23 de Ago de 2022, 21h02
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[*] Jorge Santana
O apoio da maioria dos empresários brasileiros ao bolsonarismo não é novidade para ninguém. Não importa o segmento da economia ou o porte da empresa, o projeto de extrema-direita teve no setor empresarial um dos seus mais importantes apoiadores na eleição de 2018 e veio a se tornar um dos principais pilares de sustentação do governo.
Em alguns casos, o apoio se converte em fanatismo, beirando a insanidade, a exemplo do que vimos recentemente: importantes empresários trocando mensagens em um grupo de Whatsapp, nas quais defendem abertamente um golpe de Estado como instrumento a se lançar mão em caso de derrota eleitoral do capitão, aquele de quem são fiéis devotos. Por óbvias razões, terão que lidar com a justiça, afinal de contas, atentar contra o Estado Democrático de Direito é crime devidamente tipificado.
Existem razões históricas fartamente estudadas e que explicam o desmedido conservadorismo do setor empresarial brasileiro. Não por acaso, o empresariado sempre teve papel relevante nos diversos processos de ruptura democrática, a exemplo do golpe militar de 64.
Nas duas últimas décadas, quando governos de centro-esquerda com receituário social democrata comandaram o país, atravessamos um ciclo virtuoso na economia que beneficiou como nunca antes o capital (produtivo e improdutivo). Inobstante este fator, a maior parte dos empresários optou por abandonar a racionalidade em favor do forte viés ideológico, culminando com o patrocínio da aberração eleitoral de 2018, que terminou por levar o país para a mais completa tragédia (econômica, sanitária, ambiental, institucional, administrativa etc) da sua história: o bolsonarismo.
Decorridos quatro anos dessa calamidade, ao menos uma parcela relevante do empresariado recuperou a lucidez, depois de acumular frustração com as promessas neoliberais não cumpridas, com a catastrófica atuação na pandemia da covid-19, com a errática política externa e, finalmente, com os levianos ataques às instituições e ao sistema eleitoral.
Um dos exemplos mais marcantes dessa guinada foi o manifesto lançado pela Fiesp intitulado "Em defesa da democracia e da Justiça" que, sem arrodeios, diz: "Queremos um país próspero, justo e solidário, guiado pelos princípios republicanos expressos na Constituição, à qual todos nos curvarmos, confiantes na vontade superior da democracia. Ela se fortalece com união, reformando o que exige reparos, não destruindo; somando as esperanças por um Brasil altivo e pacífico, não subtraindo-as com slogans e divisionismos que ameaçam a paz e o desenvolvimento almejados".
Igualmente merece destaque o fato de grandes e pequenos empresários terem subscrito a "Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!", em torno da qual se construiu um movimento que mobilizou democratas de todo o país, exigindo um basta à escalada do autoritarismo que vem se dando por meio de tentativas de enfraquecer instituições essenciais à democracia, como o judiciário e a imprensa.
Por outro lado, o Instituto Capitalismo Consciente, representante oficial do Conscious Capitalism Inc no Brasil e que reúne fração considerável das mais importantes empresas do país, publicou a carta aberta "Princípios para um Capitalismo Consciente no Brasil", onde faz a defesa intransigente da democracia e afirma: "Os países que, entretanto, optaram por regimes ditatoriais, aumentaram o grau de pobreza e desigualdade de seu povo, travaram o crescimento de suas economias e geraram mais pobreza e miséria".
Já o Instituto Ethos, que reúne cerca de 500 empresas dos mais diversos portes e segmentos espalhadas pelo país e cuja missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerirem seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável, somou-se a 200 outras organizações da sociedade em torno do "Manifesto em Defesa das Eleições".
Por fim, há mais uma notável demonstração da redução da hegemonia bolsonarista no meio empresarial. Na última pesquisa Datafolha que divulgou esse dado (jun/22), na amostra de empresários o candidato Bolsonaro tinha 42% (ante 49% na pesquisa anterior) e Lula 27% (ante 20%).
Conclusão: é crescente o número de empresários que desembarcam da canoa furada do bolsonarismo e que não querem incluir em suas biografias a cumplicidade com o mais nefasto governo da história do país, em todos os sentidos.
[*] É empresário e ativista pró-democracia.
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