
Charge do Gilmar Fraga (gauchazh.clicrbs.com.br)
Pedro do Coutto
Fazendo-se um balanço dos fatos que ocorreram na última semana, chegamos à conclusão, absolutamente dramática, talvez até trágica, constatando com dados do próprio IBGE e da ONU, que 33 milhões de brasileiros e brasileiras não têm o que comer e passam fome.
Outros 60 milhões vivem sob insegurança alimentar que se manifesta através da dúvida constante se no dia seguinte a família terá o que comer e, sobretudo, alimentar os seus filhos. Dados do Serasa informam ainda que 66 milhões de pessoas estão com contas atrasadas de vários tipos.
DESASTRE – Esse é o resultado da política do ministro Paulo Guedes de aceitar a liberação total de preços de um lado e impor o congelamento salarial de outro. Nem o desconto dos pagamentos antecipados do Imposto de Renda na fonte foram reajustados de acordo com a inflação dos últimos três anos. O IR assim aumentou concretamente na escala de 26%. Nesse caso, para a classe média.
Mas o panorama geral é desolador, sobretudo porque não há nenhum vento de esperança soprando na fronte dos eleitores e eleitoras. O projeto econômico-social de Paulo Guedes é o maior adversário que o presidente Bolsonaro enfrentará nas urnas de 2 de outubro próximo.
As coisas chegaram a um ponto em que, reportagem de Vítor da Costa, O Globo, está se tornando um hábito viabilizado através de agências de crédito, os trabalhadores buscarem antecipação mensal de salário até o limite de 40% para pagar as suas contas para evitar o desligamento de serviços essenciais.
DÍVIDAS – A inflação de dois dígitos levou os brasileiros a recorrerem ao salário do mês seguinte para pagarem a dívida de hoje. O serviço de antecipação tem até o envolvimento de terceiros intermediando. Desde 2012 tem aumentado os pedidos desse tipo.
A vice-presidente do Creditas Benefícios, Viviane Sales, afirma que a antecipação é vantajosa para os empregados, pois não precisam recorrer a créditos com juros mais altos. Nas contas de Viviane Sales, 80% da população do país está endividada de alguma forma e cerca de 50% encontram-se com a sua renda comprometida.
Outra empresa que atua no ramo é a Paketá que oferece crédito consignado e recebe pedidos de antecipação de salários com base no sistema. Na consignação, entretanto,existe uma taxa de juros de 1,7% a 1,9% ao mês, o que significa uma taxa superior de 20% ao ano. Como os salários não acompanham a inflação, quando o assalariado entra no sistema de crédito, não poderá dele sair.
AUXÍLIO BRASIL – Na Folha de S. Paulo de ontem, Natália Garcia e Eduardo Cucolo, revelam que o empréstimo consignado com base no Auxílio Brasil abriu um pré-cadastro (vejam só) com os juros que podem atingir 79% ao ano. Ione Amorim, coordenadora do Programa de Serviços Financeiros do Instituto de Defesa do Consumidor, afirma que, nas vezes em que houve ampliação da margem consignável, as contratações dispararam, com muitas concessões sem consentimento, o que foi seguido por uma explosão de reclamações.
Ela avalia que o mesmo deve ocorrer em relação ao auxílio e diz que já há relatos de beneficiários vitimados por golpes aplicados por pessoas de fora do sistema bancário.Especialistas da Defesa Nacional do Consumidor identificam em tal sistema de consignação um terreno para fraudes e aplicação de golpes.
ADEUS A ARTHUR POERNER – Li na edição de sábado de O Globo sobre o falecimento do jornalista José Arthur Poerner que trabalhou no Correio da Manhã na minha época e que era uma cordialidade e de uma honestidade profissional imensas.
Há mais de dois anos, não tínhamos um encontro presencial. A última vez, foi em um almoço anual que reúne os que trabalharam no grande jornal que desapareceu na névoa do tempo. Uma pena a morte de Poerner.