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sábado, setembro 05, 2009

Extrair petróleo ou comprar opinião?

Carlos ChagasNo mundo moderno, em sã consciência, ninguém pode ser contra a propaganda e a publicidade. Essas atividades fazem parte do complexo que vai do planejamento à produção, da comercialização ao consumo. Mercadológicas ou promocionais, são responsáveis pelo sucesso ou fracasso de quase todas as atividades humanas. Além de criarem empregos e contribuírem para o desenvolvimento da economia.
O que não dá para aceitar é o super-dimensionamento da publicidade, muito menos a distorção da propaganda, quando em vez de atingirem sua finalidade e seus objetivos, servem de biombo para encobrir formas de enganar o consumidor, de um lado, ou de comprar a opinião dos veículos onde se apresentam.
Feito o preâmbulo, vamos passar ao principal. A finalidade da Petrobrás, glória nacional, é encontrar, extrair e abastecer a sociedade de combustível. Mostrar-se, é claro, na demonstração de suas qualidades, bem como promover seus produtos.
Como empresa bem sucedida, deveria voltar-se para sua atividade maior, mas faz muito que vem sendo utilizada como mecanismo de promoção dos governos aos quais se subordina. De mandato em mandato dos detentores do poder, porém, a Petrobrás transformou-se num instrumento de manipulação e até de controle da opinião pública. Com objetivos óbvios não apenas de demonstrar sua eficiência, mas de dominar a informação recebida pela sociedade.
Tome-se os principais telejornais, noticiosos radiofônicos, revistas, jornais e toda a parafernália da comunicação social. Através de propaganda muito bem elaborada, a estatal tornou-se senão a maior, uma das maiores anunciantes do país.
Está presente nas diversas classificações da mídia, ficando para outro dia demonstrar que também subsidia mil outras formas de sedução do meio social: festas de São João, de Natal, celebrações patrióticas, edições de livros variados e de CDs de música popular, ONGs sérias e ONGs fajutas, congressos, seminários, cursos, escolas, feiras internacionais e prefeituras recebem o patrocínio, quer dizer, dinheiro vivo, dos cofres da Petrobrás.
Tudo angelicalmente destinado a aumentar o consumo de seus produtos ou a melhorar suas condições empresariais na concorrência com competidores?
Vale ficarmos na mídia. Se recebem vultosas verbas, em boa parte responsáveis pelo sucesso de seu faturamento, dos jornalões aos pequenos semanários, das mega-redes televisivas às cadeias radiofônicas e às revistas de circulação nacional, todos os veículos de comunicação pensarão duas vezes antes de informar a respeito de investigações, denúncias e acusações de irregularidades envolvendo a Petrobrás e seus dirigentes. Se fosse só isso, ainda seria deglutível, pois as empresas privadas fazem o mesmo.
O problema é que gerida e dirigida pelos governos, não só do Lula, mas da quase totalidade de seus antecessores, a Petrobrás tornou-se uma gazua capaz de arrebentar com a liberdade de imprensa e de expressão. Porque quem criticar os governos corre o risco de perder a publicidade da estatal. Essas coisas estão implícitas, não precisam ser ditas entre as partes.
Argumentarão os céticos que essas práticas fazem parte do sistema capitalista, valendo acrescentar que nas ditaduras de esquerda ou de direita é pior ainda. Quem ousar desafiar os interesses e as verdades absolutas dos donos do poder, além da falência pela falta de anúncios, corre o risco de parar na cadeia.
O governo Lula usa e abusa dos recursos publicitários da Petrobrás, numa simbiose trágica onde o sacrifício maior atinge a liberdade. No primeiro mandato do companheiro-mór havia até um japonês mal-encarado para conduzir o sistema. Mesmo catapultado pelos abusos cometidos em favor de interesses pessoais, viu-se sucedido pela impessoalidade mais maléfica ainda.
Estarrecido, o país assiste fantástica invasão de slides, filmes, mensagens e patrocínios de toda espécie jorrando das burras da Petrobrás para as telinhas, os alto-falantes e as folhas impressas, promovendo a estratégia do pré-sal.
A grosso modo, nem precisaria, por tratar-se de uma iniciativa favorável à afirmação da soberania nacional, aplaudida pela nação quase inteira. Parece que o governo não confia nele mesmo, nem em seus bons propósitos, se necessita desviar recursos da extração de petróleo para convencer o público da certeza de seus atos.
O risco é de se, amanhã, os monarquistas ganharem as eleições, assistirmos a Petrobrás dedicada a convencer a sociedade de que um imperador ou um rei resolvem todos os nossos problemas. Opiniões se compram, mas a que preço?
Em suma, não é a Petrobrás, como empresa, a responsável por essa abominável farra publicitária que nos assola. Nem as agencias encarregadas de produzir tão elogiável material. Sequer os veículos ávidos de sustentar-se com a propaganda. Culpado é o sistema que permite tamanha distorção.
Fonte: Tribuna da Imprensa

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