Charge do Nani (nanihumor.com)
Duarte Bertolini
O problema dos juros altos é somente mais uma das questões que nunca são tratadas seriamente no Brasil. Em nosso país, aquela velha tese de que “a versão é mais importante que o fato” assume ares de verdade sólida e aumentada nos inevitáveis pronunciamentos bombásticos e com ares de profunda sabedoria, em repetitivos discursos de “autoridades e especialistas”.
Para qualquer situação, estão sempre prontos os discursos, teses, discussões, manifestações, decretos, CPIs, abaixo assinados indignados, declarações brilhantes etc.
É UMA FIXAÇÃO – De onde vem esta fixação por discursar ao invés de tomar qualquer tipo de ação? O quê? Ação? Ora, nada disso, tudo se ajeita com o andar da carruagem.
Aquele velho ditado de que, com calma e com jeito, domina-se qualquer sujeito, é levada ao extremo do requinte e crueldade no Brasil, porque todo o chamado Sistema se une para engambelar os coitados — todos nós.
Vejamos apenas algumas contradições que pude entender da rasa discussão que tivemos desde sempre sobre os juros altos do Brasil. Exemplo: Por que somente o Brasil utiliza há décadas, de forma permanente, a taxa de juros elevada para conter a inflação? Ok, existem economias mais sólidas, mas o Brasil não está entre as 10 maiores economias do mundo?
MAIS DÚVIDAS – Nos ufanamos de estar entre as maiores economias, mas na hora de analisar juros seríamos uma Etiópia ou uma Bangladesh em matéria de fragilidade econômica, claro, o que nos obrigaria a usar remédios amargos que nem estas economias utilizam?
Será que não está na hora de fazermos como no futebol, que ao trazer técnicos estrangeiros comprovou que somos (no futebol) preguiçosos, arrogantes, limitados, amadores e sem muito esforço, pois os times que tomaram esta decisão vão empilhando títulos e bailes e deixando o resto comendo poeira?
Será que não está na hora de tirarmos o mofo de nossos conceitos de economia e iniciarmos novo ciclo, como no futebol?
FORMAÇÃO VICIADA? – Será que nossos conceitos econômicos estão mofados, contaminados por pragas de formação viciada e vinculadas a interesses exploratórios, e desta forma nunca sairemos do atoleiro, pois ninguém ousa confrontar o sistema financeiro, pois para isso necessitaria contar com profissionais que não estejam contaminados pelo mesmo sistema que é preciso combater?
Dizem que o BC do digníssimo Campo Neto (poderia ao menos ter o humor refinando e sarcástico do avô) mantém os juros tão altos para evitar uma explosão do consumo e, por consequência, da inflação. Perfeito, de acordo com os manuais da submissão ao capital financeiro, estamos acostumados…
Mas aí aparecem outros sábios e dizem que os juros cobrados pelos bancos e financeiras, para as atividades econômicas das empresas, e nos créditos ao consumidor final, nada têm a ver com os juros cobrados pelo BC. Por isso se justificam os juros do BC em 13,7% e os juros dos bancos nos cartões de crédito em até 400%… Perguntinha boba e inocente, de um imbecil, claro: Se não têm nada a ver, então por que a discussão??
QUERIA ENTENDER… – Se os juros fixados pelo BC servem apenas como balizadores das operações de remuneração dos coitados dos aplicadores e da carga de crescimento infinito para as contas do governo (leia-se lombo dos cidadãos), como a queda dos juros do BC poderia ter efeito sobre o consumo das mesmas pessoas que pagam juros muitas vezes maiores quando querem consumir sem dinheiro?
Não consigo entender. Poderia me estender muito mais, porém necessitamos de tempo, espaço e disposição para provocar a discussão e obter dos doutos senhores econômicos ao menos sinalizações e respostas.
Só não valem respostas e sugestões “protocolares”.
