As forças russas lançaram nesta terça-feira (3) "ataque poderoso" contra a usina de Azovstal, último reduto da resistência ucraniana na cidade de Mariupol (sudeste), após um cessar-fogo que permitiu a evacuação de uma centena de civis.
"Um ataque poderoso na área de Azovstal está sendo realizado no momento, com apoio de blindados e tanques", indicou Sviatoslav Palamar, vice-comandante do batalhão Azov, que defende as instalações, em mensagem de vídeo no Telegram.
Anteriormente, o Ministério da Defesa russo, citado por agências russas, anunciou que "unidades do exército russo e da República Popular de Donetsk, usando artilharia e aeronaves, começaram a destruir" as "posições de tiro" dos combatentes ucranianos que saíram do plantar.
A "República Popular de Donetsk" é um dos dois enclaves separatistas pró-Rússia na região de Donbass, na Ucrânia. Segundo o porta-voz das Forças Armadas russas, o batalhão Azov "utilizou" o cessar-fogo - que havia sido decretado para retirar civis da siderúrgica - para "tomar posições de tiro no território e nos prédios da fábrica".
O cessar-fogo, anunciado na segunda-feira, permitiu a evacuação, com o apoio da ONU e da Cruz Vermelha, de "101 civis" do complexo metalúrgico, disse Osnat Lubrani, coordenador humanitário das Nações Unidas para a Ucrânia.
Uma das evacuadas, Anna Zaitseva, que finalmente chegou à cidade de Zaporizhia, controlada pelas forças ucranianas, com seu bebê de seis meses nos braços, expressou sua gratidão à AFP.
"Estamos muito gratos a todos que nos ajudaram. Houve um tempo em que perdemos a esperança, pensávamos que todos tinham esquecido de nós", explicou.
Por sua parte, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky disse em um discurso em vídeo que "continuaremos a fazer todo o possível para tirar todo o nosso povo de Mariupol, de Azovstal". "É difícil, mas precisamos de todos, todos que permanecem lá, civis e militares", acrescentou.
- Referendo -
No resto do país, "o inimigo continuou bombardeando Kharkiv", a segunda maior cidade da Ucrânia, depois da capital, Kiev, e "cidades vizinhas", disse o Estado-Maior do Exército ucraniano.
Mais ao sul, perto de Izium, os russos bombardearam "intensamente" posições ucranianas e, em Donbass, tentam "assumir o controle total das cidades de Popasna e Rubizhne e avançar em direção a Liman e Sloviansk", acrescentou o relatório.
No leste, os ataques russos mataram 21 civis e feriram 27 nesta terça-feira, disse o governador da região de Donetsk, o maior número diário de mortos em quase um mês.
No sudoeste, a cidade portuária de Odessa, no Mar Negro, foi novamente atingida por mísseis russos que mataram um menino de 15 anos, segundo o presidente Volodimir Zelensky.
Além do avanço em Donbass, os russos tomaram importantes faixas do sul da Ucrânia, como a cidade de Kherson, a 130 km de Odessa e muito próxima da península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.
Em uma cidade dessa região, Novofontanka, a Procuradoria-Geral da Ucrânia anunciou uma investigação sobre possível "tortura e assassinato" após a descoberta de dois corpos em uma cova, um deles com as pernas amarradas.
Em Lviv (oeste), um ataque com foguete deixou parte dessa cidade perto da Polônia sem eletricidade, que se tornou um refúgio para civis devido à sua relativa calma, disse o prefeito Andriy Sadoviy no Twitter.
Após mais de dois meses de guerra, os países ocidentais e a Ucrânia temem que a Rússia use a comemoração da vitória sobre a Alemanha nazista em 9 de maio para mostrar progresso em sua ofensiva militar contra seu vizinho.
O ministro da Defesa ucraniano apontou uma possível tentativa de integrar na Rússia as autoproclamadas repúblicas pró-russas de Donetsk e Lugansk, reconhecidas por Putin antes da guerra.
O embaixador dos Estados Unidos na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter, destacou o risco de que essa anexação ocorra por meio de referendos em meados de maio, estratégia que lembra o que aconteceu na Crimeia em 2014.
"Esta informação é muito credível", disse o diplomata, lembrando que Moscou tem planos semelhantes para Kherson, onde já impôs sua moeda, o rublo.
"Esses simulacros de referendos, votos orquestrados, não serão considerados legítimos, nem qualquer tentativa de anexar outros territórios ucranianos", acrescentou.
- Novas sanções -
A invasão russa da Ucrânia deixou milhares de mortos e mais de 13 milhões de deslocados.
Sem intervir diretamente na guerra, as potências ocidentais responderam com sanções sem precedentes contra a Rússia e enviando armas e fundos para Kiev.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou 300 milhões de libras (377 milhões de dólares) em ajuda militar para a Ucrânia, incluindo radares, drones de transporte pesado e dispositivos de visão noturna.
"Esta é sua hora mais gloriosa", afirmou Johnson ao Parlamento ucraniano por videoconferência, referindo-se a um discurso de Winston Churchill aos parlamentares em 1940, antes de uma batalha do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial.
A União Europeia trabalha em um sexto pacote de sanções que inclui um cronograma para eliminar gradualmente as importações de petróleo russo e alertou seus países membros para se prepararem para o fim do fornecimento de gás russo.
As novas sanções também devem afetar o setor financeiro e "haverá mais bancos russos que deixarão o Swift", o sistema de transações internacionais, revelou o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
Medidas que o presidente russo, Vladimir Putin, condenou nesta terça-feira durante uma conversa com o seu homólogo francês, Emmanuel Macron.
"O Ocidente pode ajudar a pôr fim às atrocidades exercendo influência apropriada sobre as autoridades de Kiev e também deixando de fornecer armas à Ucrânia", disse Putin, segundo um comunicado divulgado pelo Kremlin.
Da mesma forma, o presidente russo criticou "a incoerência e a falta de preparação de Kiev" nas negociações de paz, mas ressaltou que "o lado russo continua aberto ao diálogo".
Do Vaticano, o papa Francisco disse em entrevista ao jornal italiano Il Corriere della Sera que está disposto a viajar a Moscou para falar com Putin e tentar acabar com a guerra.
AFP / Estado de Minas