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quarta-feira, maio 04, 2022

Catequização via internet

 




Contaminação de militares contra STF, urnas eletrônicas e vacinas de crianças é via redes sociais

Por Eliane Cantanhêde (foto)

Os militares não são um monobloco, assim como evangélicos, agricultores, sindicalistas, médicos, etc. também não, mas, se eles reagiram no início do governo contra atos golpistas que levavam bolsonaristas às portas do Planalto e o próprio presidente às do QG do Exército, a percepção é de que balançam com os ataques de Jair Bolsonaro às urnas eletrônicas e ao Supremo. Mal comparando, eles também não se deixaram ludibriar com a campanha contra as vacinas de covid para adultos, mas cederam nas de crianças.

Nos dois casos, é efeito das redes sociais e de grupos, ou bolhas, de famílias, vizinhos, escolas, igrejas e também de militares, da ativa e da reserva, que disseram não quando provocados contra vacinas e a favor de atos golpistas (para os quais o presidente até arrastou o então ministro da Defesa em helicóptero das Forças Armadas). Depois, porém, vêm baixando a guarda e sendo capturados por teses delirantes.

Essa é uma questão-chave, diante do temor crescente de que Bolsonaro planeja repetir Donald Trump, que, ao perder as eleições, atiçou sua turba para invadir o Capitólio. Aqui, não seria o Congresso, mas o Supremo, alvo preferido do bolsonarismo. Sem os militares e o Centrão, a ameaça não prospera.

Vários oficiais, de diferentes patentes, introduzem conversas assim: “Você sabe que não sou bolsonarista e não concordo com as maluquices do Bolsonaro, mas...” E engatam um discurso no sentido contrário, defendendo exatamente as maluquices contra as urnas eletrônicas, por exemplo. No fim, a resposta sobre a vacinação de filhos e netos é um tanto encabulada: “Bem...”

Os grupos, ou bolhas, se retroalimentam com as “verdades” que vêm de cima, especialmente contra o Supremo, e se enraizaram nas redes bolsonaristas e nas de colegas militares, após a reviravolta nos julgamentos do ex-presidente Lula. Ninguém lembra que Bolsonaro atuou contra as investigações e a Lava Jato.

Assim, não é exagero os ministros do STF, como o atual, o ex e o futuro presidente do TSE, saírem em defesa da democracia, do processo eleitoral e da posse do eleito, seja quem for. Essa posição é também dos presidentes da Câmara e do Senado e das Forças Armadas. Mas é preciso cuidado.

Cuidado com a massificação do discurso oposto e com o que o ministro Luís Roberto Barroso chama de “orientação” contra o processo eleitoral, que nasce no gabinete presidencial e se espalha feito erva daninha pelas redes sociais, uma terra de ninguém em que qualquer mentira vira verdade. E todo mundo sabe qual é o contrário de democracia, instituições, eleições e vacinas!

O Estado de São Paulo

A verdadeira herança maldita - Editorial




Bondades eleitoreiras e incontáveis erros acumulados em quatro anos formam o legado desastroso de Bolsonaro para o próximo governo

Uma conta de pelo menos R$ 82,3 bilhões será passada a quem assumir a Presidência da República em 1.º de janeiro. Esse é o custo, por enquanto, das bondades eleitorais do presidente Jair Bolsonaro. Sua campanha de reeleição, extremamente cara, tem sido e continuará, nos próximos anos, sendo financiada com recursos públicos. A soma inclui R$ 41 bilhões da parcela complementar do Auxílio Brasil, R$ 12 bilhões do reajuste dos servidores, R$ 1,9 bilhão do auxílio-gás e R$ 27,4 bilhões de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Se a apuração confirmar as atuais pesquisas de intenção de voto, o sucessor de Bolsonaro terá vários motivos para falar de uma herança maldita.

Essa herança resultará, em grande parte, de medidas improvisadas, como têm sido, com frequência, as iniciativas presidenciais no atual mandato, iniciado em 2019. Nunca houve, nesse período, um plano de governo, com metas, programas e projetos articulados. Nem a saúde fiscal, uma bandeira sustentada com razoável constância pela equipe econômica, tem sido levada em conta, normalmente, nas decisões do presidente. Mesmo com alguma resistência, o ministro da Economia, Paulo Guedes, acabou geralmente acatando as pretensões de seu chefe.

Algumas decisões, como o pagamento do auxílio-gás às famílias pobres, são defensáveis, mas nunca foram integradas em programas de desenvolvimento econômico e de inclusão social. Nem poderiam ter sido, porque programas desse tipo nunca foram formulados. Tributos foram cortados, ocasionalmente, para conter aumentos de preços ou para beneficiar o sistema produtivo. Mas foram sempre soluções tiradas de algum bolso de colete. Até hoje, nada permite, por exemplo, vincular a redução do IPI a uma política de recuperação e de modernização do enfraquecido setor industrial.

