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sábado, agosto 27, 2022

Governo é omisso diante das 1.500 pistas de pouso que abastecem os garimpos

Publicado em 27 de agosto de 2022 por Tribuna da Internet

Centenas de pistas de pouco estão nas reservas indígenas

Deu em O Globo

Em maio, O Globo noticiou que o Ibama mapeara 277 pistas de pouso irregulares no território ianomâmi, área equivalente a Portugal. Agora, reportagem do New York Times contou, além dessas, 1.269 outras pistas clandestinas em toda a Amazônia, ativas pelo menos até o ano passado, todas localizadas em áreas ricas em ouro e estanho.

Centenas delas também em terras indígenas. Do total, 362 estavam dentro do raio de 20 quilômetros de algum garimpo. Há na reserva ianomâmi três bases do Exército para monitorar a fronteira com a Venezuela.

RESPOSTA PROTOCOLAR – O Times mapeou 35 pistas clandestinas num raio de 80 quilômetros de uma dessas bases. Relatou o fato ao Exército e recebeu uma resposta protocolar:

“O Exército reconhece que a integridade de suas fronteiras representa um desafio para o Estado brasileiro, e em particular para as forças de segurança”.

Para justificar o imobilismo, informou que o Brasil tem mais de 16 mil quilômetros de fronteira com dez países para vigiar. A Força Aérea também foi procurada com insistência, mas não deu resposta.

TEMPOS ATRÁS… – Nos anos 1980, sob pressão internacional, a Força Aérea destruiu várias pistas na região e fechou o espaço aéreo sobre o território durante meses. Isso é o que deveria ter sido feito já há algum tempo. Antes de Bolsonaro e sua política de incentivo ao garimpo e à exploração da madeira na Amazônia, ainda havia operações militares semelhantes. Agora, o sinal verde do Planalto à ocupação de terras produz uma destruição ambiental sem paralelo.

A invasão da terra ianomâmi por 30 mil garimpeiros em Roraima segue um padrão. Definida a área a explorar, geralmente às margens de um rio, abrem-se pistas clandestinas para estabelecer a logística do transporte de garimpeiros, alimento, combustível, equipamentos e do próprio ouro.

Enquanto o crime organizado se alastra na Amazônia, sua representatividade no Congresso poderá crescer se vingar a pré-candidatura a deputado federal pelo PL de Roraima do empresário Rodrigo Martins, sob investigação da PF por apoiar a mineração ilegal na terra ianomâmi.

NEGÓCIOS ESCUSOS – As empresas de Rodrigo Martins em Boa Vista, uma de táxi-aéreo e outra de perfuração de poços artesianos, são acusadas de ter movimentado mais de R$ 200 milhões em dois anos. A cifra, segundo a PF, só pode ser explicada se, entre os negócios, estiverem o ouro e a cassiterita da reserva indígena.

O Times usou uma ferramenta especial para analisar milhares de fotos de satélite, a fim de encontrar sinais de mineração próximos às pistas, como as piscinas usadas pelos garimpeiros para fazer a separação do ouro com o mercúrio, que depois polui os rios e contamina os peixes consumidos em povoados e cidades.

Segundo laudo da PF, o mercúrio encontrado nos quatro rios que correm no território ianomâmi está 8.600% acima do nível seguro para consumo humano. Quem quer que seja o vencedor das eleições de outubro, terá de enfrentar intensa pressão internacional para lidar com esse tipo de devastação que aflige a Amazônia e as populações indígenas.

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