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sexta-feira, agosto 05, 2022

Opinião - A quem interesse manter morto o ativo Centro de Arte e Cultura de Sergipe em plena Atalaia?

 03 de Ago de 2022, 21h24

[*] Daniela Coelho

O Centro de Arte e Cultura J. Inácio, na Atalaia, em Aracaju, foi inaugurado pelo governador João Alves Filho em setembro de 2004. Maria do Carmo do Nascimento Alves era secretária de Estado de Combate à Pobreza, da Assistência Social e do Trabalho.

Esse espaço foi reformado e entregue a Prefeitura pelo Estado em outubro de 2021. No entanto, desde essa data permanece fechado, sem nenhuma explicação. Nunca mais foi devolvido às suas funções artísticas e culturais de origem.

Esse Centro foi, inicialmente, uma visão de Maria do Carmo. Ela que sempre foi pró-mulher e ciente de que a atividade artesanal envolve muitas mulheres, deu a elas e ao artesanato de Sergipe o endereço mais nobre da capital: a orla, a praia, a proximidade dos hotéis, o ponto turístico mais bem frequentado de Aracaju, referência de arquitetura, beleza, natureza, segurança, urbanismo, integração e gratuidade.

Dessa forma, colocava ao alcance de todos um espaço nobre, aberto e sofisticado, ao mesmo tempo que expunha de forma luxuosa o artesanato de Sergipe. Um showroom. Tudo de melhor do artesanato brilhava nas vitrines do espaço do Centro Cultural J. Inácio.

Associado a isso, houve um fortalecimento da categoria. Surgiram associações e pessoas envolvidas com a função, com a venda, preocupadas com a qualidade dos produtos, com a preservação da identidade e, sobretudo, com as pessoas, a renda, a família e com a prosperidade. É difícil para o artesanato sobreviver sem espaço, sem apoio, sem união com o governo e com o Estado que o representa.
Dessa forma, juntos e integrados, é que o artesanato sergipano ganhou o mundo através das rendas, dos bordados, das tapeçarias, das madeiras e das cerâmicas. Os produtores se empenharam em beleza, requinte e em qualidade.

O espaço também fervilhava com apresentações culturais: dança, teatro, shows, musicais e gastronomia. Isso movimentava a orla, um espaço para o que havia de melhor em produção cultural e artística na capital sergipana.

O artesanato é manual, não é industrializado, tem finalidade utilitária, artística. Não se pode desprezar também o afeto com que as peças são criadas, assim como a herança que deixa marca de gerações nas cores, nos desenhos, nos formatos, nos usos. Há que se perceber em cada peça o potencial terapêutico associado: ser produtivo implica em ser útil, poder se sustentar, gerar renda, trabalho, movimentar a economia de forma diversificada.

O artesanato é sustento dessas pessoas que batalham por sua arte e pela preservação e manutenção de uma identidade. Maria do Carmo do Nascimento Alves enxergou isso. Sabia que a maior parte dos lares de Sergipe, com renda mais vulnerável, era sustentado por mulheres. Além disso, ela sabia, sobretudo, do potencial da arte do Estado que teve a Renda Irlandesa reconhecida como patrimônio cultural imaterial em 27 de novembro de 2008.

Hoje o artesanato não tem casa. Não tem o que comemorar! O Estado entregou à Prefeitura a gestão do Centro que permanece desabitado, fechado. No coração da orla de Sergipe, o Centro de Cultura está sem pulso. Todos aguardam pelo retorno do artesanato e dos eventos culturais que antes faziam parte da programação de turistas e de sergipanos.

Então ficamos todos aguardando as respostas às perguntas: por que o espaço ainda não foi devolvido, mesmo com a reforma concluída? O que mudou quando o Estado, desistindo de administrar o centro de arte, entrega à Prefeitura seu aparato? Quais são os motivos do adiamento do retorno do artesanato à sua casa?

Durante a reinauguração do Centro e a entrega do espaço para a Prefeitura administrar, a prefeita em exercício Katarina Feitoza mencionou em seu discurso que era um local de referência da arte e da cultura e considerou um presente, uma vitrine. Porém, a Prefeitura ainda não devolveu o espaço aos artesãos, à sociedade e aos turistas. Mantém fechado, ocioso, em completo desuso aquele prédio inteiro, lindo, em silêncio.

O Centro de Arte e Cultura está lá aguardando ser ressuscitado para garantir o processo produtivo, a sobrevivência, o incremento da renda, a partir da divulgação e reconhecimento da atividade genuinamente brasileira e sergipana. Ele precisa voltar a fomentar o turismo do Estado e voltar a abastecer a cultura movimentando o cenário artístico do Estado.

Lamentável a Prefeitura ficar adiando essa ocasião. Os artesões, os artistas e as pessoas estão precisando revitalizar, reativar tudo que ficou dormente na pandemia por causa do vírus. Recuperar os contatos, a economia e a arte. Encher de vida os espaços públicos, gratuitos e democráticos. A Prefeitura de Aracaju esquece que esses momentos de arte e cultura são sobretudo terapêuticos, integrativos, organismo vivo, indicativo de humanidade.

[*] É dentista, poeta, escultora e artesã.

 

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