Vicente Limongi Netto
A linda, maravilhosa, limpa, encantadora, singela, modelar, intocável, bela e moderna Brasília foi saudada pelos deuses com um colossal e transbordante aguaceiro. Ficou submersa. Depois do porre pelos 59 anos de vida, veio a ressaca para os brasilienses. A exuberante, agradável, sorridente, iluminada, segura e feliz capital de todos os brasileiros não resistiu aos ferimentos.
Reviveu o caos de uma antiga, massacrante e perigosa tragédia anunciada. Mostrou a cruel realidade: uma Brasília com os mesmos e graves problemas de outras capitais.
DEBAIXO D’ÁGUA – O temporal não colocou freios. Afundou a esbelta e jovial BrasÍlia. Deixou chorando no céu, Juscelino Kubitschek,Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e outros amados pioneiros. As águas dos 59 anos de BrasÍlia invadiram prédios, garagens, lojas, bares, repartições, porões, restaurantes, salas de aulas, mansões, hospitais, prontos-socorros, centros esportivos, templos religiosos, ruas, avenidas, becos, passagens subterrâneas, tesourinhas, vielas, bancas de revistas, pontos de táxi, hotéis, cemitérios, delegacias e pensionatos.
Arrancou árvores, placas, telhas, casas e barracos. O asfalto ruim, virou lama. Atravancou a vida da população. Carros e motos boiando e levados pela força das águas. O brasiliense viu que aqui foi o contrário: depois da alegria e bonança pelos 59 anos, veio a impiedosa tempestade, a agonia, o lamento e o pranto.