Pedro do Coutto
O presidente Jair Bolsonaro revelou tacitamente o fracasso de seu governo na medida em que tentou impedir o funcionamento da Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a atuação do Ministério da Saúde diante da pandemia da Covid-19.
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), expediu uma liminar estabelecendo o funcionamento da CPI, o que levou o presidente da República a uma reação exacerbada.
SOLIDARIEDADE – Os ministros do STF, exceto Nunes Marques, firmaram uma posição de solidariedade a Barroso, deixando o governo desestabilizado diante da opinião pública. Afinal, todos sabem que o governo fracassou no combate ao coronavírus. Basta ver a atuação da Saúde na gestaõa da crise sanitária durante o tempo em que Pazuello esteve à frente da pasta
A irritação de Bolsonaro tornou-se mais ampla, pois ele também investiu contra as manifestações da oposição no Congresso no que se refere a à aprovação de emendas de parlamentares.
ORÇAMENTO DE 2021 – O Congresso, por sua, vez, reportagem de Julia Chaib e Thiago Resende, Folha de São Paulo deste sábado, acionaram o Tribunal de Contas da União para que o órgão não se posicione contra o Orçamento de 2021, apesar dos valores insuficientes para despesas obrigatórias, como aposentadoria e pensões.
O movimento integra a estratégia da cúpula do Congresso de enfraquecer o discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, que defende um amplo veto a emendas parlamentares. A intenção de Arthur Lira, presidente da Câmara, é preservar as emendas negociadas de última hora e que destinam dinheiro a obras e projetos para bases eleitorais de congressistas.
CRÍTICAS AO IBGE – A confusão tornou-se geral e, além disso, Bolsonaro voltou a criticar a metodologia do IBGE para calcular o índice de desemprego no país, uma vez que o trabalho do Instituto, segundo o presidente da República, apresenta um número exagerado de desempregados.
Bolsonaro citou números errados para defender o seu argumento. Segundo o presidente, o país tinha 14 milhões de desempregados, e agora possui 20 milhões. Ele diz que esse número foi inflado porque a metodologia do IBGE consideraria como empregados os 40 milhões de informais que perderam trabalho na pandemia.
Mas os números estão errados, já que no trimestre encerrado em janeiro, de acordo com dados da Pnad Contínua do IBGE, divulgados no fim de março, o número de desempregados no Brasil é de 14,3 milhões de pessoas. O maior número de desempregados desde o início da série histórica da pesquisa, em 2012.
COMANDOS MILITARES – Os confrontos não cessam por aí. Há também uma tensão forte entre Jair Bolsonaro e os comandos militares que ainda estão reagindo mal à demissão do general Fernando Azevedo e também em face das renúncias dos comandantes do Exército, da Marinha e Aeronáutica.
Bolsonaro substituiu Azevedo pelo general Braga Netto e novos comandantes assumiram os postos nas Forças Militares, mas o maior atrito foi com o general Edson Pujol cujas opiniões colidem com a do titular do Planalto. Pujol não aceita a expressão “meu exército” usada por Bolsonaro em suas declarações, mas o presidente da República ainda insiste em repeti-la.
“VARA DE CONDÃO” – Enquanto isso, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga afirmou que está fazendo possível na pasta, mas que não tem “vara de condão” para resolver os problemas da falta de vacinas nos estados e municípios brasileiros, que chegaram a paralisar a imunização contra a covid-19.
Queiroga visitou novamente a Fiocruz, mas apenas para contatos formais. O ministro não estabelece uma ação firme para conter o número de mortes ou tão pouco as contaminações. Uma calamidade
SALÁRIOS E INFLAÇÃO – Agravando ainda mais o panorama, reportagem de Fernanda Brigatti, Folha de São Paulo, destaca que as negociações de reajustes salariais concluídas em janeiro e fevereiro deste ano indicam que os trabalhadores com data-base no primeiro semestre terão dificuldades para compensar as perdas da inflação nos últimos 12 meses.
Sem a reposição da inflação, o salário encolhe, pois o valor não acompanha a alta de preços importantes para o orçamento das famílias.
O governo perde o controle também da inflação e a crise se agrava, pois não há rumo preciso. Aliás, o governo Bolsonaro se caracteriza pela falta de planejamento de projeto de governo, apesar de estar há dois anos no Planalto. Não conseguiu estabelecer um plano concreto de governo. A perplexidade é geral.