Nem se poderia falar de uma política desse tipo. A palavra política raramente foi usada, nos últimos três anos e quatro meses, para denotar um conjunto de ações administrativas com objetivo bem definido e relevante. A constância política tem sido observada, muito mais frequentemente, em outro cenário, o das ações do presidente voltadas para ambições eleitorais e para a preservação de interesses familiares. Quando se trata desses assuntos, o presidente mostra dedicação permanente ao cálculo, às manobras, à mobilização de seguidores e às tentativas de envolver os militares em questões normalmente reservadas, nos países democráticos, à autoridade civil.

Sem planejamento, o presidente deixará como legado os custos de ações improvisadas e de erros acumulados em quatro anos. Para começar, o poder federal terá problemas, em 2023, em relação ao teto de gastos. Será difícil acomodar no limite constitucional as bondades deixadas pelo atual presidente. Já se fala em mudar a regra do teto, mas isso apenas disfarçará o problema fiscal. O Tesouro continuará afetado pelo aumento de gastos e pela redução do IPI.

Confrontado com o desarranjo fiscal, o sucessor de Bolsonaro terá dificuldade para implantar um plano de governo. Pelas projeções do mercado, a economia crescerá só 1% em 2023 e modestos 2% em 2024. Serão taxas insuficientes para um grande ganho real de arrecadação. Além disso, a inflação, segundo as estimativas, baterá em 4,10% no próximo ano e ainda ficará em 3,20% no seguinte, superando a meta oficial (3%) nos dois períodos. Os juros básicos, elevados para conter os preços, estarão em 9,25% no fim de 2023 e em 7,50% no encerramento de 2024. Isso encarecerá o crédito, travará o crescimento econômico e manterá muito caro o financiamento do Tesouro.

Metade do novo mandato estará prejudicada, portanto, pela herança da atual administração. O quadro poderá ser menos tenebroso, em 2024, se o presidente eleito tiver um plano crível de correção fiscal e de desenvolvimento. Populismo poderá atrair votos, mas quem movimenta o dinheiro e financia o Tesouro exigirá mais que isso. Qualquer candidato terá de levar em conta essa diferença, se quiser iniciar o mandato com vento a favor.

O Estado de São Paulo

Vivemos um profundo déficit democrático




Por Claudio Dantas (foto)

Muitos eleitores que não querem Jair Bolsonaro nem Lula têm defendido o voto branco ou nulo nas eleições de outubro. Alegam que seria uma forma de protesto. O problema é que a legislação brasileira não considera o voto branco/nulo no cálculo eleitoral. Ou seja, na prática, é como protestar no Twitter em vez de ocupar as ruas.

É um assombro, sem dúvida. Qualquer regime democrático que se preze deveria considerar o voto nulo como voto válido e expressão máxima de insatisfação do eleitor diante da oferta precária de candidatos, entre desqualificados e criminosos em geral, incluídos genocidas e corruptos.

O fiasco dos protestos no Dia do Trabalho se espelha na pesquisa do Instituto Paraná, divulgada hoje, mostrando que 85% dos eleitores paulistas não têm candidato ao governo estadual.

Se válido fosse o voto de protesto, o eleitorado daria um rotundo ‘cai fora’ a Fernando Haddad, Márcio França, Tarcísio de Freitas, entre outros. O mesmo se daria com Lula, Bolsonaro, Ciro etc. Seria uma revolução política, sem armas. Teriam de ser convocadas novas eleições, até o surgimento de nomes palatáveis. Democracia em estado bruto.

Em artigo publicado em 2013, a analista judiciária do TSE Renata A. de Bessa Dias defendeu o aspecto político e sociológico dos votos brancos e nulos, “como um importante meio de questionamento da ordem política estabelecida no Brasil, sobretudo quando expressos em forma de protesto”.

“A não consideração desses votos para efeito de validade de determinada eleição equivale a desrespeitar o Estado democrático de direito, que tem como um dos pilares a soberania popular”, escreveu.

Ela estava e está certa. Na conclusão do seu texto, Renata lembra que o sufrágio corresponde à “significativa expressão da democracia representativa, motivo pelo qual se pressupõe que a manifestação popular consubstanciada no ato de votar em branco e nulo é legítima e merece ser reconsiderada para efeitos de mudança da atual percepção jurídica do sistema“.

