Dora Kramer
Muita gente no PT enxerga na subida de Ciro Gomes nas pesquisas a chance de o partido se livrar do casamento por conveniência com o PMDB e adotar um plano B: com Ciro de vice ou, no limite, com a substituição de Dilma Rousseff na cabeça da chapa presidencial. Não é assim, porém, que a direção do PMDB desenha o cenário cujos prós e contras detalhará para o presidente Luiz Inácio da Silva ao longo das conversas sobre a definição da aliança entre os dois partidos, previstas para o mês de outubro.
Os dirigentes peemedebistas acham o oposto dos petistas: consideram que os bons índices de Ciro e a “patinada” de Dilma obrigam o Palácio do Planalto a reforçar a candidatura da ministra da Casa Civil antes que ela perca mais densidade. Por “perda de densidade” entenda-se o abandono do barco por parte do PMDB, o que, na concepção do partido, seria fatal para a candidatura oficial.
Há hoje três hipóteses no horizonte peemedebista: que o presidente Lula aceite a antecipação da definição da aliança e obrigue o PT a firmar compromisso dando a vaga de vice para o PMDB; que não haja definição e o presidente juntamente com seu partido abram as negociações, mas arrastem a conclusão a fim de ganhar tempo; que Lula informe ao PMDB que não há interesse em dar a vice ao partido e dê por encerrado o assunto sem aceitar as condições impostas.
A única possibilidade de o governo poder contar com o PMDB na eleição – vale dizer, com o tempo de televisão reservado à legenda no horário eleitoral – é a rendição às exigências: o vice, palanques duplos onde for absolutamente impossível de fazer composição estadual e negociação em “condições igualitárias” para desistência de candidaturas próprias de governador onde for possível.
Sem isso, tem dito em alto e bom som a direção do PMDB, não será possível “segurar o partido”. Com isso, ponderam os dirigentes, eles se dispõem a sair a campo para “construir a maioria” na convenção nacional que, então, aprovaria oficialmente a aliança, em junho de 2010. Até lá, valeria um acerto publicamente firmado. Pelo calendário do PMDB, o mais tardar no início de novembro, e mediante não apenas a palavra do presidente, mas com comprometimento assinado em cartório do céu pelo PT.
Mas vamos entender melhor essa história: se a direção do PMDB controla o partido a ponto de poder garantir hoje o resultado de uma convenção que se realizará daqui a oito, nove meses, por que não teria condições de “segurar” os correligionários até lá, se a vontade de fazer a coalizão é genuína como alegam?
Em tese, bastaria a convicção de que esse é o melhor caminho. Aí é que está. Não é uma questão de convencimento, mas de oportunidade. Se não tiver o vice, o PMDB acha que, na posse de Lula como cabo eleitoral, o PT pode pintar e bordar para cima do parceiro nas eleições estaduais.
Com o vice – significando o que no PMDB é chamado de “eixo de organização” –, o partido compartilha a chapa e, consequentemente, tem aumentado seu controle sobre a campanha nacional em face dos embates estaduais. Nisso se inclui o poder de criar dificuldades se, e quando, for necessário.
Ao menor sinal de problema aqui ou ali, o vice pode interferir, para o bem ou para o mal, com autoridade de parceiro do candidato a presidente. Qualquer conflito “na base” repercute no topo da campanha. A vaga de vice é uma espécie de fiança. Que não garante o êxito do candidato, mas dá ao PMDB segurança naquilo que interessa: eleger governadores, deputados, senadores para manter substancioso o seu cacife.
Nada obriga
O líder do governo no Senado, Romero Jucá, diz que “não faz sentido” um ministro do Supremo Tribunal Federal ganhar mais que o presidente, um senador ou um deputado. O que não faz sentido é o pedido de equiparação por parte dos parlamentares aos salários do STF, assim que o Congresso autorizou o reajuste de R$ 24.500 para R$ 26.723, a partir de fevereiro de 2010.
Pelo simples fato de que o valor dos salários do Supremo é o teto do funcionalismo e não o piso assegurado à casta do primeiro escalão da República como parece – ou quer fazer – acreditar o senador Jucá.
Dos combates
Senadores e deputados lutaram por quatro anos para recompor em parte as mais de 8 mil vagas de vereadores cortadas em 2005 pela Justiça Eleitoral, em função de um novo cálculo na relação entre o número de cadeiras disponíveis nas câmaras municipais e a população das cidades. À exceção do PSol, todos os partidos liberaram suas bancadas para votar como bem entendessem, o que significa que nenhum deles ficou contra a proposta.
Um índice de apoio e empenho inéditos que, se fossem empregados em causas mais úteis, o grau de rejeição da sociedade em relação aos políticos seria bem menor.
Fonte: Gazeta do Povo
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