Fernanda Pinotti e Caroline Rosito
CNN
Em entrevista à CNN nesta sexta-feira (3), o senador Marcos do Val (Podemos-ES) disse que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes não orientou que ele formalizasse o seu depoimento sobre a reunião com Daniel Silveira (PTB-RJ) e o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e disse que vai pedir o afastamento de Moraes da relatoria do inquérito dos atos antidemocráticos.
O senador afirmou que mandou uma mensagem ao ministro logo após a reunião com um resumo do que havia se passado, e que teve um encontro presencial com Moraes alguns dias depois e “em momento algum ele me disse para fazer um registro oficial da situação”.
SEM ORIENTAÇÃO – “Não fui orientado nem em mensagens, nem no encontro presencial”, disse Do Val. Ele também anunciou que vai pedir à Procuradoria-Geral da República (PGR) o afastamento de Moraes da relatoria do inquérito dos atos democráticos.
O senador disse que solicitou que a Polícia Federal (PF) tenha acesso a todas as mensagens trocadas com Moraes e com Silveira em seu celular, para que passem a fazer parte dos autos do inquérito. “Como ele [o ministro Alexandre de Moraes] vai entrar nos autos, não poderá mais ser relator”, disse.
Na entrevista, Do Val reafirmou que o presidente Jair Bolsonaro ficou em silêncio enquanto Daniel Silveira falava sobre a possibilidade de um golpe de Estado.
FOI INCENTIVADO – Como o repórter que foi autor da matéria da Veja é seu ex-assessor, Marcos do Val também disse que foi “incentivado” por seu ex-assessor a dar o depoimento sobre essa reunião. Leonardo Caldas Vargas, autor da matéria na revista Veja que trouxe à tona a reunião entre ele, Jair Bolsonaro e Daniel Silveira, realmente é ex-funcionário da equipe de comunicação do senador.
Quando questionado sobre as contradições entre sua entrevista para a revista Veja e as declarações dadas durante a coletiva de imprensa na quinta-feira (2), Marcos do Val disse que, ao mencionar o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) ele estava apenas contextualizando quais órgãos precisariam ser acionados para que o plano de Silveira não fosse feito de forma ilegal, e não estava afirmando que o GSI sabia do plano.
FEZ “GLAMOUR” – Do Val ainda disse que “fez um glamour” ao falar que Bolsonaro havia lhe dado uma ordem direta durante a reunião, em entrevista para Leonardo, mas que as mensagens trocadas anteriormente com Alexandre de Moraes deixam claro que o ex-presidente ficou silêncio e apenas escutou enquanto Silveira falava.
Ele frisou que a gravação da conversa pelo repórter da Veja foi feita de forma ilegal, sem seu consentimento. E também negou que alguém da família Bolsonaro tenha o procurado para pedir que ele mudasse sua versão da história.
Em uma live na madrugada de quinta-feira, Do Val havia dito que o ex-presidente Jair Bolsonaro o teria coagido para tentar dar um golpe de Estado, o que conflita com a versão atualmente defendida pelo senador na qual Bolsonaro teria ficado em silêncio.
ESTAVA DESCONTROLADO – “Num momento que você está descontrolado emocionalmente, você fala coisas que não queria falar”. Ele também disse sentir gratidão pelo apoio de Carlos e Eduardo Bolsonaro durante os ataques que ele sofreu nas redes sociais por parte da direita.
Já o ministro Alexandre de Moraes afirmou, nesta sexta-feira (3) pela manhã, que Do Val não quis formalizar uma denúncia. “Eu indaguei ao senador se ele reafirmaria isso e colocaria no papel, que eu tomaria imediatamente o depoimento dele. O senador me disse que isso era uma questão de inteligência e que infelizmente não poderia confirmar”, disse o ministro durante participação virtual em uma conferência do Lide em Lisboa.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Toda a armação é para proteger Bolsonaro e o próprio Do Val, que serão inapelavelmente envolvidos no caso de uma delação premiada de Daniel Silveira. Depois voltamos ao assunto. (C.N.)