Por fim, conclui que voto consciente “não significa apenas escolher um dos candidatos, senão também protestar”. “Desse modo, mesmo que o voto nulo ou em branco não tenha efeito algum – do ponto de vista legal –, o eleitor tem o direito de se recusar a escolher um candidato, independentemente do motivo, e optar por invalidar o seu voto.”

Para mudar essa realidade hoje seria necessária a aprovação de uma PEC, mas não devemos ter esperança de que o atual Congresso, comandado por Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, se dedicará a tema tão relevante.

Sem falar que temos uma Câmara dos Deputados com apenas 5% de seus integrantes eleitos pelo voto direto. O resto ganhou o mandato via quociente eleitoral, de carona nos puxadores de voto, resultado de um sistema proporcional que só aprofunda o já abissal déficit democrático.

O Antagonista

Negocia-se com o golpismo




Por Carlos Andreazza (foto)

Acompanhei com perplexidade, minha perplexidade derivando da simples observação do mundo real combinada a algo de memória, o noticiário segundo o qual o Senado se mobilizaria para resistir ao galope autocrático de Bolsonaro e defender — a partir da ode ao sistema eleitoral — o Supremo.

Uau!

Haveria mesmo uma consciência institucional do Senado como última fronteira parlamentar antes do golpe — consciência até aqui expressa em notas de jornal e em tuítes do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco.

E de repente me lembrei de o jurista Pacheco costurando para, em desprezo a um comando constitucional óbvio, não instaurar a CPI, direito da minoria, que investigaria a barbárie em que consistiu a atividade do governo durante a peste.

Já teremos nos esquecido?

Do senador Randolfe Rodrigues, li que a Câmara estaria capturada pelo bolsonarismo. O juízo é correto. A Câmara aderiu — capturar não será o verbo correto — desde que a sociedade entre Planalto e o consórcio comandado por Arthur Lira fundou bases na gestão obscura e arbitrária do Orçamento.

A questão — motivo da minha perplexidade — é o Senado como espaço de resistência. Nada contra palavras em resposta aos arreganhos golpistas de Bolsonaro. Tudo a favor de um olhar direto às práticas. A realidade, com sua gritante objetividade, está aí.

Se considera majoritariamente o presidente da República nocivo à saúde democrática do país, o que o Senado fez-faz, dentro das quatro linhas da Constituição, para limitá-lo, notinhas de repúdio à margem?

Quais seriam os instrumentos políticos disponíveis ao resistente Senado para frear o ímpeto bolsonarista pela fratura?

Augusto Aras é o entrave maior — o próprio bloqueio —à prosperidade de denúncias contra Bolsonaro. Como votou Renan Calheiros, tão ativo na CPI da Covid, quando da análise, pelo Senado, da proposta de recondução de Aras à PGR? Mais amplamente, como votou o Senado? Como, os valentes da comissão? O mandato de Aras foi renovado; o que equivaleu a o Senado jogar no lixo, para desdobramentos formais relativamente a Bolsonaro, o tanto que coletara na CPI sobre os crimes do governo durante a pandemia.

Há três anos e quatro meses ouve-se Bolsonaro afirmar — sem nenhum disfarce —que pretende povoar o STF de bolsonaros. Tendo o poder de rejeitar os kássios, o que fez o Senado, senão aprovar os pretensos braços do presidente? O processo até o aval a André Mendonça se arrastou apenas para que Davi Alcolumbre pudesse chorar os orçamentos secretos perdidos ao deixar a presidência do Congresso.

O Senado resistente é o que se concerta para garantir seus modos. Negocia-se.

Qual a diferença, verniz juscelino à parte, entre Alcolumbre e Pacheco, herdeiro da gestão das emendas do relator cuja perda pranteou Davi? São conhecidos os dados segundo os quais o fluxo de granas sai do Amapá para dar a Minas o protagonismo no desaguar de codevasfs. Já escrevi a respeito.

Qual a credibilidade do presidente do Senado para defender a Justiça Eleitoral brasileira — a transparência do sistema eleitoral — e a importância do equilíbrio entre Poderes, se é um dos cabeças do mais acintoso desrespeito a decisão do Supremo ora em curso? Ou terá Pacheco tornado pública — cumprindo já velha ordem do STF — a lista dos parlamentares padrinhos, ele inclusive, de dinheiros destinados arbitrariamente via orçamento secreto?

Ao liderar — contra o princípio constitucional da transparência na administração pública — o desrespeito a uma determinação do Supremo, Pacheco enfraquece muito ou muitíssimo o Poder sob ataque bolsonarista?

Até que ponto será possível a um operador de disfunções — de perversões —orçamentárias defender o vigor institucional do STF, sendo um Supremo forte também, infelizmente, aquele tribunal que se excede e avança sobre matéria exclusiva do Legislativo para cassar parlamentares?

