Pedro Venceslau
Estadão
Aliados da senadora Simone Tebet (MDB-MS) e do ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE) estão promovendo uma aproximação dos dois pré-candidatos à Presidência. Segundo o cientista político Carlos Melo, esse pacto de não agressão entre os dois presidenciáveis deve se refletir em campanhas distintas, que devem ser reavaliadas, para conquistar o eleitorado indeciso e que não pretende votar em Lula (PT) ou Bolsonaro (PL).
O centro político, caracterizado nas pré-candidaturas de Simone Tebet e Ciro Gomes, indica que pretende evitar ataques mútuos na campanha. Como o sr. avalia essa disposição?
Ninguém disputa o terceiro lugar. No caso de Simone Tebet e Ciro Gomes, se um bater no outro, os dois caem fora. Bolsonaro quer Lula como adversário e vice-versa. Portanto, os outros ficam falando sozinhos. Eles vão ter de romper essa barreira. A primeira pergunta é: por que são centro? Não ser nem Lula nem Bolsonaro não qualifica ninguém.
Quais as condições dos principais candidatos alternativos?
Ciro tentou se posicionar como algo mais propositivo, mas encontrou o teto e agora a estratégia é esperar que o Bolsonaro se inviabilize para que o antipetismo o avalie como um anti-Lula não bolsonarista. Já Simone se coloca de duas formas genéricas: nem Lula nem Bolsonaro e, depois, se diz candidata das mulheres, o que parece pouco. Basta o bolsonarismo dizer que esse argumento serviu para Dilma Rousseff, a presidente cassada.
Isso leva a campanhas mais propositivas?
Ciro não tem expressado proposições ultimamente. Vejo ele insistindo pouco. Não adianta ficar falando em projeto se isso não trouxer mais votos. Claro que em alguns momentos vai ter propostas, mas não vejo espaço para uma campanha mais propositiva dele. Já a identidade que Simone vai buscar com as mulheres tende a passar pela questão econômica e como resolver o problema do aumento de preços, porque há uma intersecção entre economia e voto feminino. Quando ela fala que mulher vota em mulher, vai ter de diferenciar propostas feministas das sobre a condição feminina. Não adianta falar só sobre antipetismo.
Como o centro deve influenciar um eventual segundo turno?
Ciro e Simone vão ser pressionados em relação à questão democrática. Se é um centro democrático, a tendência é se posicionar a favor da democracia, e nesse sentido o Bolsonaro tem sido bastante controverso. Se é um centro fisiológico, vai acabar se definindo por aquele que tem mais chances de ganhar a eleição. Há casos no centro que vão assumir um papel ideológico e não vão apoiar nem um nem outro.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – De toda forma, a aproximação entre Simone Tebet e Ciro Gomes (não necessariamente nesta ordem) é importantíssima e vem sendo defendida por importantes lideranças, como o ex-senador Pedro Simon. Um expressiva faixa do eleitorado, com mais de 30%, não aceita votar em Lula ou Bolsonaro. Como não há alternativa, esses eleitores acabarão apoiando a chapa Ciro/Tebet ou Tebet/Ciro, que vai incendiar essa campanha. (C.N.)