Publicado em 4 de fevereiro de 2023 por Tribuna da Internet
Bruno Boghossian
Folha
Esta semana, depois de encontrar o presidente uruguaio, Luís Lacalle Pou, em Montevidéu, Lula da Silva afirmou que sua relação com líderes políticos de outros países não terá viés ideológico. “Os presidentes não precisam pensar como eu”, declarou o brasileiro.
Um dos objetivos da viagem inaugural do terceiro governo Lula foi um ajuste simbólico na diplomacia brasileira. Em 24 horas, o petista sorriu ao lado do esquerdista Alberto Fernández (a quem chamou de “companheiro e amigo”) na Argentina e posou para fotos com Luis Lacalle Pou, que comanda um governo de centro-direita no Uruguai.
NOVA POLÍTICA – Com pouca sutileza, Lula quis demarcar diferenças com seu antecessor Bolsonaro, que escolheu ofender qualquer país que pendesse para o centro ou para a esquerda. Em Buenos Aires, o petista pediu desculpas aos argentinos “por todas as grosserias” de Jair Bolsonaro e ofereceu aos uruguaios um compromisso de cooperação independente de coloração partidária.
O movimento teve recepção diferente dos dois lados da fronteira. Com os argentinos, Lula falou a mesma língua sobre integração regional, interesses comerciais e o Mercosul. O ambiente parecia tão confortável que o petista deu combustível ao incipiente plano de criar uma moeda comum para o comércio.
No Uruguai, as exibições foram menos harmônicas. Lacalle Pou reafirmou em público o desejo do Uruguai de negociar acordos com a China — mesmo sabendo que o Brasil é contra a ideia. Lula reconheceu seu direito de buscar ganhos comerciais e apenas sugeriu que o Mercosul converse em bloco com o país asiático, num futuro ainda incerto.
ETAPAS INICIAIS – Lula sabe que o valor de seu capital diplomático varia de acordo com o terreno onde pisa. Ao menos nas etapas iniciais de seu retorno ao poder, a política externa do governo terá mais força quando algumas afinidades políticas estiverem presentes.
A eficácia deve ser testada na viagem de Lula aos EUA, em fevereiro. Com Joe Biden, o brasileiro tentará tirar proveito de uma agenda comum que tem o objetivo de denunciar e isolar a ameaça da extrema direita.