Supremo fraco é orçamento secreto forte. Supremo forte é o que se outorga o condão de cassar deputados e senadores. Que tal o Supremo normal, dedicado ao controle de constitucionalidade? Não será Pacheco a propor, muito menos conduzir, o resgate republicano urgente, o de radicalização impessoal pelo que dispõe a Constituição —o que secaria Bolsonaro. A bagunça conflitiva, a imprevisibilidade que empossa oportunistas e multiplica tiranetes, tem seu valor.

Há um contrato entre governo militar e, mais explicitamente, a Câmara de Lira, mas não somente. Contrato, com vista às eleições, também para blindagem do golpista Jair, firmado na gestão pirata do Orçamento —hoje nas mãos do ministro Ciro Nogueira, um senador. E Pacheco quer continuar presidente do Senado em 23.

Qual seu interesse em confrontar, de verdade, o governo do golpista, se isso seria confrontar o arranjo que lhe dá a cota alcolúmbrica do Orçamento? Ele não quer ser ex-alcolumbre. Não tão cedo. Negocia-se. Bolsonaro joga em casa.

O Globo

Portugal, paraíso dos espiões russos.




Moscou usa como ninguém este recreio para espiões. Até porque aqui ninguém acredita que alguém no Kremlin esteja interessado em informações que chegam de Portugal. É o cenário perfeito. 

Por Raquel Abecassis (foto)

Este cantinho europeu à beira-mar plantado, onde vive um povo que não se governa nem se deixa governar, é o lugar certo para estacionar espiões que por cá podem trabalhar, longe de olhares curiosos e com o sossego e à-vontade necessários à prática da atividade.

A fama já vinha de longe. Dos tempos da Segunda Guerra Mundial, quando as esplanadas, restaurantes e hotéis de luxo eram perfeitos para sacar informações preciosas que chegavam direitinhas aos senhores da guerra. Por essa altura, deu grande impulso à economia nacional o negócio do urânio que vendíamos sem peso na consciência aos dois campos opostos do teatro de guerra.

A guerra para nós é um negócio e pode mesmo ser promissor. Basta continuarmos sem vergonha na cara a justificar todos os casos que vêm a público como ingenuidades, distrações, boa-fé, cumprimento de normas, rotinas. E não adianta argumentar com queixas e denúncias. Se não apareceu no jornal ou na TV, ninguém viu ou ouviu.

Moscovo usa como ninguém este recreio para espiões. Até porque aqui ninguém acredita que alguém no Kremlin esteja interessado em informações que chegam de Portugal. É o cenário perfeito. Quando a coisa dá para o torto, os responsáveis anunciam os mais variados inquéritos, que é o mesmo que dizer: enquanto os resultados chegam e não chegam, esquece-se o caso e o espião encontra outra forma de continuar a atividade. Cereja em cima do bolo: aqui há um partido disposto a colaborar, muito habituado a estas coisas da clandestinidade e que é visto como um partido pacífico e amigo da democracia.

Em Portugal, foi possível um Presidente de Câmara da capital ter escapado incólume ao fornecimento de dados de cidadãos críticos à embaixada russa. Como se não bastasse, outro Presidente de Câmara, poucos meses depois, acha normal invocar, outra vez, a ingenuidade e a burocracia para colocar russos a acolher refugiados ucranianos. Os dois têm em comum uma reação: sorriem quando lhes é sugerido que o regime de Putin está interessado na informação e pode usá-la na perseguição aos seus inimigos.

Os portugueses não se levam a sério nem levam o país a sério. Usam a nossa pequena dimensão no concerto das nações para desvalorizarem as consequências do que aqui se passa. Mesmo quando o que aqui se passa é muito grave e contraria todas as regras de uma democracia ocidental.

O que se passou (ou será que ainda passa?) na Câmara Municipal de Setúbal é uma vergonha e não precisamos de nenhum inquérito para o concluir, como também não precisámos do célebre inquérito na Câmara de Lisboa para ter a certeza de que a autarquia denunciou dissidentes ao regime russo.

As declarações públicas do Presidente da Câmara de Setúbal sobre o caso fazem-nos temer o pior. Este representante da nossa democracia acha que fez tudo bem e, a menos que alguém lhe prove o contrário, continuará a usar os amigos russos para acolher e talvez mesmo aconchegar os refugiados ucranianos que fogem do terror que os russos estão a espalhar nas suas terras. O Kremlin e Putin agradecem e garantem que vão continuar a investir em Portugal. Por cá no pasa nada!

Observador (PT)

Ataques do governo minam imprensa no Brasil, diz RFS




Em seu relatório anual sobre liberdade de imprensa, ONG acusa Bolsonaro de apresentar mídia "como inimiga do Estado". Entidade afirma que jornalistas enfrentam "ambiente cada vez mais tóxico" na América Latina.

