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sexta-feira, outubro 05, 2007

O homem, quem será?

Por: Carlos Chagas

BRASÍLIA - A natureza das coisas segue seu curso. Líderes dos partidos da base parlamentar do governo começam a registrar pequenos comentários do presidente Lula que contradizem seus desmentidos peremptórios a respeito do terceiro mandato. Nem seriam necessárias as observações meio jocosas do chefe do governo, a respeito da hipótese de sua continuação.

Está no ar que a gente respira a obstinação do PT de não perder o poder. Como a messiânica postura de Lula de considerar-se o melhor presidente desde Deodoro da Fonseca. Se não puder realizar em oito anos a prometida transformação do Brasil, por que não valer-se de mais quatro? Ou cinco, já que a operação continuísta envolve, ironicamente, o fim da reeleição e a ampliação dos mandatos presidenciais para cinco anos.

Aprovada essa alteração constitucional, zeraria tudo, permitindo a qualquer brasileiro na posse de seus direitos políticos disputar o primeiro mandato da nova fase. Não seria a Nova República, já em frangalhos, nem o Estado Novo, por razões óbvias. Mas o ministro Guido Mantega, da Fazenda, já definiu o caminho das pedras: será o Novo Estado... O passado, alguém já escreveu, é o nosso maior tesouro. Às vezes, diz o que fazer. Às vezes, aponta o que evitar.

Os mais velhos sugerem esperar o próximo Carnaval. O próximo Carnaval? Parece loucura, mas não é. Em fevereiro de 1937, cantada nos salões e nas ruas, venceu todos os concursos de popularidade a marchinha interpretada por Silvio Caldas, intitulada "O homem, quem será?"

A letra começava com a indagação e seguia adiante: "Será `seu' Manduca ou será `seu' Vavá?" Manduca era o governador de São Paulo, Armando Salles de Oliveira, já lançado, e Vavá era o ministro Osvaldo Aranha, que acabou nem sendo candidato.

Os versos terminavam, para euforia dos carnavalescos: "Entre os dois meu coração balança, porque, na hora `h' quem vai ficar é `seu' Gegê..." Seu Gegê era o presidente Getúlio Vargas, que desmentia com veemência a possibilidade, mas acabou ficando mesmo, através do golpe de 10 de novembro daquele ano. Note-se que em fevereiro a verve popular já previa a manobra, e até a apoiava.

Os tempos mudaram, as canções carnavalescas perderam a ingenuidade e a ironia, mas, mesmo se nenhuma delas enveredar pela política, nem por isso os donos do poder desistirão do óbvio. Quem viver, verá. A menos que a democracia atual se demonstre mais forte do que aquela consagrada na Constituição de 1934. Alguém aposta?

Candidato único, só um
Continuando no tema, vale referir o que admitiu Lula na noite de terça-feira, em jantar oferecido aos líderes dos partidos da base oficial, no Alvorada. Disse que se o governo continuar popular, não hesitará em licenciar-se da presidência para fazer campanha por um candidato único à sua sucessão. É claro, desde que apareça esse candidato único, reunindo todos os partidos da base. Ora, "o homem, quem será"? Tarso Genro, Jacques Wagner, Patrus Ananias, pelo PT? Ciro Gomes, pelo PSB? Aécio Neves, se vier pelo PMDB?

Qual deles, e outros, existirão em condições de unir o conglomerado que apóia o governo Lula? Mais ainda, em condições de vencer a eleição contra o tucano já preparado com antecedência, José Serra, aliás, de extrema semelhança com o "seu" Manduca? O quebra-cabeças vai sendo montado. No fim, revelará o candidato em condições de unir a base, contando com inequívoco respaldo popular. Quem? Ora...

Mau cheiro
Quando a gente imagina que pior não pode acontecer, acontece. No Senado, quarta-feira, assistimos à Comissão de Constituição e Justiça transformar-se num cabaré. Isso para dizer o mínimo, ainda que um cabaré de péssima reputação. Discutia-se o relatório do senador Jarbas Vasconcelos, favorável ao projeto que determina o afastamento sumário de funções exercidas na mesa e nas comissões pelo senador que se encontrar sob investigação no Conselho de Ética.

O ex-governador de Pernambuco não escondia sua aversão ao presidente do Senado, Renan Calheiros, que se a resolução já estivesse em vigência estaria obrigado a deixar o cargo. Repetiu o que dissera tempos atrás, de que a casa exalava mau cheiro. Senadores da chamada tropa de choque de Renan, a começar por Wellington Salgado, aquele cabeludo, insurgiram-se e agrediram Jarbas Vasconcelos com palavras mais virulentas que as pronunciadas em diretórios estudantis.

Um pandemônio que levou Pedro Simon a acentuar que, em seus 25 anos de senador, jamais havia visto o Senado tão humilhado, enxovalhado e ridicularizado, referindo-se até a lances de uma novela de grande audiência nacional. Para ele, a dignidade só será recuperada se Renan Calheiros renunciar, já que sua presença na presidência da casa era a mola propulsora de tudo.

Artur Virgílio completou que tudo cheirava mal mesmo, e que perdera o gosto de exercer o mandato de senador. Do outro lado, permaneceu o raciocínio de que se Renan licenciar-se da presidência estará reconhecendo culpa nas acusações que lhe fazem e continuam sob investigação no Conselho de Ética. Lembravam que anos atrás Jader Barbalho afastou-se e, depois, precisou renunciar para não ser cassado.
Fonte: Tribuna da Imprensa

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