Publicado em 5 de fevereiro de 2023 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
O ministro Alexandre de Moraes determinou à Polícia Federal que investigue e forneça conclusão efetiva das afirmações feitas pelo senador Marcos do Val sobre um plano de golpe contra o governo Lula comandado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. O senador Marcos do Val apresentou pelo menos três versões não totalmente iguais para as suas revelações sobre a trama de um golpe contra a democracia e contra o resultado das urnas.
Falou numa entrevista à GloboNews, falou numa entrevista à Veja e também apresentou uma terceira versão à Folha de S.Paulo e ao O Globo nas edições de sexta-feira. As afirmações do senador Marcos do Val envolveram a tentativa de fazer uma gravação com o próprio ministro Alexandre de Moraes, levando-o a revelar opiniões capazes de desqualificá-lo como presidente do Tribunal Superior Eleitoral nas eleições de outubro. No O Globo, a reportagem sobre a decisão de Moraes é de Daniel Gullino, Marianna Muniz, Lauriberto Pompeo, Patrick Camponês, Vera Magalhães e Gian Amato. Na Folha de S. Paulo, a matéria é de Igor Giellow, José Marques e Thaísa Oliveira.
“SOU ITALIANO” – Na Folha de S. Paulo, também na edição de ontem, reportagem de Géssica Brandino, revela que o ex-presidente Jair Bolsonaro reafirmou nos Estados Unidos que pelo fato de possuir avós nascidos na Itália tem o direito à cidadania italiana e enfrentaria pouca burocracia para solicitar esse direito. Bolsonaro afirmou que, pela legislação, “eu sou italiano”, e portanto deixou claro que teria direito a receber asilo pelo governo daquele país.
As declarações de Bolsonaro sobre a cidadania italiana foram feitas a uma repórter italiana no início de janeiro deste ano. Mas, o chanceler italiano Antonio Tajani disse que o ex-presidente do Brasil não fez essa solicitação ao governo. O fato é que ao admitir que poderá obter a cidadania italiana, ficando implícito um asilo político, o ex-presidente Jair Bolsonaro enfraquece forte e visivelmente a liderança que ainda exerce sobre os fanáticos da extrema-direita nos quais se incluem os invasores de Brasília.
Fica nítido que Bolsonaro não pretende retornar ao Brasil e não pretende permanecer nos Estados Unidos porque tacitamente deixa claro não acreditar que a Casa Branca lhe conceda um asilo político nas condições que admite alcançar na Itália. A liderança bolsonarista sofre um abalo em consequência da declaração de Bolsonaro.
GRAVIDADE – Dependendo da confirmação das declarações efetivas do senador Marcos do Val, o ministro Alexandre de Moraes vai orientar que medidas legais colocará em prática para dar continuidade à questão, uma vez que pela sua gravidade não pode ficar esquecida. O senador precisa definir o que afinal ele pretende dizer e com isso permitir ao Supremo Tribunal Federal que dê continuidade às investigações e aos aspectos legais decorrentes do sombrio episódio cuja intenção verdadeira ainda não ficou totalmente clara.
É preciso, portanto, colocar as afirmações do senador diante de uma lente de cristal. Entretanto, conforme já escrevi, tenho a impressão de que no fundo Marcos do Val tentou – absurdamente ou não – um jogo duplo: ao mesmo tempo iludir os bolsonaristas que estava tentando aliviar a culpa de Bolsonaro na invasão de Brasília e, paralelamente também expor a responsabilidade direta do ex-presidente na selvageria que depredou os edifícios do Palácio do Planalto, do Congresso, culminando com a invasão do STF.
Tenho dúvida sobre o objetivo da presença de Valdemar Costa Neto entre as sombras de tentativa de golpe. Seja qual for, porém, a verdade, está caracterizado o envolvimento de Jair Bolsonaro, pois caso contrário não haveria motivo para ele buscar o reconhecimento de uma cidadania sua na Itália. Só o temor de retornar ao Brasil e uma sensação de certeza de que não obteria apoio do governo Joe Biden poderia levá-lo a admitir tal hipótese.
PRODUÇÃO INDUSTRIAL – Reportagem de Carolina Nalin, O Globo, com base em pesquisa do IBGE divulgada na tarde de sexta-feira, revela que a produção industrial do país recuou 1,1% no exercício de 2022. O resultado é muito ruim, sobretudo levando-se em conta que a população brasileira aumenta na velocidade de 1% ao ano.
Assim, tanto o PIB, do qual a produção industrial faz parte, quanto ele próprio, não podem deixar de avançar 1% a cada 12 meses. Caso contrário, a economia estará em recessão camuflada , uma vez que a queda de produção representa também uma queda no movimento comercial de bens duráveis.
AMERICANAS – No O Globo e também na Folha de S. Paulo, matérias revelam que o Conselho das Lojas Americanas destituiu toda a Diretoria da empresa, enquanto os sindicatos fazem protestos contra as demissões programadas.
A dívida, como se sabe, passa de R$ 40 bilhões e, na sexta-feira, Jorge Paulo Lemann retornou ao Brasil, uma vez que a sua residência é na Suíça. O que os ex-diretores da Americanas desejavam era isso, pois destituídos se ocultam em sombras do que ocorre na empresa.
CENTRÃO – Thiago Resende e Julia Chaib, Folha de S. Paulo, revelam que o governo Lula e o bloco do Centrão estão discutindo cargos e liberação de verbas para que o Planalto amplie a sua base parlamentar no Congresso Nacional.
Não é surpresa. De 1990 para cá, e lá se vão mais de três décadas, o Centrão apoiou todo o governo e fez parte da administração federal. Na verdade, apesar de ser fisiológico, seu apoio tem como justificativa política fornecer estabilidade ao governo, sem importar qual seja. Pensar que parte do Centrão pudesse se transformar em oposicionista é uma exercício de ingenuidade.