O "caos da informação" e a desinformação alimentam as tensões e divisões internacionais dentro das sociedades, alertou nesta terça-feira (03/05) a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) na edição de 2022 de seu ranking mundial de liberdade de imprensa.

No total, 73% dos 180 países que a ONG avalia anualmente caracterizam-se por situações julgadas "muito graves", "difíceis" ou "problemáticas" quanto à liberdade dos jornalistas no exercício de sua profissão.

Essa proporção é idêntica à do ano passado, mas o número de países onde a situação é "muito grave" atingiu um recorde, 28, incluindo Cuba, Nicarágua e Venezuela; enquanto apenas oito países – incluindo Portugal e Costa Rica – apresentam uma "boa situação", em comparação com 12 no ano passado.

Na América Latina, a RSF destaca que jornalistas enfrentam um "ambiente cada vez mais nocivo e tóxico". De acordo com o relatório, a crise do coronavírus desempenhou em 2021, tal como no ano anterior, um papel de aceleradora da censura, "causando sérias dificuldades econômicas para a imprensa e graves barreiras de acesso a informações sobre o manejo da epidemia pelos governos".

Retórica antimídia

A ONG afirma que, no continente, a desconfiança em relação à imprensa aumentou, "alimentada pela retórica antimídia e pela banalização do discurso estigmatizante da classe política", especialmente no Brasil, em Cuba, na Venezuela, na Nicarágua e em El Salvador.

"Cada vez mais visíveis e virulentos, esses ataques públicos enfraquecem a profissão e incentivam processos abusivos, campanhas de difamação e intimidação – principalmente contra mulheres – e assédio online contra jornalistas críticos", destaca a entidade.

De acordo com o texto, apenas a Costa Rica é considerada em boa situação entre os países latino-americanos. 

Já o Brasil está entre os países com uma situação "problemática", aparecendo em 110º lugar entre 180 nações, atrás da Zâmbia e à frente de Mali. Embora tenha melhorado uma posição em relação ao 111° lugar no relatório do ano passado, a pontuação geral do país caiu de um ano para o outro, de 63,75 para 55,36.

A RSF pondera, entretanto, que devido a adaptações de metodologia, "as comparações de classificação e pontuação entre 2021 e 2022 devem ser feitas com cautela". 

Para elaborar a classificação, a RSF utilizou um método baseado em cinco indicadores: contexto político, marco legislativo, contexto econômico, contexto sociocultural e segurança.

Ataques de Bolsonaro

A RSF destaca que, desde a chegada ao poder do presidente Jair Bolsonaro, "que ataca regularmente jornalistas e a mídia em seus discursos", "as relações entre o governo e a imprensa se deterioraram significativamente".

A ONG afirma que Bolsonaro "ataca regularmente a imprensa, mobilizando exércitos de apoiadores nas redes sociais", numa "estratégia bem coordenada de ataques com o objetivo de desacreditar a mídia, apresentada como inimiga do Estado".

A entidade afirma que entre os desafios para o avanço da liberdade de imprensa no Brasil estão "a violência estrutural contra jornalistas, um cenário midiático marcado pela alta concentração privada e o peso da desinformação".

De acordo com a RSF, ao longo da última década pelo menos 30 jornalistas foram assassinados no Brasil, o segundo país mais letal da região neste período para jornalistas. Entre os mais vulneráveis, conforme a ONG, estão aqueles profissionais "que trabalham em municípios de pequeno e médio porte e que cobrem corrupção e política local". A entidade sublinha que continua a crescer no país o assédio e a violência online contra jornalistas, especialmente contra mulheres. 

A RSF destaca uma "polarização em dois níveis" entre e dentro dos países, alimentada pelo "aumento do poder dos circuitos de desinformação" nas sociedades democráticas e pelo "controle da mídia" em regimes autoritários. 

"A criação de um arsenal de mídia em alguns regimes autoritários priva os cidadãos de seu direito à informação e contribui para o aumento das tensões internacionais que podem levar às piores guerras", disse o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire, através de comunicado.

Com "pelo menos sete jornalistas mortos", o México continua sendo o país mais letal do mundo para a imprensa, ocupando o 127º lugar entre 180 na lista geral, mas o 179º no indicador de segurança. 

Situação "muito grave"

Na escala que descreve a situação como "muito grave", a partir da posição 153, estão Venezuela (159) e Nicarágua (160), que de um ano para o outro sofreram uma queda de 11 e 39 posições, respectivamente. 

