Bernardo Mello FrancoO Globo
José Seripieri Filho, mais conhecido como Júnior, entrou no mundo dos negócios como vendedor de bugigangas paraguaias. Com boa lábia, virou corretor de seguros. Depois fundou uma administradora de planos de saúde, a Qualicorp. A empresa cresceu e ele ficou bilionário, com nome e fortuna na lista da Forbes.
Em 2014, Júnior convidou 600 pessoas para seu casamento, em Bragança Paulista. Romântico, ele emocionou a noiva com um show surpresa de Roberto Carlos. A festa chamou a atenção pelo luxo e pela presença de políticos. Estavam lá Lula, José Serra, Geraldo Alckmin, Gilberto Kassab e Marta Suplicy.
SUPARTIDÁRIO – A Qualicorp também tinha espírito suprapartidário. Naquele ano, abriu os cofres para financiar as campanhas de Dilma Rousseff e Aécio Neves, adversários na corrida presidencial. Mais tarde, um diretor da empresa admitiu que também houve doações ilegais. Ele relatou um repasse clandestino de R$ 5 milhões a Serra.
A delação de Elon Gomes de Almeida deu origem a um inquérito no Supremo Tribunal Federal. Em 2018, os ministros despacharam o caso para a Justiça Eleitoral. A defesa de Serra respirou aliviada. Afinal, a tradição brasileira ensina que ninguém vai preso por caixa dois.
Tudo parecia sob controle até julho passado, quando a Polícia Federal prendeu Júnior e recolheu papéis na casa de Serra. O juiz Marco Antonio Martin Vargas também ordenou buscas no gabinete do senador, mas o Supremo barrou a ação. Segundo o ministro Dias Toffoli, havia “risco potencial” de a PF recolher documentos ligados à atividade parlamentar do tucano.
GILMAR EM AÇÃO – Apesar do revés, o promotor Fábio Bechara continuou a trabalhar. Ele terminava de redigir a denúncia quando Gilmar Mendes entrou em campo. Na semana passada, o ministro determinou o retorno do caso ao Supremo, afirmando que Serra estaria protegido pelo foro privilegiado. Na prática, isso significa que nada acontecerá ao tucano. As suspeitas prescrevem daqui a sete dias.
O senador e o magistrado são velhos amigos. Quando o político fez 75 anos, o supremo ministro abriu sua casa para homenageá-lo. Em dezembro, o anfitrião da festa vai soprar a 65ª velinha. Serra deve um jantar a Gilmar.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Este artigo, enviado à Tribuna pelo advogado e economista Celso Serra, mostra como é impressionante a “independência” com que o ministro Gilmar Mendes costuma agir ao envergar o manto outrora sagrado do Supremo. Com a maior desfaçatez do mundo, ele caminha fora da lei e não se julga impedido de atuar em processos que envolvem seus amigos pessoais. Na internet, circula uma matéria do Estadão sobre esse jantar oferecido por Gilmar Mendes ao senador José Serra em 2017, exclusivamente para corruptos.
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Este artigo, enviado à Tribuna pelo advogado e economista Celso Serra, mostra como é impressionante a “independência” com que o ministro Gilmar Mendes costuma agir ao envergar o manto outrora sagrado do Supremo. Com a maior desfaçatez do mundo, ele caminha fora da lei e não se julga impedido de atuar em processos que envolvem seus amigos pessoais. Na internet, circula uma matéria do Estadão sobre esse jantar oferecido por Gilmar Mendes ao senador José Serra em 2017, exclusivamente para corruptos.
Estiveram presentes o presidente Michel Temer, que seria julgado e salvo pelo póprio Gilmar no TSE em ação que poderia cassar seu mandato, os senadores Aécio Neves e José Agripino Maia, os presidentes do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e outros políticos altamente suspeitos – todos alvos da delação da Odebrecht e de pedidos de abertura de inquérito no Supremo.
O assunto principal foi o desmonte da Lava Jato, que está acontecendo hoje, mostrando que quem manda no Brasil é o ministro Gilmar Mendes, uma espécie de Rasputin imberbe, careca e beiçudo, que domina os bastidores dos três Poderes e transforma o país inteiro num puteiro, como dizia o genial Cazuza, que procurava uma ideologia para viver. Outro assunto acertado no jantar foi passar os casos de caixa dois para a Justiça Eleitoral, que é famosa pela incompetência e complacência. (C.N.)