Comunicações. Ele disse que durante a sua viagem aos Estados Unidos, no início deste mês, ordenou que Alexandre Padilha (Relações Institucionais) desse uma primeira explicação ao governo.
“Quando saiu a denúncia do ministro Juscelino, eu liguei para o Padilha. Eu estava nos Estados Unidos e falei: ‘Padilha, eu quero que você converse com Juscelino. Eu quero que você ouça a explicação dele, porque ele tem que se explicar corretamente para os meios de comunicação’. E vai ser assim que vai acontecer com todas as denúncias”, disse o presidente. A ligação telefônica, porém, ocorreu 12 dias após saírem as primeiras reportagens mostrando o escândalo envolvendo Juscelino Filho.
Lula também tentou atenuar as denúncias contra a ministra do Turismo. “Eu, sinceramente, se for levar em conta pessoas que estão em fotografia ao lado de pessoas outras, a gente não vai conversar com ninguém porque eu sou o cara que mais tira fotografia no mundo”, afirmou à CNN.
Na primeira reunião ministerial do seu governo, no dia 6 de janeiro, o presidente da República chegou a dizer que vai tratar os ministros como “uma mãe”, mas que em “fizer coisa errada” vai ser convidado a deixar o governo e até mesmo investigado.
"Todo mundo sabe da nossa responsabilidade, todo mundo que é nossa obrigação fazer as coisas corretas, é fazer as coisas da melhor forma possível. Quem fizer coisa errada, a pessoa sabe que só tem um jeito. A pessoa será, simplesmente, da forma mais educada possível, convidada a deixar o governo. E se cometeu algo grave, a pessoa terá que se colocar diante das investigações e da própria Justiça".
O petista não fez menção direta ao nome da ministra durante a reunião. Em coletiva de imprensa após o encontro, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, negou que o caso de Daniela tenha sido debatido entre Lula e os ministros.
O Tempo