A Nicarágua, de fato, marcou a maior queda de todas. A RSF alega que "a paródia eleitoral" que em novembro de 2021 levou Daniel Ortega ao poder pelo quarto mandato consecutivo foi acompanhada por uma "perseguição feroz" de vozes críticas ao regime.

"Os últimos bastiões da imprensa independente estão cercados, e a grande maioria dos jornalistas independentes, ameaçados por procedimentos judiciais abusivos, teve que deixar o país", destacou a organização. 

A RSF, com sede em Paris, também descreve como "extremamente preocupante" a situação de El Salvador (112), que pelo segundo ano consecutivo sofre uma das quedas mais fortes da região, desta vez de 30 lugares. O presidente salvadorenho Nayib Bukele "faz um jogo perigoso" desde que se tornou presidente em 2019 e "multiplica ataques e ameaças contra jornalistas críticos de seu governo, criando assim a imagem de uma imprensa inimiga da população". 

A lista geral é encabeçada pelos países nórdicos, com a Noruega, Dinamarca e Suécia com os melhores resultados, enquanto a Coreia do Norte e a Eritreia voltam a ocupar as últimas posições.

Deutsche Welle

Rússia lança 'ataque poderoso' contra último reduto de resistência ucraniana em Mariupol




As forças russas lançaram nesta terça-feira (3) "ataque poderoso" contra a usina de Azovstal, último reduto da resistência ucraniana na cidade de Mariupol (sudeste), após um cessar-fogo que permitiu a evacuação de uma centena de civis.

"Um ataque poderoso na área de Azovstal está sendo realizado no momento, com apoio de blindados e tanques", indicou Sviatoslav Palamar, vice-comandante do batalhão Azov, que defende as instalações, em mensagem de vídeo no Telegram.

Anteriormente, o Ministério da Defesa russo, citado por agências russas, anunciou que "unidades do exército russo e da República Popular de Donetsk, usando artilharia e aeronaves, começaram a destruir" as "posições de tiro" dos combatentes ucranianos que saíram do plantar.

A "República Popular de Donetsk" é um dos dois enclaves separatistas pró-Rússia na região de Donbass, na Ucrânia. Segundo o porta-voz das Forças Armadas russas, o batalhão Azov "utilizou" o cessar-fogo - que havia sido decretado para retirar civis da siderúrgica - para "tomar posições de tiro no território e nos prédios da fábrica".

O cessar-fogo, anunciado na segunda-feira, permitiu a evacuação, com o apoio da ONU e da Cruz Vermelha, de "101 civis" do complexo metalúrgico, disse Osnat Lubrani, coordenador humanitário das Nações Unidas para a Ucrânia.

Uma das evacuadas, Anna Zaitseva, que finalmente chegou à cidade de Zaporizhia, controlada pelas forças ucranianas, com seu bebê de seis meses nos braços, expressou sua gratidão à AFP.

"Estamos muito gratos a todos que nos ajudaram. Houve um tempo em que perdemos a esperança, pensávamos que todos tinham esquecido de nós", explicou.

Por sua parte, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky disse em um discurso em vídeo que "continuaremos a fazer todo o possível para tirar todo o nosso povo de Mariupol, de Azovstal". "É difícil, mas precisamos de todos, todos que permanecem lá, civis e militares", acrescentou.

- Referendo -

No resto do país, "o inimigo continuou bombardeando Kharkiv", a segunda maior cidade da Ucrânia, depois da capital, Kiev, e "cidades vizinhas", disse o Estado-Maior do Exército ucraniano.

Mais ao sul, perto de Izium, os russos bombardearam "intensamente" posições ucranianas e, em Donbass, tentam "assumir o controle total das cidades de Popasna e Rubizhne e avançar em direção a Liman e Sloviansk", acrescentou o relatório.

No leste, os ataques russos mataram 21 civis e feriram 27 nesta terça-feira, disse o governador da região de Donetsk, o maior número diário de mortos em quase um mês.

No sudoeste, a cidade portuária de Odessa, no Mar Negro, foi novamente atingida por mísseis russos que mataram um menino de 15 anos, segundo o presidente Volodimir Zelensky.

Além do avanço em Donbass, os russos tomaram importantes faixas do sul da Ucrânia, como a cidade de Kherson, a 130 km de Odessa e muito próxima da península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.

Em uma cidade dessa região, Novofontanka, a Procuradoria-Geral da Ucrânia anunciou uma investigação sobre possível "tortura e assassinato" após a descoberta de dois corpos em uma cova, um deles com as pernas amarradas.

Em Lviv (oeste), um ataque com foguete deixou parte dessa cidade perto da Polônia sem eletricidade, que se tornou um refúgio para civis devido à sua relativa calma, disse o prefeito Andriy Sadoviy no Twitter.

