Por Vicente Nunes (foto)
Aconselhado por integrantes do Centrão, o presidente Jair Bolsonaro aproveitou a demissão do ministro da Educação, Milton Ribeiro, todo enrolado com falcatruas comandadas por pastores, para se livrar logo do “fardo” em que se transformou o presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna.
A visão é a seguinte: é melhor assumir todo o desgaste agora, enquanto a campanha ainda não começou oficialmente, para “virar a página” e concentrar os esforços em ações mais propositivas, uma vez que há espaço para Bolsonaro continuar subindo nas pesquisas de intenções de votos.
Na visão de aliados de Bolsonaro, não é possível deixar o ex-presidente Lula, que lidera todas as pesquisas, surfando na onda de salvador da pátria na questão dos combustíveis. Lula vem dizendo que “vai abrasileirar os preços da gasolina e do diesel”. Com isso, todos teriam um alívio no bolso.
Intervenção nos preços
Bolsonaro vem há tempos tentando intervir nos preços praticados pela Petrobras, mas sem sucesso. Demitiu, há um ano, Roberto Castello Branco da presidência da estatal, certo de que, com a nomeação de um general para o comando da empresa, teria todo o apoio possível para desvincular os preços dos combustíveis dos praticados no mercado internacional.
Silva e Luna, no entanto, recusou-se a fazer o que o presidente da República tanto queria. Alegou que as políticas de preços da Petrobras estão acima dos desejos presidenciais, sobretudo por garantir que não haja desabastecimento de combustíveis no país. Bolsonaro se sentiu traído, quadro que só piorou depois do mega-aumento de 18,7% na gasolina e de 24,9% no diesel.
O caminho para a demissão do presidente da Petrobras, que é detonado pelos filhos de Bolsonaro e pela ala militar, que abandonou o general, será não indicá-lo para o Conselho de Administração da empresa. A reunião para definir o novo Conselho está marcada para 13 de abril. O comando do Conselho caberá ao presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, que está completamente fechado com os propósitos de Bolsonaro.
Silva e Luna teria mandato de dois anos, mas está sendo jogado aos leões por ser um empecilho ao governo, que quer, a todo custo, reeleger o chefe do Executivo. Preços altos dos combustíveis jogam contra qualquer pretendente ao Palácio do Planalto. Então, dizem assessores do Planalto, que o general seja removido logo, antes que o estrago seja maior.
Correio Braziliense
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Saída de Ribeiro do cargo foi desenhada em festa de 15 anos
Por Denise Rothenburg
A história da distribuição de Bíblias com a foto do ministro foi a pá de cal que faltava para selar a saída de Milton Ribeiro do cargo de ministro da Educação. A notícia publicada no Estadão tirou o pouco de apoio que Ribeiro ainda tinha no meio politico. Nem mesmo a bancada evangélica suportou o que classificou de mistura do “sagrado com o profano”. Na Bíblia, a foto deve ser de Jesus Cristo, conforme repetiram muitos deputados evangélicos hoje pela manhã, engrossando o coro pelo afastamento do ministro.
A saída de Milton Ribeiro começou a ser desenhada de fato pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, ainda no fim de semana, durante festa de aniversário de 15 anos da filha do ex-deputado Alexandre Baldy (PP-GO), candidato a senador por Goiás. Ali, o comando do PP avaliou que o desgaste só cresceu na última semana e que eles deveriam trabalhar para convencer o presidente Jair Bolsonaro a afastar o ministro dia 31, quando os ministros candidatos às eleições deste ano deixam seus cargos. Aliás, como leitor da coluna Brasília-DF já sabe, era isso que estava previsto desde o início da semana passada: Se Ribeiro conseguisse se explicar e estancar a crise na semana passada, ele não precisaria sair. Caso contrário, sairia em 31 de março, junto com os outros, o que diluiria a repercussão. A notícia da distribuição de Bíblias com a foto do ministro em evento do governo, entretanto, antecipou a “operação”.
Os governistas avaliam que está num ponto em que não dá mais nem para esperar a fala do ministro no Senado, onde Ribeiro deve comparecer esta semana para explicar as denúncias de favorecimento às indicações de pastores para liberação de recursos. E, agora, terá ainda que explicar a questão da distribuição de Bíblias com a sua foto. Essa mistura de sagrado e profano foi criticada até mesmo pela bancada evangélica. Ribeiro perdeu agora todas as condições de permanecer. Ainda que seja uma licença, não estará mais no governo, sangrando a popularidade da administração federal. Falta Bolsonaro pegar a sua Bic e assinar a demissão e/ou afastamento. Os dois textos já estão prontos.
Correio Braziliense