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segunda-feira, agosto 02, 2021

“ Meu barco vence o tempo e vence o medo Mas rebenta seus mastros, seus velames E chega a praia naufragado.”

 Por:   Por Francisco Rollemberg, médico e ex-senador.


Acordo para atender o telefone, era o Samarone, fiquei preocupado, o que será?
Era para me comunicar, já que sou seu inveterado leitor, dos seus propósitos de consolidar em um livro os seus escritos e que gostaria de algo meu ali.
Fiquei muito honrado com o convite, mas ponderei que com a quarentena que me submeto a inspiração não chega, haja vista o bombardeio diário e aterrorizante da mídia que não nos permite pensar, quanto mais redigir algo, embora as ideias estejam a borboletear em torno das nossas mentes.
Vivemos momentos trágicos que estão a nos lembrar sempre, e a toda hora das nossas fragilidades.
Como Samarone, também sou do interior, onde aprendi a viver e conviver com a simplicidade da vida, da religião e dos sofrimentos humanos.
Recordo-me que na minha infância em Laranjeiras ouvia de meus pais os relatos das epidemias que por lá passaram, como a peste a varíola, que levaram ambas quase a metade da população da cidade.
As pessoas morriam sozinhas em casa e eram resgatadas pela carroça da prefeitura que as levavam para um morro no final da Rua do Porto Oiteiro, onde eram sepultadas em covas coletivas em um lugar conhecido por Lazareto, embora por lá, nunca tenha havido um ajuntamento de portadores de hanseníase ou sepultado qualquer leproso.
Contudo, endemias lá permanecem e a pior delas ainda sobrevive até hoje na região, a pobreza e fome que assola o Vale do Contiguiba.
Menino, assistia a chegada ao consultório médico, que ficava defronte à casa de meus pais, e no hospital São João de Deus de esquálidas figuras dos famintos, verminoticos, ascíticos, (estes últimos que recebiam como único tratamento dolorosas paracenteses) tuberculosos, sifilíticos, tracomatosos, meningíticos, diarreicos e maláricos.
Obstruções intestinais por áscaris, por vezes fatais eram comuns nos jovens, mal dos sete dias, infecções puerperais, as vezes nos levava a ver sepultamentos duplos, mãe e filho.
Sobreviviam como este que escreve esta nota, por sorte, driblando o sarampo, coqueluche, meningite, papeira e hepatite, que se somavam as ditas doenças próprias da infância.
Agora com algumas dessas moléstias controladas, estamos a ver as novas viroses ocupando o campo de trabalho da “Velha Parca” para nos conduzir a morte.
As novas medicações e técnicas aumentaram os nossos anos de vida e as doenças bacterianas e parasitarias cederam o lugar as doenças degenerativas, é a época das doenças cardiovasculares, do câncer e das ainda não controladas novas viroses, das quais sabemos muito pouco.
Salvamos vidas com cuidados básicos sem dominar a etiologia.
O terror provocado pela mídia politiza as mortes em todo o mundo.
O vírus democratiza os sofrimentos ataca a todos independentemente de classe, contudo escolhe os mais velhos, os de sangue doce, os hipertensos e os asmáticos, os enfisematosos, e de vez em quando abre uma exceção e ataca também o jovem.
Observa-se, no entanto, que pacientes tratados precocemente em rede hospitalar privada tem mais chance de sobrevivência que nos hospitais estatais.
Como se explica isso?
A saúde não é direito de todos e dever do Estado?
Faltam medicações, vagas em UTI, mão de obra especializada?
O que se observa é que se perde muito tempo em convescotes e não em um planejamento serio com quem entende do assunto. O COVID é uma ameaça grave, mas também uma doença de caráter, haja vista a falta de solidariedade e a ganância demonstrada.
Um empresário vendeu cápsulas de farelo de milho como se fossem de tetraciclina quando da epidemia da cólera.
O que precisamos de novo é um Oswaldo Cruz, com autonomia para decidir e comandar um projeto de saúde apoiado em parâmetros científicos para mais uma vez vencer como já fizemos com a febre amarela.
O colega Samarone, quase que diariamente, discute o tema e fustiga os governantes com sugestões.
Quem o ouve?
Quem quer dar autonomia ao executor?
É isso que aguardamos, é isso que queremos, mudanças não politizadas e comando técnico.
Só assim venceremos a atual pandemia ou ficamos como o poeta Carlos Moliterno que sucumbido entre lutas e glorias cantou nos seus versos:
" “ Meu barco vence o tempo e vence o medo
Mas rebenta seus mastros, seus velames
E chega a praia naufragado.”

Nota da redação deste Blog - Essa matéria é de autoria de um dos ilustres cidadãos sergipanos, que continua prestando relevantes serviços ao seu estado e ao Brasil.
Dr. Chico Rollemberg carinhosamente tratado pelos amigos e familiares além de médico possui o diploma de advogado; exerceu o mandato de deputado federal e senador por Sergipe até 1995; detentor de vários trabalhos e artigos publicados que rendeu inúmeras medalhas e comendas.
Um dos seus artigos publicados neste Blog foi: "

 A Questão dos Limites entre Sergipe e Bahia (Senado Federal, 1988).

http://folhadaregiaoonline.com.br/?p=noticia&id=5170

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