Após mais de dois meses de guerra, os países ocidentais e a Ucrânia temem que a Rússia use a comemoração da vitória sobre a Alemanha nazista em 9 de maio para mostrar progresso em sua ofensiva militar contra seu vizinho.

O ministro da Defesa ucraniano apontou uma possível tentativa de integrar na Rússia as autoproclamadas repúblicas pró-russas de Donetsk e Lugansk, reconhecidas por Putin antes da guerra.

O embaixador dos Estados Unidos na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter, destacou o risco de que essa anexação ocorra por meio de referendos em meados de maio, estratégia que lembra o que aconteceu na Crimeia em 2014.

"Esta informação é muito credível", disse o diplomata, lembrando que Moscou tem planos semelhantes para Kherson, onde já impôs sua moeda, o rublo.

"Esses simulacros de referendos, votos orquestrados, não serão considerados legítimos, nem qualquer tentativa de anexar outros territórios ucranianos", acrescentou.

- Novas sanções -

A invasão russa da Ucrânia deixou milhares de mortos e mais de 13 milhões de deslocados.

Sem intervir diretamente na guerra, as potências ocidentais responderam com sanções sem precedentes contra a Rússia e enviando armas e fundos para Kiev.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou 300 milhões de libras (377 milhões de dólares) em ajuda militar para a Ucrânia, incluindo radares, drones de transporte pesado e dispositivos de visão noturna.

"Esta é sua hora mais gloriosa", afirmou Johnson ao Parlamento ucraniano por videoconferência, referindo-se a um discurso de Winston Churchill aos parlamentares em 1940, antes de uma batalha do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial.

A União Europeia trabalha em um sexto pacote de sanções que inclui um cronograma para eliminar gradualmente as importações de petróleo russo e alertou seus países membros para se prepararem para o fim do fornecimento de gás russo.

As novas sanções também devem afetar o setor financeiro e "haverá mais bancos russos que deixarão o Swift", o sistema de transações internacionais, revelou o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.

Medidas que o presidente russo, Vladimir Putin, condenou nesta terça-feira durante uma conversa com o seu homólogo francês, Emmanuel Macron.

"O Ocidente pode ajudar a pôr fim às atrocidades exercendo influência apropriada sobre as autoridades de Kiev e também deixando de fornecer armas à Ucrânia", disse Putin, segundo um comunicado divulgado pelo Kremlin.

Da mesma forma, o presidente russo criticou "a incoerência e a falta de preparação de Kiev" nas negociações de paz, mas ressaltou que "o lado russo continua aberto ao diálogo".

Do Vaticano, o papa Francisco disse em entrevista ao jornal italiano Il Corriere della Sera que está disposto a viajar a Moscou para falar com Putin e tentar acabar com a guerra.

AFP / Estado de Minas

Por que a Rússia tenta justificar guerra da Ucrânia com combate ao nazismo?




É parte dessa narrativa a fala do chanceler Serguei Lavrov afirmando que o fato do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ser judeu não invalidaria o argumento.

Desde o início da invasão russa na Ucrânia, o Kremlim repete o discurso de que a guerra tem por objetivo o combate contra o nazismo no território vizinho. A Rússia estaria em busca de “desnazificar” a Ucrânia.

É parte dessa narrativa a fala do chanceler Serguei Lavrov afirmando que o fato do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ser judeu não invalidaria o argumento. “Hitler também tinha sangue judeu”, disse, frase repudiada pelos governos israelense e alemão nesta segunda-feira (2).

A insistência da Rússia em citar o nazismo em suas explicações sobre os ataques militares na Ucrânia não se justifica pelos pequenos grupos neonazistas que existem no país vizinho, como em tantos outros territórios europeus, nem na política liderada pelo presidente ucraniano. 

O discurso russo se inscreve na política de Vladimir Putin de glorificar o passado soviético e estimular a imagem mítica de uma potência russa que continuaria em sua batalha fatal contra o nazismo, explicam especialistas.

O enaltecimento do papel da União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial é tão central nesta estratégia de propaganda de Putin que passou a fazer parte da Constituição em 2020.

A vitória da Rússia contra a Alemanha nazista é amplamente comemorada no governo Putin, desde os anos 2000, a cada dia 9 de maio. O aumento da beligerância russa em Donbass nas últimas semanas seria, de acordo com analistas, uma tentativa de apresentar conquistas russas nos próximos festejos.

Uma Rússia vitoriosa que libertou o mundo

Quando chega ao poder, nos anos 2000, Putin tem diante de si uma nação que perdeu sua importância internacional e tenta se reconstruir após diversas crises. 

