Laerte Braga
À porta da cervejaria Casa Branca, localizada em Washington DC, há uma nova tabuleta. “Brasileiros go home! O branco que gerencia o “negócio”, fantasiado de negro e que atende pelo nome de Barack Obama, não quer nativos do Brasil por perto depois que a farsa da “luta pela democracia” e “por uma nova América” esbarrou na presença do presidente constitucional de Honduras Manuel Zelaya na embaixada do Brasil em Tegucigalpa e frustrou toda a brincadeirinha de eleições livres em novembro.
O jornalista Paulo Francis, anos atrás, analisando os métodos de campanha política nos Estados Unidos, discorrendo sobre marqueteiros, pesquisadores, formuladores de verdades incontestáveis, tratou desde meias soquetes como ponto negativo (não aparecem bem na televisão “e esse é um povo conduzido pela televisão”) até chegar à conclusão que queria.
Hilary Clinton jamais seria presidente, isso dito há anos, porque não havia aderido às calcinhas modelo biquíni, ainda usava “calçolas”, expressão do próprio Francis. Quando aparecia com terninhos as marcas visíveis eram as das calçolas e não aquelas que realçam e dão forma desejável ao bumbum.
É mais ou menos o que existe dentro do cérebro do americano médio. Daí para pior. Desde preconceitos e arrogâncias estúpidas, àquele negócio de jogo de pólo, ou sei lá o que, em que o objetivo é quebrar a cabeça do outro. E antes de começar alguém canta o hino nacional.
Dois cães ferozes fardados de militares latino-americanos (há um rodízio, os agraciados agora são os hondurenhos, em seguida os colombianos), guardam a porta para impedir que brasileiros se aproximem.
Mais ou menos como nos tempos em que havia dois banheiros em cada restaurante. Um para negros e outro para brancos. Ou que negros sequer podiam entrar em determinados restaurantes.
Obama está olhando para o outro lado no caso de Honduras e com certeza sabe que Lula não é o cara, pelo menos nos termos em que imaginou e desejava.
O pulo do gato no caso da pequena Honduras é que ao entrar no país e abrigar-se na embaixada do Brasil Zelaya frustrou a consumação do golpe, marcada para as eleições livres e democráticas de novembro.
Aqui no Brasil Miriam Leitão deu um chilique digno de qualquer estrela de quinta categoria de Hollywood por ter percebido o sentido real do fato. Mesa posta, iguarias democráticas sendo preparadas na cozinha da cervejaria e, de repente, um molho desanda por conta da resistência do próprio presidente e do povo hondurenho.
Militares hondurenhos estão prendendo, saqueando casas, torturando, estuprando mulheres, matando e cerceando qualquer tipo de liberdade em nome do “patriotismo” e das contas bancárias regadas a dólares dos que controlam as cordas do golpe.
Transformando um país de um povo de extraordinário valor num imenso campo de concentração. Os regentes dessa barbárie? O homem da cervejaria, seu embaixador em Tegucigalpa e os militares da base de treinamento de boçais padrão Dan Mitrione, bem ao estilo das décadas de 60/70 do século passado.
Pode ser até difícil pronunciar Tegucigalpa. Mas é bem fácil perceber a coragem e a determinação de hondurenhos. Recusam o rótulo de Homer Simpson.
Não é uma luta hondurenha, é uma luta latino-americana.
É hora de completar o trabalho e retirar os soldados brasileiros do Haiti, outro país esmagado e violentado em sua soberania nos “arrastões democráticos” que norte-americanos promovem mundo afora.
E é o momento de perceber aqui, no Brasil, quem é quem nesse processo de sobrevivência de uma nação como tal.
O dilema é simples. Nem é dá ou desce. Ou caminhamos o caminho da história dos povos livres, da classe trabalhadora (cidade e campo), ou ficamos do lado de fora da cervejaria esperando a hora que as sobras são atiradas aos miseráveis.
E miseráveis em todos os sentidos. O que é bem pior.
O facínora que governa Honduras a partir de um golpe planejado e organizado na cervejaria, dirigido pelo gerente da filial Honduras, com a participação de elites podres (todas as elites econômicas são podres, não há exceção) e dos cães de guarda da “honra nacional”, mas a de Washington, quer conversar.
Conversar o que?
Todo bandido quando se vê diante da perspectiva de uma fria, cercado por todos os lados que conversar. Objetivo? Garantir a própria pele.
E as peles dos presos, torturados, das mulheres estupradas, dos assassinados?
Para que se tenha uma idéia, ou pelo menos se procure ter, da importância do fator Honduras para o Brasil e toda a América Latina é só acompanhar a reação dos funcionários brasileiros da cervejaria Casa Branca. Uns se calam para não passar recibo de golpistas (caso do governador Serra), outros estrebucham indignidade “patriótica”, senador Artur Virgilio, ou a mídia podre, temerosos que o dinheiroduto desse “patriotismo” seque.
Os caras por aqui nem dormem com medo do pré-sal não vir a ser entregue ao dono da cervejaria.
Lamprea e Láfer já fizeram saber a Washington que se conseguirem ganhar em 2010 (Serra ou Aécio) tiram tudo no aeroporto de New York. Miriam Leitão antes de se manifestar recebeu um aviso que em nome da estética não precisa ir a tanto.
Compreender que Honduras é a síntese de toda a América Latina é fundamental para que não tenhamos, num futuro breve, visível a olho nu, que ficar esperando as sobras e carregando as caixas de cerveja pela porta dos fundos. Se o cara tiver uma dessas moedas que não valem nada, ele dá pra gente tomar uma.
Mas bem longe da dele.
A fingida indiferença com que os donos do mundo tratam o caso de Honduras, no momento em que acontece mais uma Assembléia Geral das Nações Unidas, mostra o fracasso do modelo político e econômico que nos vendem como se fosse o paraíso.
Vale para todas as nações do mundo. Pelo menos as que aspiram ser nações. Do contrário não seremos senão entregadores de cerveja. E pela porta dos fundos, pois na da frente vai estar a placa “brasileiros go home!”.
Nem a tal que desce redondo é nossa mais. Imagine a que desce quadrada.
As bestas que deram o golpe em Honduras, confiantes na impunidade, pois contam com o apoio da cervejaria Casa Branca, estão atirando bombas químicas nas imediações da embaixada do Brasil em Tegucigalpa, com o objetivo de intoxicar as pessoas que lá estão, forçá-las a sair para buscar socorros médicos e assim prender Zelaya. As bombas afetam diretamente o sistema digestivo das pessoas.
Somos o que? Um país de bananas?
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