Em vez de se unir, os candidatos de centro se multiplicam e se ‘autocristianizam’
Por Eliane Cantanhêde (foto)
A política brasileira, e não é a única, está tão bagunçada que criou a figura da “cristianização consentida” na eleição de 2022. O/a político/a assume a candidatura, faz discurso, viaja e dá entrevista, mas ninguém, nem ele e os comandantes do partido, levam a sério. É só para inglês ver e ganhar tempo.
O candidato “cristianizado” é aquele abandonado pelo próprio partido e pelos correligionários, uma alma penada. A expressão vem de 1950, quando o então PSD jogou fora Cristiano Machado e apoiou o favorito Getúlio Vargas, do PTB.
Machado foi “cristianizado”, mas os candidatos atuais se “autocristianizam”, oferecendo seus nomes e biografias a suas siglas, enquanto os caciques conversam, ou negociam, o apoio principalmente a Lula, do PT, e a Jair Bolsonaro, do PL.
Quem está sendo “cristianizado”, mas se rebela, é João Doria, do PSDB, que ganhou as prévias apertado, mas ganhou, e tenta evitar uma revoada tucana, sobretudo para Lula. Doria é guerreiro, mas os tucanos estão fazendo picadinho do PSDB – entre Lula, Bolsonaro, Sérgio Moro (Podemos), Simone Tebet (MDB) e até o voto nulo.
Se o partido de centro com mais densidade está assim, imagina o resto. Moro irá até o fim? Ciro Gomes não está sendo ainda “cristianizado”, mas patina, apesar do recall de três candidaturas presidenciais e de ter o melhor marqueteiro. Quantos pedetistas já buscam alternativas? Simone Tebet é muito elogiada, mas tem como se impor às raposas do MDB? Improvável, se o MDB de Alagoas, Piauí, Ceará, Paraíba, Maranhão e Rio Grande do Norte já está mais para lá do que para cá, ou seja, para Lula. E o do Sul e do Centro-oeste tem uma queda por Bolsonaro.
Rodrigo Pacheco foi lançado pelo PSD quando Gilberto Kassab já acertava nos bastidores o que admite agora em público: o apoio a Lula. Logo, se deixou “cristianizar”. E é para não ser um novo Cristiano Machado, ou um novo Pacheco, que Eduardo Leite (RS) até libera que trabalhem seu nome, mas sem compromisso.
Outros que se lançam, mas o eleitor nem sabe, são Alessandro Vieira, bom senador do Cidadania, Luiz Felipe d’avila, cientista político que entrou na vaga de João Amoêdo para ser “cristianizado” pelo Novo, André Janones, do Avante, e Aldo Rebelo, independente.
Sempre há candidato de mentirinha, mas em 2022 a polarização veio cedo demais e os partidos estão infiltrados pelo lulismo, pelo bolsonarismo ou por ambos. A “janela partidária”, de 3/3 a 1.º/4, será um teste. Ou os comandantes garantem uma retirada organizada ou haverá uma debandada: o estouro da boiada e dos próprios partidos.
O Estado de São Paulo