Carlos Chagas
Ontem foi o Dia Nacional Sem Carro, senão no mundo inteiro, ao menos nos países fartamente motorizados. Nascida em Paris, a campanha teve e tem todas as possibilidades de sucesso, para o futuro. Só que apenas na capital francesa e em outras cidades onde o transporte coletivo é uma realidade. Vai-se de metrô a qualquer bairro ou subúrbio de Paris, registrando-se também o excelente serviço de ônibus e de trens favorecendo a periferia da cidade.
Aqui no Brasil, tanto em São Paulo quanto no Rio, Brasília, Belo Horizonte e montes de outras capitais, se tivesse sido respeitada a palavra de ordem, estaríamos comemorando também o Dia Nacional Sem Trabalho. Ainda bem que deu de ombros a imensa maioria dos proprietários de automóveis. Não havia condições de permanecer em casa, sem trabalhar. Como, da mesma forma, seria impossível chegar por meios públicos aos escritórios, fábricas, escolas, hospitais e demais locais de trabalho, o resultado foi o fracasso da utópica proposta.
Em termos militares existe uma regra fundamental: quem dá a missão dá os meios. E se deixam a desejar os meios de transporte, como aceitar a missão de deixar os carros na garagem?
De Chavez aos Abdulas
Demonstração de que liberdade de imprensa ainda constitui fator ligado aos interesses e à conveniência de muitos veículos de comunicação está na falta de interesse na busca de informações capazes de deixar mal dogmas como o da livre competição, do neoliberalismo e da prevalência do mercado sobre o estado. Na periferia dos fatos é fácil encontrar notícia negativas, daquelas que irritam mas não prejudicam o establishment. No centro das questões que atingiriam na moleira a política aliás adotada pelo governo Lula, nem pensar. Poupam-se pessoas, regimes e acontecimentos alinhados à estratégia global a que serve boa parte da mídia.
Por exemplo: bate-se no presidente Hugo Chavez, da Venezuela, como se bateu nas últimas décadas em Fidel Castro, acusado de ditador, algoz da liberdade, anacrônico e inimigo da economia de mercado. Não é o caso,. Hoje, de discutir a validade dessas acusações. No entanto, nenhuma referência lemos ou ouvimos, aqui e lá fora, contra a ditadura dos abdulas na Arábia Saudita, país onde imperam costumes e leis feudais. A imprensa, naquele país, não é nem livre nem massacrada, pelo simples motivos de que não existe. Eleições democráticas para a escolha dos governantes, de jeito nenhum. Oposição, nem nas mesquitas. Famílias de privilegiados proprietários de poços de petróleo dominam as instituições, os serviços públicos e o pensamento da população. Há escravidão na Arábia Saudita, mas como esse país forma na primeira linha dos fornecedores do mundo ocidental, subordinando-se aos seus caprichos, a ordem é calar. Melhor falar mal do Chavez.
Desfaçatez sem limites
Todos os dias somos bombardeados com maciça propaganda governamental a respeito de estar o Brasil vivendo maravilhoso período de crescimento, inclusão dos menos favorecidos na classe média, distribuição de renda, redução do desemprego e sucedâneos.
Fosse verdadeira a mensagem que nos tentam passar e alguns efeitos teriam surgido como conseqüência. A começar pela diminuição da violência e do crime organizado, que só fazem aumentar. A causa principal encontra-se no abandono de boa parte da população. Sem alternativa para sobreviver, cidadãos tornam-se animais. Meninos cada vez mais novos passam a assaltar, agredir, seqüestrar, traficar e intranquilizar a sociedade. Mas num país fantástico mostrado nas telinhas, microfones e páginas de jornal? Trata-se de uma contradição.
Tem mais. Como explicar que em plena fase de desenvolvimento social e econômico, “a maior de nossa História”, proponha-se o governo a criar mais dois tipos de imposto? Os donos do poder estão anunciando a criação de uma nova CPMF, ou seja, a volta do imposto sobre o cheque. Pior ainda, vão taxar as cadernetas de poupança, antes o último refúgio das economias da classe média e do trabalhador. Atropela-se uma garantia agora sagrada, hoje em vias de supressão.
Convenhamos, uma coisa é a propaganda. Outra, o mundo real. Haja desfaçatez.
Valerá para as eleições de 2036…
Sob a liderança da CNBB, esta para ser entregue ao Congresso projeto de origem popular com um milhão e quinhentas mil assinaturas, propondo que a Justiça Eleitoral recuse registro a candidatos condenados na primeira instância por crimes capitulados no Código Penal. Todo mundo é inocente até que se lhe prove a culpa, mas o que significa uma sentença condenatória senão a evidência de um crime haver sido cometido? Claro que existirão recursos aos montes para levar os processos a juízos superiores, até mesmo à revogação da condenação inicial, mas o fato concreto está na primeira decisão judicial.
Nada mais justo, assim, do que proibir a disputa eleitoral para quantos comprovadamente tenham sido condenados.
Da teoria, passa-se à prática. Uma vez recebido o projeto, deverão deputados e senadores começar a debatê-lo de imediato, promovendo rápida votação? Nem pensar. São eles mesmo que se valem da prerrogativa de disputar eleições com sentenças condenatórias. Iriam abrir mão da facilidade? Sendo assim, as previsões mais otimistas são de que lá para 2036 a proposta popular tenha sido apreciada…
Fonte: Tribuna da Imprensa
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