Publicado em 21 de abril de 2021 por Tribuna da Internet
José Carlos Werneck
O presidente Jair Bolsonaro, infelizmente, parece que vai usar um critério heterodoxo para escolher o próximo ministro do Supremo Tribunal Federal: o critério da religiosidade. Foi o que ele afirmou, nesta terça-feira, a líderes evangélicos, ao anunciar que o ministro da Advocacia-Geral da União, André Mendonça, é o favorito para substituir Marco Aurélio Mello, que, em julho próximo, se aposenta cinco dias antes de atingir a idade limite.
O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que não é exatamente um expert em assuntos jurídicos, está eufórico e disse não ser a primeira vez que Bolsonaro dá robustos sinais de que indicará André Mendonça para o Supremo.
DISSE MALAFAIA – “Ele já tinha falado comigo no dia 15 de março, quando estive (no Palácio do Planalto) para propor um jejum e estava com oito líderes. Ontem (segunda-feira), ele confirmou, mais uma vez. Isso já é uma verdade e o André é favoritíssimo. Não tem para ninguém”.
O presidente da República recebeu pastores evangélicos e deputados da bancada em audiências esta semana. Na primeira delas, Mendonça estava presente. Malafaia é um dos representantes religiosos que mais cobram a indicação de um evangélico para o STF.
“Por que o presidente vai se queimar? O maior grupo de apoio dele são os evangélicos. Lembre-se: não fomos nós que pedimos isso. Ele fala isso desde a campanha eleitoral”, disse o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
Mendonça pertence a uma igreja nova, sem templo próprio e vista por algumas denominações como “mais progressista”, por divergir do pensamento dominante no meio evangélico, considerado mais conservado.
SEM TEMAS POLÍTICOS – A Igreja Presbiteriana Esperança de Brasília, onde Mendonça atua como pastor, evita temas políticos. Ele já manifestou reserva a iniciativas de Bolsonaro, como a defesa de armas de fogo, e discute abertamente como “apoiar, capacitar e emancipar as mulheres em espiritualidade, liderança e serviço”.
A exótica promessa de indicar um ministro “terrivelmente evangélico” para o STF foi feita pela primeira vez,pelo presidente, em julho de 2019, num evento com a bancada temática no Congresso Nacional, ocasião em que afirmou:.
“O Estado é laico, mas nós somos cristãos. Ou, para plagiar minha querida Damares (Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos): nós somos terrivelmente cristãos. E esse espírito deve estar presente em todos os Poderes. Por isso, meu compromisso: poderei indicar dois ministros para o Supremo Tribunal Federal; um deles será terrivelmente evangélico”.
NUNES MARQUES – Um ano depois, indicou Kassio Nunes Marques para a primeira vaga aberta no tribunal,em seu mandato, com a aposentadoria do ministro Celso de Mello. Nunes Marques não é evangélico e a escolha provocou muito descontentamento,entre os integrantes deste segmento religioso e muitos aliados do presidente foram às redes sociais para protestar, e isso só foi apaziguado com a promessa de indicar para a segunda vaga um evangélico.
Como se vê, além da pandemia, estamos vivendo momentos extremamente difíceis. Seria cômico, se não fosse trágico, e milhares de vidas não teriam sido perdidas se o presidente não fosse terrivelmente negacionista.
Mas tudo vai passar.