Publicado em 16 de fevereiro de 2023 por Tribuna da Internet

Campos Neto disse que investidores devem ter ‘mais boa vontade’ com governo
Pedro do Coutto
O confronto entre o governo e o Banco Central, previsto para hoje no CMN, foi adiado para uma próxima oportunidade no que se refere à meta de inflação para este ano, e que o Banco Central estima em apenas 3,7%. Houve algum posicionamento de parte do presidente Lula que causou a trégua, uma vez que o objetivo inicial era que, como membros do Conselho Monetário Nacional, o ministro Fernando Haddad e a ministra Simone Tebet contestassem a previsão.
Mas o problema continua, pois a contradição não se encontra apenas na projeção dos juros, mas também nos 13,75% ao ano estabelecidos pela taxa Selic que funcionou em função da inflação de 2021, que foi de 10%, e que a meu ver foi surpreendentemente mantida pelo Bacen quando a inflação de 2022, segundo o IBGE, foi de apenas 5,7%. Os juros reais, portanto, taxa menos inflação, alcançaram de três pontos para oito pontos percentuais. O índice Selic é aplicado para corrigir a dívida interna brasileira.
DECLARAÇÃO – Campos Neto também foi de uma infelicidade enorme ao dizer que o empresariado nacional precisa ter boa vontade para com o governo Lula, como se o governo dependesse da boa vontade de empresários. O presidente do Bacen está confundindo a autonomia da sua posição com a autonomia política geral do país.
Não havendo coincidência entre as duas correntes, é claro que Campos Neto tem que deixar o posto. Caso não, o presidente do Banco Central teria um poder igual ao do presidente da República. Campos Neto está se deslumbrando com um poder que não possui. Ele pode divergir do governo, mas se essa divergência se aprofundar, ele tem que deixar o posto.
No Congresso, o PT continua atacando Roberto Campos Neto. O assunto é exposto na reportagem de Eliane Oliveira, Manoel Ventura, Fernanda Trisotto, Renan Monteiro, Ivan Martinez-Vargas, Flávio Tabac e Nicolas Iory, O Globo desta quarta-feira. O impasse prossegue e terá novas etapas pela frente.
RETORNO – Bolsonaro afirmou que voltará ao país em março e assumirá a liderança da oposição a Lula. Portanto, abre-se um novo capítulo do bolsonarismo contra Lula. Bolsonaro, que chegou a admitir pedir asilo político na Itália, mudou de opinião e resolveu partir para uma nova frente de combate antes mesmo que termine o seu julgamento do Tribunal Superior Eleitoral e por tribunais de Primeira Instância para os quais o Supremo transferiu diversos processos contra ele.
Sinal que Bolsonaro conta com a mobilização de um setor militar expressivo para liderar a oposição anunciada. O projeto de decreto que estabelecia a intervenção do TSE e anula as eleições de 2022 encontrado na residência do ex-ministro Anderson Torres foi incluído no processo contra Bolsonaro na medida em que o recurso de seus advogados foi rejeitado por unanimidade. Bolsonaro deixou sua marca na investida golpista e agora anuncia o seu retorno ao Brasil. Decidiu enfrentar diretamente os processos e confrontar-se com a Justiça Eleitoral.