Com a intenção de recolocar a Rússia no tabuleiro internacional e unificar a população, Putin decide retomar o mito da Glória Soviética construído durante o período da URSS comandada por Léonid Brejnev, entre 1964 e 1982.

Na propaganda soviética da época, a União Soviética é a grande responsável pela libertação do mundo das garras nazistas alemãs, enquanto os países da Europa se acostumavam bem ou mal a viver sob o jugo de Hitler. Nessa versão, o número de soldados soviéticos mortos é de 7 milhões, uma perda humana muito menor do que o luto causado, na realidade, pelas 26 milhões de mortes.

Além disso, como sublinha o pesquisador Nicolas Werth, em entrevista ao Le Monde, os soldados tornam-se os heróis centrais da história, deixando em segundo plano a imagem de Stálin. Com isso, Brejnev cria "a unidade do povo, do partido e do exército", explica o professor emérito.

Essa é a imagem recuperada por Putin, a Rússia como uma potência antinazista que tem na vitória de 1945 a base de sua legitimidade e da identidade russa.

Ao longo dos anos, Putin reforça o discurso dos russos como heróis do combate ao nazismo e amplifica com comemorações nacionalistas grandiosas das datas ligadas à Segunda Guerra Mundial. Para isso, o presidente usa as armas soviéticas da manipulação histórica, chegando a mudar a Constituição, em 2020, para incluir a proibição de qualquer forma de minimizar o heroísmo dos russos.

A censura de historiadores, professores e jornalistas garante a difusão da versão russa. No ano passado, a Federação Internacional de Direitos Humanos publicou um relatório de 80 páginas em que listava ataques sistemáticos do governo russo contra a memória do país e contra aqueles que tentam estudar ou defender versões diferentes da história.

“Qualquer afirmação que contradiga a glorificação da ação da União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial ou que lance uma sombra sobre o regime ou sobre as autoridades soviéticas é considerada negativa”, explicou à época Ilya Nuzov, chefe da FIDH para a Europa Oriental à RFI.

Mídia russa estabelece elo entre Ucrânia de hoje e nazismo

Nesse cadinho, a identificação da Ucrânia com o inimigo nazista dos anos 1940 é usada para forjar o apoio da população russa à guerra.

Na base da explicação, a colaboração do líder ucraniano nacionalista Stepan Bandeira com a Alemanha nazista na esperança de que o regime de Hitler mais tarde apoia-se a independência da Ucrânia da URSS, conta a historiadora Korine Amacher, no texto "De onde vem a obsessão russa com uma Ucrânia nazi".

A tentativa do governo ucraniano em 2010 de dar a Bandera o reconhecimento como herói da nação --decisão invalidada na Justiça posteriormente-- é o suficiente no discurso russo para apontar a Ucrânia como um país de governo nazista.

As afirmações, no entanto, mantêm pouca relação com a realidade. A extrema direita tem papel marginal na política ucraniana. E mesmo os laços do famoso batalhão Azov com grupos neonazistas não parecem suficientes para justificar as informações divulgadas pela mídia russa. 

O batalhão Azov, formado em 2014 na mesma época da anexação da Crimeia, conta hoje com cerca de 3.500 e 5.000 soldados. Um número pouco expressivo diante do exército ucraniano, formado hoje por cerca de 350 mil soldados, com o alistamento urgente de milhares de homens desde que os russos invadiram o território ucraniano. 

Contudo, em reportagens divulgadas na imprensa russa, jornalistas descrevem os campos de treinamento ucranianos como locais de depravação e violência, com soldados que consomem drogas, fazem festas libertinas e torturam pessoas, além de ostentarem diversos símbolos nazistas. 

"Nazistas, satanistas, torturadores, mercenários, drogados e alcoolatras, essa é a imagem repetida o tempo todo sobre os combatentes ucranianos nas redes de televisão da Rússia", conta a jornalista Elena Volochine, chefe de redação da France24 em Moscou.

"A propaganda russa pinta um quadro em preto e branco e dá a entender que todos os combatentes das forças ucranianas são, como seriam à época da Segunda Guerra, nazistas", finaliza a jornalista francesa.

Essa propaganda russa pode estar na raiz da atuação violenta de soldados na Ucrânia, como a morte de civis e a execução de pessoas presas em Bucha.

"A propaganda tem necessariamente um efeito sobre os soldados que entraram na guerra. Se [o presidente russo Vladimir Putin] diz que a Ucrânia "não existe" e que o país está "cheio de nazistas", esses soldados podem considerar que as pessoas que tentam fugir [das cidades ocupadas da Ucrânia] são nazistas, e decidir atirar neles", aponta o General Dominique Trinquand, ex-chefe da missão militar francesa na ONU.

RFI / DefesaNet

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