Pedro do Coutto
A política é sempre repleta de surpresas e, por isso, sua movimentação contesta as afirmações que se tornam congeladas diante das mutações. Isso é próprio da política em si. Os imprevistos ao longo da estrada possuem sempre uma influência de peso que apaga as ideias fixas. É a vitória de seu caráter dinâmico sobre os estacionamentos do raciocínio, em um encadeamento que se choca com uma visão fotográfica do momento.
O cinema, iniciado no amanhecer do século XX, assim representou um dinamismo de imagens que supera a cristalização da conquista da técnica e da arte de fotografar. Mas vamos ao assunto esquecendo essas movimentações de texto.
NOS ESTADOS UNIDOS – O New York Times publicou, e reportagem de Bruno Benevides e Catarina Pignato, Folha de São Paulo de 4 de julho reproduziu, apontando um distanciamento de Joe Biden sobre Donald Trump para as eleições de 3 de novembro. A surpresa comprova o dinamismo do processo político que altera rumos que pareciam estar solidificados.
Donald Trump estava firme à frente dos Democratas. Mas o jogo se modificou, podendo ser muitas as razões, a começar pelo desempenho do atual ocupante da Casa Branca.
O New York Times encomendou quatro pesquisas sobre intenções de voto. A primeira aponta diferença de 53 a 41 pontos. A segunda de 52 a 44, a terceira de 46 a 39, uma quarta de 50% a 38%.
ELEITORADO NEGRO – A grande margem de intenções de votos no eleitorado negro sustenta o avanço de Biden. Nessa faixa ele atinge 90%. Entre os latinos a vantagem é de 65 a 35. E entre os brancos Trump tem uma vantagem de 51 a 49, praticamente um empate.
O panorama representa o caráter volúvel do eleitorado ao sentir a força do vento dos fatos. Nas eleições de 2016, por exemplo, Hillary Clinton perdeu a disputa por si mesma. Ela foi usar o sistema da Internet do governo para mensagens não oficiais entre pessoas de seu conhecimento. E também fez exatamente o contrário. Usou seu computador pessoal para trocar correspondências de Estado.
EXEMPLO DE HILLARY – Ela vinha à frente com 12 pontos em outubro. James Comay, diretor do FBI, reviveu o episódio três semanas antes das eleições. Hillary teve mais votos mas perdeu no peso dos colégios eleitorais. O páreo foi decidido em Michigan onde Trump venceu pela margem de 0,1%. Como sempre digo, Hillary perdeu para si mesma.
Agora mais um fato contra Trump. No sábado ele atacou a new left (nova esquerda) e estendeu suas críticas àqueles que combatem o racismo. O que dizer?
O PIB E O ABONO – Francamente, ao longo de 62 anos de jornalismo, poucas vezes li afirmação tão sem base na realidade quanto a declaração de Sérgio Vale, economista chefe da MB Associados. Na reportagem de Cássia Almeida, O Globo de hoje, ele disse que a distribuição do benefício mensal de 600 reais representou 2,5 pontos a mais no PIB deste ano. A queda que seria de 9% passou a ser de 6,5.
Ora, o PIB é a soma de tudo que se produziu ao longo de 12 meses em qualquer país. Não importa qual o setor da produção, incluindo o consumo. O que está havendo no Brasil é uma simples transferência de recursos estatais para camadas da sociedade, justa. Portanto, a ordem dos fatores não pode alterar o resultado.
DEMISSÕES VOLUNTÁRIAS – Por fim, neste artigo de hoje focalizo matéria de O Globo de domingo. O presidente da Petrobrás, Roberto Castelo Branco, lançou na empresa o programa de demissões voluntárias, cujo objetivo é reduzir o número de empregados de 44 mil para 30 mil. Argumentou que o programa contribui para redução de custos da Petrobrás.
Só na aparência, porque a grande parte dos que aderem ao PDV são os que possuem tempo de serviço para se aposentar. Assim obtêm indenização e recorrem à Petrus, fundo de pensão que complementa o valor de remuneração mensal. Por exemplo: se alguém vai receber 6.000 reais do INSS e seu salário na Petrobrás for de 10.000 reais. a Petrus complementa a diferença.
Ótimo negócio para os que atingiram o tempo suficiente para se aposentar. Em matéria de economia de custos, a diminuição do quadro de pessoal é transferida para o Fundo de Pensão, que é parcialmente pago pela própria Petrobras. Apenas isso.