Publicado em 3 de março de 2022 por Tribuna da Internet
Igor Gielow
Folha
A Rússia e a Ucrânia concordaram em estabelecer os chamados corredores humanitários em regiões sob fogo de Moscou na invasão que completou uma semana nesta quinta-feira (3). Para tanto, haverá cessar-fogo em algumas áreas do país.
O acerto, ainda sem detalhes claros, foi anunciado pelas delegações russa e ucraniana que se reuniram na Belarus, perto da fronteira com a Ucrânia, durante a tarde e o início da noite (manhã e tarde em Brasília).
GARANTIA RUSSA – Pouco antes do anúncio, o presidente Vladimir Putin disse num pronunciamento na TV que tais corredores já estavam garantidos pelos russos. Na fala, manteve a intenção de ir até o fim em sua guerra, que disse estar indo “segundo o plano” apesar dos aparentes problemas logísticos e da resistência ucraniana.
Corredores humanitários ou zonas de segurança implicam cessar-fogo, algo que, como visto na guerra da Bósnia nos anos 1990, é um instrumento muito precário. Além disso, podem ser utilizados para desocupar áreas de civis potencialmente hostis a invasores, sem garantias de que um dia voltarão para suas casas.
Uma variante da tática foi vista na guerra civil síria, quando Putin interveio para salvar a ditadura aliada de Bashar al-Assad. Ali, os russos montaram um destrutivo cerco a Aleppo, considerado reduto criminoso por muitos, para desentocar radicais islâmicos. Num dado momento, ofertaram corredores humanitários para que os remanescentes fossem embora.
OCUPAÇÃO MILITAR – O movimento facilita a eventual ocupação militar de territórios. Tomando um dos eixos do ataque russo, o sul ucraniano, o cerco que se forma a Mariupol, último bastião que impede a ligação terrestre entre o Donbass, área ao leste dominada desde 2014 por rebeldes pró-Rússia, e à Crimeia, anexada por Putin em 2014, sugere um ataque potencialmente devastador à cidade.
A retirada eventual dos civis de lá pode favorecer o plano presumido de Putin de remover da soberania ucraniana essa área estratégica, por exemplo. Seria custoso e traria desgaste, mas seria melhor do que matar muitas pessoas na cidade com quase 500 mil habitantes.
Não se antevê algo assim em Kiev, a capital de 3 milhões de habitantes, embora lá o cerco esteja estacionado a cerca de 25 km da cidade. Como em Mariupol, os bombardeios são mais a distância, com as incursões de soldados dos primeiros dias da campanha militar tendo ficado para trás.
MIGRAÇÃO – Já deixaram a Ucrânia mais de 1 milhão de seus 44 milhões de habitantes. Até a quarta-feira (2), o governo em Kiev contava cerca de 2.000 civis mortos, sem revelar baixas militares. Os russos só falam de 498 soldados caídos — as cifras não puderam ser checadas de forma independente.
Seja como for, são cenários incipientes. As duas delegações concordaram em uma terceira rodada de negociações, em data a definir, o que já é melhor do que um rompimento total —ainda que ambos os lados possam querer ganhar tempo, por motivos diversos.
Na segunda (28), a conversa não deu em nada. Havia uma expectativa vazada pela chancelaria russa de que um cessar-fogo pudesse ser negociado, mas o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse que as demandas russas de rendição eram inaceitáveis. Um dos negociadores ucranianos, David Arajamia, postou no Facebook antes da reunião exatamente a questão dos corredores humanitários.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Entre fraco e forte, não existe negociação, é uma farsa. A resistência mostra-se heroica, mas não leva a nada. Perde-se tempo, também perdem-se vidas, destrói-se o futuro de toda uma geração, morrem também sonhos e esperanças. Os supostos líderes dos povos deveriam ter isso sempre em mente. Imaginem a mortandade que teria acontecido no Brasil se o presidente João Goulart não fosse um homem sensato, que evitou desnecessário derramamento de sangue. O líder ucraniano Kelensky pode ser um grande comediante, mas sua atuação como político é desastrosa, não tem a menor graça. Provocou desnecessariamente o leão, agora não tem onde se esconder dele. (C.N.)