A tensão que se vive entre os dois países do leste da Europa faz crescer o receio de um conflito. Moscovo já deixou claro que não quer evoluir para um confronto armando, mas o Governo ucraniano denunciou a existência de uma guerra híbrida contra o país.
Alguns especialistas em Relações Internacionais observam o conflito entre a Rússia e Ucrânia como uma guerra híbrida. De que se trata?
O conceito passa pela implementação de uma estratégia de confronto que não passa necessariamente por um conflito militar. O uso de "fake news", ataques informáticos ou espionagem é frequente, sendo que o principal objetivo é destabilizar um Governo internamente. Após uma primeira fase de influência e desestabilização, normalmente, observa-se a substituição de Governos.
Quais as ferramentas usadas pelos países que iniciam uma guerra híbrida?
O mecanismo de uma guerra híbrida é complexo, e geralmente, recorre a pesquisas que podem ceder informações sobre a população do país atacado. Por norma, estas pesquisas observam questões de cariz psicológico, sociológico e antropológico, podendo assim delinear um quadro caracterizador da sociedade em questão. Com base nestes dados, os agentes que impulsionam este tipo de guerra tornam-se capazes de prever situações. É, por exemplo, através de ataques informáticos que os países atacantes podem tentar ter acesso a informação relevante.
Por que razão a guerra híbrida é um mecanismo cada vez mais usado em momentos de crise?
As novas tecnologias são um fator que facilita as guerras híbridas. Por outro lado, este confronto caracteriza-se por ser mais assimétrico pois costuma ter outros atores envolvidos. Além disso, a questão torna-se mais complexa porque durante o decorrer do conflito não é fácil perceber quem ataca primeiro.
Quais são os países mais propensos a serem alvo deste tipo de confronto?
De uma maneira geral, os estados mais afetados por guerras híbridas são aqueles que ainda apresentam uma possibilidade de desenvolvimento, ou seja, ainda têm algumas carências políticas e económicas. Assim, estas "guerras não tradicionais" têm como objetivo evitar que os países emergentes realizem transações comerciais com a moeda própria, criem ligações bilaterais, declarem investimento no âmbito militar ou façam uso dos recursos naturais que têm ao seu dispor. Tudo isto com vista a inibir a atuação sua externa.
Este tipo de conflito já foi verificado em outras situações de tensão?
Sim. O que se está a passar na Rússia e na Ucrânia já aconteceu em outros contextos. Um exemplo disso ocorreu o ano passado e envolveu a Polónia, a Bielorrússia e Lituânia, altura em que o regime de Alexender Lukashenko foi acusado de fomentar a passagem ilegal de migrantes para os dois países vizinhos. O Governo lituano referiu que os refugiados estavam a ser usados como uma "arma política" para abalar os estados. Úrsula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, afirmou que a UE estava a enfrentar um "ataque híbrido cínico e perigoso".
Jornal de Notícias (PT)