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sexta-feira, março 01, 2019

Violência contra mulher é crime hediondo gerado na caverna do machismo


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Eliane Caparróz escapou por pouco de ser brutalmente assassinada
Pedro do Coutto
Não há dúvida, a onda de violência contra a mulher é um crime hediondo e covarde que se repete através dos tempos, aumentando a indignação social pelas sombras que o ocultam, manobra para tentar eximir seus autores. Trata-se da violência pela violência envolto na ilusão da impunidade. Essa impunidade muitas vezes se reflete no relacionamento entre os sexos, porém o grau sinistro de culpa persegue ao infinito os espancadores, homicidas em potencial que não resistem a reconhecer a liberdade essencial e existencial da mulher, sob a capa de transformá-la em objeto. A mais recente vítima foi a paisagista Eliane Caparróz, brutalmente e covardemente espancada por Vinícius Serra.
A opinião pública ficou perplexa diante do caso de tortura prolongada e até um ensaio de canibalismo. Ela não é a única mulher vitimada pela sombra da covardia. Mas sem dúvida figura entre as que mais sofreram espancamentos.
LUTA DESIGUAL – Foram quatro horas de sadismo e suplício. Um milagre ter ela sobrevivido, e marcou com tintas fortíssimas o tema sufocante de uma luta desigual.
Não importa que Vinícius Serra esteja com prisão preventiva. O crime bárbaro que cometeu, na minha opinião, ilumina uma série de outros casos semelhantes. A mulher entre quatro paredes da violência é um ser humano elevado à última potência da criminosa cena que se prolongou da surpresa inicial a uma sensação de que se encontrava diante do abismo entre a vida e a morte.
O machismo atravessa os séculos impulsionado por uma vontade que uma pessoa tem de escravizar a outra. As figuras odiosas do machismo insistem em não reconhecer e aceitar a vontade de cada ser humano.
DESEJO DE POSSE – O machismo está presente numa série de capítulos que lançam conflito entre a vontade própria e aquela de não reconhecer a liberdade. Há também um sentido de propriedade. O machista, seja ele criminoso ou não, transmite o desejo de posse revestindo-se da vontade sombria de projetar a mulher na esfera de uma propriedade. Tal sentimento revela-se, por exemplo, na música popular brasileira.
Vejam um verso de Amélia: “Ai, que saudades da Amélia, aquilo é que era mulher”. Os autores não pensaram nesse aspecto, mas Mario Lago e Ataulfo Alves escreveram aquilo e não aquela é que era mulher de verdade.
MUDA DE DONO – Outro exemplo está na canção “Número Um”, também de Mário Lago, interpretada por Orlando Silva. Um dos versos diz assim: “Satisfaz sua vaidade, muda de dono à vontade, isso em mulher é comum. Não guardo frios rancores, pois entre teus mil amores, eu sou o número um”. Muda de dono à vontade, na realidade ninguém pode ser dono de alguém.
Para finalizar, lembro Lupicínio Rodrigues: “O cabaré se inflama quando ela dança, e naquela mesma esperança, todos lhe põem um olhar. E eu o dono, aqui no meu abandono, espero louco de sono, o cabaré terminar”.
Esses são exemplos principais de um sentido absurdo de domínio e propriedade. Vamos ver se no Brasil o exemplo de Elaine Caparróz gera os efeitos que a consciência humana registra de forma emocionada.

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