Publicado em 31 de março de 2022 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
Até que não demorou muito. Justamente quando a mídia e as redes sociais apregoavam, em uníssono, que a terceira via estava derretendo e a eleição caminhava inexoravelmente para a polarização entre Lula da Silva e Jair Bolsonaro, de uma hora para a outra o quadro político-eleitoral deu uma guinada surpreendente.
Como diria o poetinha Vinicius de Moraes, não mais que se repente os principais pré-candidatos da terceira via – Ciro Gomes e Sérgio Moro – tiveram um ataque de bom senso e resolveram participar das importantíssimas conversações que vêm sendo realizadas com os presidentes de quatro partidos – União Brasil, MDB, PSDB e Cidadania.
QUEBRAR A POLARIZAÇÃO – O objetivo é unir os pré-candidatos alternativos e quebrar a polarização, para evitar que o Brasil continue a ser gerido por um presidente destrambelhado como Jair Bolsonaro ou por um ex-presidente que comandou o maior esquema de corrupção já implantado no mundo, chamado Lula da Silva.
Desde que surgiram as pré-candidaturas, começou esse movimento de convergência, então liderado por Henrique Mandetta, do antigo DEM, com apoio de João Doria e Eduardo Leite, que se preparavam para as prévias do PSDB, e de Alessandro Vieira, do Cidadania, e Felipe d’Avila, do Novo.
Ficaram faltando Ciro Gomes, do PDT, e Sérgio Moro, do Podemos, que não apoiavam a candidatura única, e Simone Tebet, do MDB, que demorou a definir sua pré-candidatura.
UM ESFRIAMENTO – Com essa oposição de Ciro e Moro, a negociação da candidatura única esfriou e o quadro político entrou em estagnação. Tudo passou a indicar que prevaleceria a polarização Lula/Bolsonaro e não havia a menor chance para a terceira via, conforme a mídia vem apregoando, com base nos tais institutos de pesquisa.
Mas nem todos os dirigentes de partidos embarcaram nesse bloco da polarização. E surgiram novas negociações, desta vez lideradas por Luciano Bivar, presidente do União Brasil, com apoio de Baleia Rossi, do MDB, e Bruno Araújo, do PSDB, partido que fez uma federação com o Cidadania, presidido por Roberto Freire.
Há duas semanas, surgiu a notícia da reunião com a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que deu sinal verde para a escolha de uma candidatura única. E o quadro começou a mudar.
MORO E CIRO – Os articuladores da terceira via se entusiasmaram com a receptividade de Simone Tebet e foram em frente. Convidaram, simultaneamente, Ciro Gomes e Sérgio Moro para as negociações.
Para desespero dos adoradores de Lula e Bolsonaro, os pré-candidatos Ciro e Moro aceitaram participar e já se reuniram separadamente com Luciano Bivar.
Era previsível que isso fosse acontecer. Aos poucos, Moro e Ciro foram se conscientizando de que estavam fazendo o jogo da polarização, porque a terceira via só tem chances se houver candidatura única. A existência de vários concorrentes de centro era ideal para fortalecer a polarização. E agora tudo mudou. De repente, passa a haver três candidaturas viáveis – Lula, Bolsonaro e a terceira via, não importa quem seja o candidato.
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P.S. – O que mais causa estranheza é o silêncio ensurdecedor da grande mídia impressa e digital, que faz olhar de paisagem e finge não perceber que a terceira via é altamente viável e vai atrair os votos da maioria silenciosa, formada pelos eleitores que repudiam tanto Lula quanto Bolsonaro. E assim la nave va, cada vez mais fellinianamente. (C.N.)