Publicado em 5 de agosto de 2021 por Tribuna da Internet
Acuado, Bolsonaro pensa que pode salvar o que resta de seu mandato
Pedro do Coutto
Manchete principal da edição de hoje, quinta-feira, da Folha de S.Paulo, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que poderá recorrer às armas fora da Constituição do país como forma de escapar do processo que lhe é movido pelo Supremo Tribunal Federal e como meio de tentar salvar o que resta de seu mandato em meio à tempestade política, cujo desfecho poderá, e a meu ver deverá, ocorrer hoje.
A reportagem é de Matheus Teixeira e Ricardo Della Coletta, colocando em destaque, portanto, de acordo com o próprio Bolsonaro, a perspectiva imediata de um golpe armado no país. O golpe não interessa nem ao Centrão, que de acordo com Merval Pereira, hoje no O Globo, tomou de assalto o governo do país. Entretanto, na minha opinião o golpe militar, bandeira do presidente da República, só pode incluir o fechamento ou o recesso do Congresso Nacional e tal hipótese não interessa, de fato, nem ao Centrão.
FIM DAS ELEIÇÕES – Seria o fim das eleições e o fim da presença do próprio Centrão no Poder Executivo, pois se o golpe prevê um desfecho contra a Carta Magna deixa evidente que Jair Bolsonaro deseja tornar-se imperador e como tal não precisa do apoio dos senadores e deputados.
Esta é contradição essencial que envolve o destino de um governo tem como a sua mais forte oposição a sua própria presença no poder, configurada nos atos tomados e nas palavras proferidas. Ele próprio, Bolsonaro, a meu ver, decretou sua queda. Pode ocorrer ainda hoje e se não ocorrer o Brasil mergulhará na longa noite de mais uma ditadura.
MANIFESTO – É preciso aguardar, entretanto, a reação militar ao pronunciamento de Bolsonaro que a cada dia mais se isola na Esplanada de Brasília. A sociedade organizada, entretanto, já reagiu à ameaça que veio no anoitecer de ontem. O Globo e a Folha de S.Paulo publicaram manifesto de empresários, juristas, professores, sociólogos e intelectuais defendendo as eleições de 2022 e assegurando a posse dos que forem eleitos.
É preciso lembrar que a eleição não será somente para a escolha do novo presidente da República, mas também para governadores de 27 estados, para o Senado, para a Câmara Federal e para as Assembleias Legislativas. Toda a classe política, portanto, tem interesse direto na sua realização e a política, mistura de ciência e arte, exprime as tendências humanas dentro de uma realidade em que não se confunde o desejo de algumas correntes com a perspectiva traçada no país.
SELIC – Para quem não conhece os números, a taxa Selic subiu um ponto, de acordo com reportagem de Larissa Garcia, Folha de S. Paulo de hoje, passando de 4,25% para 5,25% ao ano.
A taxa Selic incide sobre a dívida interna brasileira que se eleva a R$ 6 trilhões. Além desse reflexo, temos que considerar o seguinte: não tem cabimento o devedor propor ao credor pagar juros mais altos do que aquele que já vinha pagando. A proposta só pode ter como objetivo colocar mais papéis do Tesouro no mercado financeiro. Não há outra explicação lógica e verdadeira.