Publicado em 29 de março de 2022 por Tribuna da Internet
Marianna Holanda, Vinicius Sassine e Ricardo Della Coletta
Folha
O presidente Jair Bolsonaro (PL) quer aproveitar a reforma ministerial em abril para ampliar sua influência no comando do Exército em ano eleitoral, quando disputará a reeleição. Integrantes do governo dizem que uma promoção do general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, atual comandante do Exército, para o cargo de ministro da Defesa serve a dois propósitos: colocar à frente das três Forças um nome que agrade o Exército, que reúne o maior número das tropas, e, principalmente, acomodar à frente da Força terrestre alguém alinhado ao Palácio do Planalto.
É dado como certo que o general Marco Antônio Freire Gomes assumirá o comando do Exército. Hoje, ele é comandante de Operações Terrestres. O ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, já se filiou ao PL e deve disputar a campanha ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL), como seu vice.
NOVO COMANDANTE – A troca no comando está prevista para ocorrer de imediato Freire Gomes deve deixar o comando de Operações Terrestres nesta quarta-feira. No dia seguinte, ocorreria a troca de comandante do Exército, conforme os preparativos burocráticos em curso.
Nesta quinta-feira, 31 de março, completam-se 58 anos do golpe militar de 1964. Bolsonaro, no começo de seu mandato, determinou a comemoração da data, que foi rememorada em cerimônias nos quartéis. A troca de comandante poderá ser efetivada neste dia.
Apesar da movimentação interna, ainda não há uma confirmação oficial da troca do comando do Exército. Freire Gomes foi cotado para o posto no ano passado, quando da demissão do ex-ministro Fernando Azevedo da Defesa e dos comandantes das três forças. O presidente enxerga no general alguém mais próximo ao bolsonarismo.
CRITÉRIO DA ANTIGUIDADE – Naquele momento, março de 2021, foi colocada na mesa a questão da tradição por antiguidade, em que assume o posto o mais antigo na carreira. Oliveira preenchia esse critério, enquanto Freire Gomes ainda não estava nas primeiras posições da fila.
Aliados dizem que Bolsonaro se “encantou” com Freire Gomes durante a viagem à Rússia, em fevereiro. O general acompanhou a comitiva presidencial representando o atual comandante, que não pôde comparecer.
Ainda que o presidente possa acreditar que ampliará sua influência no Exército indicando Gomes, integrantes da Força disseram que o general é respeitado pelos colegas e não embarcaria em uma “aventura” em ano eleitoral, com contestação do resultado das urnas, por exemplo.
BOLSONARO INSISTE – Depois de ter reduzido as críticas às urnas eletrônicas após os atos de raiz golpista do 7 de Setembro, o presidente Bolsonaro voltou a questionar o sistema eleitoral nas últimas semanas.
O novo mantra do chefe do governo é argumentar que as Forças Armadas apresentaram ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) uma série de sugestões para supostamente prevenir o risco de fraude no sistema eleitoral.
“Dá para você fazer umas eleições limpas desde que acolhidas em comum acordo essas sugestões por parte das Forças Armadas. Não podemos disputar umas eleições sob o manto da desconfiança, isso é ruim para o Brasil”, declarou Bolsonaro, em entrevista na semana passada.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O problema de Bolsonaro é que o sonhado golpe para se manter no poder não depende dele, mas das Forças Armadas (leia-se: Alto Comando do Exército). O presidente pode mudar à vontade o ministro da Defesa e os comandantes das Forças Armadas, mas o cenário não se altera. Os generais de quatro estrelas já mostraram que não admitem golpe e vão cumprir estritamente a Constituição, conforme ficou claro no dia 8 de setembro, quando mandaram Bolsonaro procurar Michel Temer e pedir desculpas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo. O resto é apenas folclore, como diz Sebastião Nery. (C.N.)