Julia Chaib e Renato Machado
De saída do comando do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) avalia duas hipóteses para seu futuro político. A primeira é a possibilidade de descer apenas um degrau na hierarquia da Casa, tornando-se vice-presidente. A segunda opção seria assumir um ministério do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), mas a articulação para isso ainda não está fechada. Uma terceira alternativa, considerada com um pouco menos de entusiasmo, seria assumir a importante CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).
Alcolumbre deixa a presidência do Senado no início de fevereiro, após a eleição para sua sucessão. O candidato favorito até o momento é seu apadrinhado, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
FICAR NO SENADO – Aliados relatam que Alcolumbre costuma mudar seus cargos de interesse, mas que no momento avalia que permanecer no Senado possa ser a melhor escolha.
Pacheco conta com o apoio de nove bancadas e algumas dissidências de outros blocos, o que lhe garantiria teoricamente em torno de 44 a 46 votos na eleição. São necessários 41 votos para ser eleito. Como a votação é secreta, no entanto, há a possibilidade de traição.
Pacheco enfrenta na disputa Simone Tebet (MDB-MS), a atual presidente da CCJ e nome do MDB para tentar recuperar o comando do Senado.
PRINCIPAL OPÇÃO – A ideia de Alcolumbre é assumir a vice-presidência no cenário em que Pacheco é eleito. Segundo senadores, o atual presidente da Casa tem insistido na possibilidade de ser o número 2, principalmente porque a articulação para que ele assuma um ministério não está concluída.
Além disso, há integrantes do Palácio do Planalto que resistem à hipótese de ele sentar em uma cadeira no palácio, segundo pessoas próximas de Bolsonaro.
Alcolumbre está de olho no posto hoje ocupado pelo general Luiz Eduardo Ramos, a Secretaria de Governo. O órgão, com assento na sede do Executivo, cuida da articulação política do governo.
ARTIULAÇÃO POLÍTICA – Um dos seus cartões de visita será ter conseguido eleger o sucessor em uma disputa contra a maior bancada do Senado — o MDB tem hoje 15 senadores.
Dessa forma, Alcolumbre conseguiria manter seu trabalho de articulação política e manteria viva a sua influência para voltar ao cargo na próxima legislatura, no início de 2023.
O temor, porém, é que ele use sua influência para privilegiar aliados em benefício próprio e não faça uma articulação pensando no governo.
HÁ CONTROVÉRSIAS – Congressistas têm ainda mostrado resistência à investida do presidente da Casa para ser o vice-presidente.
O primeiro motivo, argumentam, é que Alcolumbre seria uma sombra atrás de Pacheco, levantando dúvidas sobre sua independência.
Além disso, esse quadro pode provocar impasses nas negociações dentro do bloco de apoio a Pacheco, por afetar a proporcionalidade. O DEM, partido que tem cinco senadores, ocuparia nesse caso a presidência e a vice. Hoje, PSD e PP buscam a vice-presidência do Senado.
AMPARAR O IRMÃO – Aceitar um ministério no governo Bolsonaro teria o benefício de abrir vaga no Senado para seu irmão, Josiel Alcolumbre (DEM), seu suplente.
Josiel foi derrotado na eleição para a Prefeitura de Macapá no ano passado, apesar dos esforços do seu irmão e do apoio da Presidência da República.
O irmão do presidente do Senado liderava a corrida com grande vantagem nas pesquisas. Porém, começou a perder terreno após o apagão que deixou parte do estado do Amapá às escuras durante semanas.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Alcolumbre faz o possível e o impossível para ficar no poder e vai ter saudade da mordomia na mansão da presidência do Senado. É um dos maiores exemplos da vertigionosa decadência da política brasileira. (C.N.)