Publicado em 1 de fevereiro de 2023 por Tribuna da Internet
Bruno Boghossian
Folha
Mesmo que Lula não tenha enfrentado surpresas nas eleições do Congresso, o governo está longe de sair da disputa numa situação confortável. A lavada de Arthur Lira (PP) na Câmara, com 464 votos, e a vitória com folga de Rodrigo Pacheco (PSD) no Senado, com 49 votos, devem deixar uma fatura alta para o presidente na montagem de sua base de apoio.
A adesão em massa à reeleição de Lira transformou o deputado numa espécie de operador soberano do plenário. Ao anunciar a decisão de não interferir na disputa, o governo precisou abrir mão de exercer seu poder de coordenação política e deixou o caminho livre para que o atual presidente da Câmara organizasse sua própria coalizão.
MUITA INFLUÊNCIA – Com uma reeleição maiúscula, Lira demonstra influência sobre deputados que, hoje, estão fora da órbita do governo.
Aliados do presidente da Câmara e políticos governistas dizem que esse quadro obrigaria Lula a chamar Lira para participar da distribuição de verbas e cargos para esses parlamentares.
O presidente da Câmara entraria nessas negociações como o líder de deputados que não foram atendidos na conturbada partilha de ministérios —tanto em legendas que se declaram independentes (PP e Republicanos), como naquelas que ficaram rachadas (União Brasil).
NEGOCIAÇÃO INSUFICIENTE – A eleição desta quarta-feira também está dando a Lula a prova final de que a negociação de cargos no primeiro escalão foi insuficiente para construir uma base aliada firme no Senado. Nos últimos dias, o governo precisou abandonar o discurso de neutralidade e entrar no circuito para tentar evitar uma possível derrota de Rodrigo Pacheco (PSD).
Num esforço para evitar votos no bolsonarista Rogério Marinho (PL) dentro de partidos da aliança governista, operadores de Lula tiveram que antecipar uma oferta de cargos na máquina pública que só deveria ocorrer depois da eleição.
Agora, com a vitória de Pacheco, o governo terá que honrar a dívida com esses senadores. Mesmo assim, o placar de 49 a 32 mostra que Lula terá de empenhar para evitar derrotas no plenário do Senado.