Publicado em 4 de agosto de 2022 por Tribuna da Internet
Daniel Salomão Roque
BBC Brasil
“Esse Congresso está mais do que podre”, gritou o então deputado federal Jair Bolsonaro no dia 20 de agosto de 1993. “Estamos votando uma lei eleitoral que não muda nada. Não querem informatizar as apurações. Sabe o que vai acontecer? Os militares terão 30 mil votos, e só serão computados 3.000”.
Bolsonaro, então filiado ao PPR (Partido Progressista Reformador) de Paulo Maluf, discursava para coronéis e generais da reserva na sede do Clube Militar do Rio de Janeiro em um evento para discutir a “salvação do Brasil”. Fazia uma defesa da nascente urna eletrônica como um antídoto contra fraudes que ocorriam no voto impresso.
SOB SIGILO – A maior parte da reunião, segundo o Jornal do Brasil da época, ocorreu sob sigilo, com os participantes divididos em seus planos para a retomada do poder. Uns defendiam o lançamento de candidaturas para as eleições de 1994. Outros, como Bolsonaro, sustentavam que a via democrática era um “sistema viciado”.
“Independente das pequenas divergências, nós já somos uma força política, e estamos crescendo”, disse o general Euclydes Figueiredo (1919-2009), irmão de João Figueiredo (1918-1999), último presidente da ditadura militar brasileira.
“Não queremos o golpe, mas eles nos temem”, afirmou no evento do Clube Militar.
DISSE BOLSONARO – No final daquele ano, Bolsonaro enumeraria as providências que julgava necessárias para garantir a lisura do processo eleitoral — entre elas, a proibição do voto dos analfabetos, a exigência de segundo grau (o antigo ensino médio) para os candidatos e a informatização das eleições.
“Só com essas medidas conseguiríamos evitar os votos comprados”, disse.
Quase 30 anos depois, suas declarações contrastam com uma das principais plataformas do atual presidente da República: lançar desconfiança sobre a lisura da urna eletrônica.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Muito interessante a matéria enviada por Antonio Fallavena. Mostra que na vida tudo muda e as pessoas também podem mudar. Bolsonaro também deveria pensar assim. Parece ser hora de aceitar as urnas eletrônicas. Atacá-las não está rendendo votos. É preciso mudar a estratégia. (C.N.)