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quarta-feira, fevereiro 24, 2021

Bolsonaro encerra entrevista após ser questionado sobre caso de Flávio e as “rachadinhas”

Publicado em 24 de fevereiro de 2021 por Tribuna da Internet

Bolsonaro prefere passar vergonha a explicar esquema do filho

Filipe Vidon
O Globo

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) encerrou uma entrevista coletiva nesta quarta-feira, dia 24, em Rio Branco, Acre, ao ser questionado por um repórter sobre o caso do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e as “rachadinhas”. Nesta terça-feira, mistros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) votaram a favor de um pedido da defesa de Flávio para anular a quebra de sigilo fiscal e bancário do filho do presidente no caso que envolve o ex-assessor Fabrício Queiroz.

Antes que a pergunta fosse concluída, Bolsonaro interrompeu o jornalista, anunciou o encerramento da coletiva e imediatamente se retirou do palanque. “Presidente, qual a avaliação que o senhor fez da decisão do STJ ontem de derrubar a quebra dos sigilos fiscais…”, perguntou o jornalista. “Acabou a entrevista”, respondeu o presidente.

IRRITAÇÃO – Esta não é a primeira vez que Jair Bolsonaro se irrita, ataca jornalistas ou interrompe entrevistas quando questionado sobre o processo na Justiça envolvendo o filho e o ex-assessor. O caso ganhou destaque no fim de 2018, quando o Coaf apontou “movimentação atípica” de R$ 1,2 milhão, em 2016 e 2017, nas contas de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio. Oito assessores do ex-deputado estadual transferiram recursos a Queiroz em datas próximas ao pagamento de servidores da Alerj. Segundo o Coaf, Flávio recebeu 48 depósitos no valor de R$ 2 mil. Flávio nega as acusações.

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MOMENTOS EM QUE BOLSONARO SE IRRITOU AO SER PERGUNTADO SOBRE O CASO QUEIROZ :

“Você é um otário”, agosto de 2020

Durante cerimônia de religação de um alto-forno na siderúrgica Usiminas, em Ipatinga, no interior de Minas Gerais, Bolsonaro foi questionado pelo GLOBO sobre os motivos que levaram Michelle a receber depósitos de Queiroz e Márcia, o presidente se recusou a responder e atacou o jornalista.

— Você é um otário, rapaz. Otário.

Bolsonaro ouviu, no mesmo evento, uma pergunta semelhante de um repórter do jornal “Folha de S. Paulo”, sobre os 25 depósitos feitos por Fabrício Queiroz à primeira-dama, no valor total de R$ 89 mil, e rapidamente cortou o repórter.

— Com todo o respeito, não tem uma pergunta decente para fazer? Pelo amor de Deus.

“Vontade de encher a tua boca na porrada”, agosto de 2020

Apenas três dias antes do fato anterior, Jair Bolsonaro afirmou a um repórter do Globo que estava com vontade de “encher a boca” dele de porrada ao ser perguntado sobre os depósitos. O presidente estava em frente à Catedral Metropolitana de Brasília quando foi questionado sobre o fato, e completou afirmando que o repórter era “safado”.

— Estou com vontade de encher a tua boca na porrada, tá? — disse Bolsonaro.

O ataque do presidente motivou a publicação de uma nota da Associação Nacional de Jornais (ANJ), que condenou o ataque verbal de Bolsonaro ao repórter. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) também se manifestaram.

“É lamentável que mais uma vez o presidente reaja de forma agressiva e destemperada a uma pergunta de jornalista. Essa atitude em nada contribui com o ambiente democrático e de liberdade de imprensa previstos pela Constituição”, disse a ANJ.

“Não tenho que conversar com vocês”, janeiro de 2020

Em uma entrevista sobre ser favorável ou não à concessão de subsídio para a conta de luz de templos religiosos, Jair Bolsonaro também encerrou a conversa quando foi indagado sobre Queiroz. Representantes da imprensa perguntaram se o presidente teria orientado o ex-assessor de Flávio a faltar um depoimento marcado no Ministério Público do Rio de Janeiro.

O fato foi revelado pela Época, que teve acesso ao livro “Tormenta – o governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos”, da jornalista Thaís Oyama. A publicação não fazia parte dos questionamentos, mas antes de encerrar a entrevista o presidente afirmou que o conteúdo do era “mentiroso”.

— O livro é fake news, um livro mentiroso, não vou responder sobre o livro. Tem uma colega de vocês que fez um livro que leu meu pensamento. Acho que não tenho que conversar com vocês, é só escrever o que você achar — disse Bolsonaro, sem responder se havia orientado Queiroz.

“Você tem uma cara de homossexual terrível”, dezembro de 2019

Outro episódio de ataques à imprensa para desviar de perguntas sobre o caso das “rachadinhas” foi na porta do Palácio da Alvorada, quando mais uma vez foi indagado pelo GLOBO sobre o que poderia acontecer com Flávio se o senador também tiver cometido um deslize.

— Você tem uma cara de homossexual terrível. Nem por isso eu te acuso de ser homossexual. Se bem que não é crime ser homossexual. Você fala “se”, “se”, “se” o tempo todo.

De acordo com Bolsonaro, o Ministério Público do Rio de Janeiro faz um “trabalho porco” e a imprensa só vê “um lado” da investigação. Ele também se negou a responder  se tinha algum comprovante do empréstimo de R$ 40 mil que diz ter feito a Fabrício Queiroz.

— Pergunta para a tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai, está certo? Querem comprovante de tudo – afirmou Bolsonaro.

O presidente virou-se então para outro repórter e questionou:

— Você tem nota fiscal desse relógio que está contigo nesse teu braço? Não tem. Não tem. Você tem nota fiscal do seu sapato? Não tem. Você tem do seu carro, talvez nem tenha nota fiscal, mas tem o documento. Tudo tem que ter nota fiscal, comprovante?

“Queiroz cuida da vida dele, eu cuido da minha”, outubro de 2019

Durante uma passagem por Pequim, China, Jair Bolsonaro desviou de perguntas sobre falas do ex-assessor após jantar com empresários brasileiros e ameaçou, mais uma vez, interromper a entrevista.

— Eu não sei dessa informação. Por favor, por favor. O (Fabrício) Queiroz cuida da vida dele, eu cuido da minha. Por favor, a minha preocupação aqui para eu não acabar a entrevista com vocês é tratar das questões do interesse de todos os brasileiros.

A atitude se seguiu à repercussão do áudio de WhatsApp, divulgado pelo O Globo, em que Queiroz fala a um interlocutor sobre cargos no Congresso que poderiam ser usados por aliados, em outros gabinetes que não os da família Bolsonaro:

— Tem mais de 500 cargos, cara, lá na Câmara e no Senado. Pode indicar para qualquer comissão ou, alguma coisa, sem vincular a eles (família Bolsonaro) em nada — diz Queiroz no áudio. E completa: —  20 continho aí para gente caía bem pra c**.

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