Carlos Madeiro
Folha
O jornalista João Renato Jácome foi demitido e teve decreto de exoneração publicado no Diário Oficial da Prefeitura de Rio Branco desta sexta-feira, dia 26. Ele deixa o cargo de chefe de gabinete na Secretaria Municipal de Meio Ambiente, onde atuava havia pouco mais de um mês. Na última quarta-feira, dia 24 , de folga de seu trabalho como servidor, ele foi cobrir a visita do do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao Acre como jornalista credenciado pelo Estadão.
Durante a entrevista coletiva, ele fez uma pergunta sobre a decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) de anular a quebra de sigilo bancário de Flávio Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente. Bolsonaro se irritou com o questionamento, não respondeu a pergunta e encerrou a coletiva de forma abrupta.
CRISE HUMANITÁRIA – A visita de Bolsonaro foi motivada pela crise humanitária no estado, que enfrentou na semana passada, ao mesmo tempo, uma enchente em rios e igarapés; a lotação na rede de saúde por causa da covid-19 e do surto de dengue; e um conflito envolvendo refugiados que tentaram passar pelo Peru com destino aos Estados Unidos — a fronteira entre os países está fechada por conta da pandemia.
Ao Uol, Jácome conta que a secretaria —em que atuava desde o dia 17 de janeiro deste ano— adota um rodízio de servidores por decreto devido à pandemia no estado. Ele explica que, na quarta-feira, dia 24, estava de folga e foi contratado como repórter freelancer pelo Estadão para acompanhar a visita presidencial.
“Eu já havia trabalhado por dois fins de semana seguidos por conta da enchente, e o secretário disse que eu iria folgar durante a semana —não só eu, como vários outros colegas de lá. E voltei ontem (quinta-feira) e trabalhei normalmente”, diz.
SURPRESA – Jácome disse que ficou “surpreso e muito triste” ao saber da demissão sumária pela imprensa. “Mas isso não vai fazer eu baixar a cabeça. Vou continuar trabalhando e fazendo o que eu sempre fiz. Uma coisa que ninguém pode me acusar é de ter feito algo errado. Não fui exonerado por um crime, por improbidade, por incompetência. Fui exonerado porque estava trabalhando, e isso incomodou, infelizmente”, disse.
O Uol procurou o diretor de Comunicação da Prefeitura de Rio Branco, Ailton Oliveira de Freitas, para pedir a versão oficial da exoneração. “O motivo é que o jornalista estava em horário de trabalho para o município e estava trabalhando para terceiros”, afirma.
ALIADO – O prefeito Tião Bocalom (PP) é aliado de primeira hora do presidente, e inclusive veio de Brasília para Rio Branco com Bolsonaro na quarta-feira, dia 24. Ele postou foto dentro do avião presidencial.
A jornalistas locais, entretanto, o prefeito confirmou ainda na quinta-feira, dia 25, a exoneração do jornalista. “Foi exonerado ontem [na quarta-feira] mesmo”, respondeu Bocalom a um jornalista, deixando a entender que se tratou de um ato de retaliação pela pergunta que irritou seu aliado.