O que é pior? O fanatismo religioso, o fanatismo político ou os dois juntos?
Nélio Jacob
Mário Coro é um psicanalista e escritor gaúcho que escreve crônicas maravilhosas no jornal Zero Hora. Selecionei um oportuno texto dele, muito bom, mesmo. É sobre o fanatismo religioso, que move seitas pelo mundo inteiro. É claro que o fanatismo não só ocorre apenas em seitas religiosas, mas também em seitas políticas.
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DISSONÂNCIA COGNITIVA
Mário Corso / Zero Hora
Em 1954, uma “profeta” e dona de casa do Michigan, Dorothy Martin, previu que uma nave espacial levaria ela e seus seguidores para fora do planeta, pois a Terra seria inundada. Precisamente no dia 21 de dezembro daquele ano, Deus teria avisado apenas a ela.
Então Dorothy e seus discípulos largaram suas posses e suas famílias para esperar o resgate.
Como a história era pública, psicólogos e pesquisadores chefiados por Leon Festinger se infiltraram no grupo para observar a reação dos crentes quando a profecia não ocorresse. Estavam justamente estudando como as crenças se transformam quando a realidade se impõe.
A FORÇA DA FÉ – Quando a nave não chegou, os membros da seita concluíram que as orações deles teriam sido tão eficazes que impediram a destruição do planeta. Por isso a nave não foi necessária.
Ou seja, o pensamento mítico, tanto como o pensamento paranoico, nunca é vencido. A experiência contrária, não só afunda a tese, como a reforça.
Sujeitos emocionalmente envolvidos com sua crenças não abrem mão do sistema que usam, eles torcem os fatos para encaixar na teoria prévia. Por isso, há o conceito de dissonância cognitiva, a diferença daquilo que ocorre e como isso é entendido pelas pessoas.