Dora Kramer
O senador Eduardo Azeredo faz uma acusação gravíssima ao ministro Joaquim Barbosa, que relata o pedido de abertura de processo no qual é acusado pelo Ministério Público por lavagem de dinheiro e peculato – leia-se, “furto de coisa do Estado” – na campanha para reeleição ao governo de Minas em 1998. Azeredo diz que o ministro do Supremo Tribunal Federal simplesmente “plantou” no processo um recibo falso de R$ 4,5 milhões.
Um ato ousado que tanto pode significar desespero ante uma causa entendida como perdida como pode traduzir o destemor de um homem de bem, disposto a enfrentar o que for, até o risco de um processo por calúnia, para provar sua inocência.
Infelizmente para o senador, há mais verossimilhança na primeira que na segunda hipótese. E não apenas porque a existência do recibo consta realmente da peça de denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República, mas também pelo fato de o documento não ser uma prova determinante. Conforme alegou o ministro Joaquim Barbosa na leitura de seu voto, o recibo “reforça” os vários e “robustos” indícios de que Azeredo esteve à frente do esquema ilegal de arrecadação e distribuição de recursos para a campanha da reeleição. Mal sucedida, aliás.
A procuradoria relatou em detalhes os caminhos dos desvios de dinheiro de empresas públicas de Minas para a agência do notório Marcos Valério, o “carequinha” revelado ao Brasil pelo não menos notório Roberto Jefferson em 2005, e o ministro relator concluiu pela absoluta impossibilidade de o então governador candidato, Eduardo Azeredo, desconhecer os métodos de financiamento da campanha.
Ainda que desconhecesse – possibilidade altamente improvável, dado o grau de envolvimento dele em detalhes citados no inquérito –, a Lei Eleitoral, ponderou o ministro, determina que o responsável pelas finanças de uma campanha é o candidato.
E aqui é o outro ponto em que se apega Azeredo para lançar suspeição sobre o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal, numa atitude que muito o aproxima do presidente Luiz Inácio da Silva quando contrariado, personagem citado pelo senador ao reclamar isonomia de tratamento por parte do STF.
Eduardo Azeredo acha “muito estranho” que o Ministério Público o denuncie e o ministro relator seja favorável à abertura do processo porque o presidente Lula esteve em situação semelhante e nada aconteceu a ele.
“Acho estranho. Eu era governador, uma campanha descentralizada, com delegação de poderes, e o presidente Lula também concorreu em situação semelhante. Ele não recebeu nenhum inquérito a esse respeito”, disse Azeredo, numa argumentação para dizer o seguinte: se Lula pôde alegar à vontade que nada sabia e saiu ileso, ele, Azeredo, reivindica o mesmo direito.
Na condição de então presidente do PSDB, o senador Eduardo Azeredo deve se recordar de que em 2005 seu partido poderia ter tomado providências legais contra o presidente da República quando o publicitário Duda Mendonça confessou à CPI dos Correios que recebera pagamento por meio de caixa 2 para fazer a campanha presidencial em 2002.
Na ocasião, contudo, o PSDB decidiu que estava com a faca nas mãos. Desse modo, poderia dispensar o queijo. Resolveu deixar seus soldados na CPI falando sozinhos, pois achou que era melhor nada fazer – omitiu-se diante da suposição de um crime, portanto – porque o tempo e o desgaste se encarregariam de tirar Lula do jogo da reeleição.
Apenas por isso, porque ninguém quis processar o presidente é que ele pôde impunemente dizer que nada sabia. A situação, conforme alega Azeredo, é de fato semelhante. A diferença, entretanto, está na negligência moral e cívica de seu próprio partido. É ao PSDB, não ao Ministério Público nem ao Supremo, que Azeredo deve apresentar suas queixas.
Origem e destinos
Do que fala Caetano Veloso – que, aliás, será apontado como preconceituoso por isso – quando diz que Marina Silva não é “analfabeta” como o Lula? Fala sobre o esforço da senadora em se aprimorar e aproveitar as oportunidades dadas pela vida. Fala da recusa da senadora em fazer da adversidade de origem um proveitoso destino.
Fala de uma mulher nascida nos seringais da Amazônia, alfabetizada aos 14 anos de idade e que tem hoje na expressão do idioma de seu país um de seus melhores atributos. Marina não precisa da grosseria para se identificar com seu povo. Ao contrário: oferece-se a ele como prova de que o aperfeiçoamento – de palavras, pensamentos e comportamentos – vale a pena.
Marina não nivela o Brasil por baixo, mostra o valor do esforço e não celebra a indulgência.
Morreu de velho
Em matéria de eleição estadual, o tucanato não vai inventar moda em São Paulo. Descontado o imponderável, vai de Geraldo Alckmin.
Fonte: Gazeta do Povo
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